Tumblr: outrora um escape para uma geração
Não é bem assim. Sim, estamos em 2021 e há quem ainda use o Tumblr… como eu. Se utilizo tanto quanto outrora utilizei? Nem de perto, nem de longe. Se ainda lá vou de vez em quando atenuar a nostalgia, empatar o aborrecimento e reviver memórias? Podem crer que sim. Já não consigo ficar lá durante muito tempo, pois acabo por me fartar. Talvez por haver novas formas de entretenimento ou por já não me identificar tanto com o feed que me vai aparecendo.
Fui confirmar e criei a minha conta em maio de 2012. Sim, vai fazer 9 anos (estou velha). À época, utilizava bastante as redes sociais como um refúgio, um local para desabafar ou limpar a mente (#TeenDrama). Mas acabei por eliminar as minhas contas, como a do Ask.FM (credo) ou a do stan Twitter. Na altura pareceu-me o correto, também para evitar confusões futuras ou até vergonha alheia aka cringe. Hoje acho que gostaria de poder relembrar o que me ia na cabeça. Com o Tumblr foi diferente, pois nunca me desfiz dele, nem criei outra conta. Já passou muitas fases comigo.
Inicialmente, era uma conta ‘all over the place’. Com as piores lamechices e os GIFs mais berrantes e pirosos. Eventualmente, entrei numa fase mais dark e comecei a partilhar (ou reblogar, se usarmos a gíria da rede social) apenas publicações a preto e branco. Que dramática. Em 2014, talvez o pico desta plataforma, começaram a circular as fotos mais… Tumblr. Não há outra designação. Quem sabe sabe. E desde então tem sido uma adaptação ao estado de espírito e ao conteúdo apresentado. Quase 50 mil publicações depois, cá estamos.
E esta rede pouco mudou. A filosofia continua a mesma: likes, reblogs, temas. Quem não foi um aprendiz de HTML na sua pré-adolescência que atire a primeira pedra. Hoje em dia não saberia fazer isso, nem tão pouco teria paciência, mas pronto. Tinha de me entreter. E o meu Tumblr deixava-me muito orgulhosa. Embora não o tenha tornado público (isto é, divulgado que ele existia a quem me rodeava) durante algum tempo, era com a maior das satisfações que o mostrava. Não pela arrumação ou pelas fotografias que nem da minha autoria eram. Talvez por saber que estava a comunicar o que me ia na cabeça, de forma indireta.
Ao olhar para trás, sei que consigo identificar o que se estava a passar na minha vida consoante aquilo que partilhava. E convidar aqueles que me eram próximos a dar uma espreitadela era a minha forma de dizer “é isto que se passa comigo”. Claro que, entretanto, as publicações se tornaram mais vagas e aesthetic, descurando o cunho sentimental e, portanto, já não se aplica. Ainda assim, continuo a gostar bastante deste meu cantinho. Sinto que já ninguém o usa, mas isso não importa. Aliás, mesmo quando algum dos meus amigos criava conta, era uma questão de uns meses até se fartarem e virarem fantasmas. Não os censuro, porque é uma rede social propensa à monotonia.
Nela não competimos uns com os outros, não procuramos a aprovação de ninguém através de likes, não comparamos seguidores. Talvez por isso sempre tenha gostado muito do Tumblr. A meu ver, não era tóxico. Podia ser, obviamente, se não fosse utilizado da melhor forma, mas isso somos nós quem ditamos. E para mim era um escape. Permitia-me apenas o básico, ao contrário do Twitter, para onde ia escrever tudo e mais alguma coisa, sem filtros.
Nunca tive vontade de criar as minhas próprias fotografias. Gostava apenas de apreciar as dos outros. Acima de tudo, a minha parte favorita eram as quotes. Havia sempre uma quote que dizia exatamente aquilo que eu sentia e não conseguia expressar. Fascinava-me. Sentia-me compreendida, por mais estranho que isso fosse.
Acabei por perder a ligação forte, porque estas quotes tornaram-se superficiais e menos frequentes. E menos relatable. As circunstâncias de vida mudam, bem como o nosso estado de espírito e o modo como encaramos o dia a dia. Por estas razões, o meu feed já não me agrada tanto. Já não me consigo identificar com a maior parte das coisas por que passo enquanto faço scroll. Se vou lá duas vezes por mês é muito – e é quando estou de férias. Pela minha experiência, as madrugadas são a melhor altura para navegar nesta rede e, durante o período escolar, raramente tenho disponibilidade para abrir sequer a aplicação.
Não desgosto da app, mas prefiro utilizar o Tumblr pelo computador, onde consigo ver as imagens a uma escala maior e consigo (agradeçam-me depois por este truque que desconheci durante anos) reblogar com o atalho do “ALT”. Basta clicar na tecla e no rato e voilá. Sinceramente, não sei se ainda alguém vai achar isto útil, porque o Tumblr meio que virou alvo de chacota. “Tumblr? Isso é tão 2012!”. É justo. Só que no meu tempo (já disse que estou velha?) não havia cá TikTok’s ou Vine’s.
Onde estão as wannabe Tumblr girls? Na fase dos chockers, da moda dos copos do Starbucks, das saias pretas, das collants de todos os feitios, das camisas aos quadrados, dos óculos da Ray-Ban (ou da Rey Beri), dos All Star brancos, das californianas, da ‘Do I Wanna Know’ dos Arctic Monkeys, que, a dada altura, tocava em todos os tumblrs… desbloqueei alguma memória?
Fica o desabafo nostálgico de uma adulta, finalista de Licenciatura que ainda retorna ao passado numa tentativa de o reviver e que ainda faz login no Tumblr na esperança de fugir à realidade e de abrandar o tempo. Bem-vindxs a estes e a muitos outros dos meus pensamentos: https://welcome2mythoughts.tumblr.com/.
Artigo revisto por Inês Pinto
Todas as imagens foram cedidas por Mariana Coelho
AUTORIA
Depois de integrar a maioria das secções da revista, a Mariana ficou encarregue de incumbir esta paixão aos restantes membros. O gosto pela escrita esteve desde sempre presente no seu percurso e a licenciatura em Jornalismo veio exacerbar isso mesmo. Enquanto descobre aquilo que quer para o futuro, vai experimentando de tudo um pouco.