Desporto

De Heróis a Vilões

O desporto depara-se, neste momento, com uma das situações mais icónicas até agora vividas. A COVID-19, como sabemos, veio mudar completamente o mundo ao qual nos habituámos e tão pouco valorizávamos. Uma das maiores presas foi sem dúvida alguma o desporto. Esta mudança fez com que o mesmo perdesse grande parte da sua alma: os adeptos.

Atualmente, a maioria dos jogos por todo o mundo são realizados à porta fechada. Várias são as figuras de renome dentro do desporto que já vieram, inúmeras vezes, comentar esta triste situação publicamente. A falta de adeptos nas bancadas torna, indiscutivelmente, o desporto mais pobre.

JN

Mas não é esse o tema que vos quero trazer hoje. Venho antes falar de como os adeptos podem passar de «heróis» a «vilões», estragando o nosso tão estimado desporto.

Como temos conhecimento, o desporto é das atividades que certamente move um maior número de massas. Toda a sua história e tudo aquilo que o mesmo implica obriga exatamente esse fim.

Os adeptos, como referi anteriormente, são, sem sombra de dúvidas, a alma do desporto, por toda a beleza e paixão que acrescentam ao mesmo. Nos dias de hoje, é raro existir alguém que não seja adepto de algum clube, mas, como em tudo na vida, existem adeptos e adeptos e, como tal, não podemos de forma alguma generalizar e culpar uns pelas ações de outros. A verdade é que essa mesma beleza acaba, muitas vezes, por ser completamente destruída por ações movidas pela paixão dos adeptos. Uma paixão quase «exagerada» que leva a vários acontecimentos tristes de que já temos conhecimento:

O atropelamento de um membro da claque do Sporting após conflitos com a claque benfiquista em 2017;

Expresso

A invasão a Alcochete ocorrida em 2018, que resultou na vandalização e na própria agressão a jogadores;

Record

O apedrejamento ao autocarro do Benfica ocorrido em 2020, onde dois jogadores (Zivkovic e Weigl) foram brutalmente atingidos e necessitaram de tratamento hospitalar;

O Jogo

E, mais recentemente, Darwin e Everton (jogadores contratados pelo SL Benfica em 2020) viram-se obrigados a desativar as suas redes sociais, devido ao facto de serem brutalmente insultados e de receberem ameaças de morte.

Quanto ao primeiro ponto, coloco a seguinte questão: Será o ódio mais forte do que a paixão? Será tão difícil amar um clube sem odiar o rival? A rivalidade existe; é boa; faz-nos querer ser melhores que os opositores e isso leva a uma evolução constante para ambos os lados. Isso chama-se Rivalidade Saudável. As rivalidades que vejo muitas vezes no nosso país são tudo menos saudáveis, são tudo menos benéficas para o desporto – muito pelo contrário, são prejudiciais.

Querer pisar o outro para subir na vida é um erro que, infelizmente, é bastante comum na nossa sociedade. E é esse tipo de analogia que faço, é essa perceção que tenho ao acompanhar estas rivalidades. Quanto pior estiver o meu adversário melhor eu estou e isso vai contra a metodologia de evolução para os dois lados que a Rivalidade Saudável nos traz.

JN

Relativamente aos restantes pontos, coloco a seguinte questão: Será a violência a solução?

Os adeptos têm todo o direito de se sentirem frustrados com os maus resultados apresentados pelo seu clube; têm todo o direito de se sentirem frustrados ao verem um jogador a não dignificar o seu clube. Mas, e respondendo à questão que coloquei, a violência NUNCA será solução! Nunca iremos compreender o que se passa na cabeça de alguém que age dessa maneira, pois apenas eles sabem o que sentem. Porém, uma coisa sabemos: não está certo! Violência gera violência, ódio gera ódio e, se procurarmos emendar as situações utilizando essas duas opções, a única coisa que poderemos fazer no futuro será «colher aquilo que plantamos» e certamente não será algo belo.

Infelizmente, são vários os acontecimentos que marcam uma história negra no desporto, desde violência, mortes, discriminação, racismo… Várias situações que chegam a ser «bizarras». Se, por um lado, o desporto pode trazer o melhor de nós; por outro, pode também trazer a nossa pior face. Precisamos, urgentemente, de mudar esse aspeto. O desporto tem de ser a «festa» que tanto nos alegra e deixar de ser a «desgraça» que tanto nos envergonha. 

«I have a dream» de que, um dia, Portugal e o Mundo sejam locais onde o desporto seja sinónimo de alegria, beleza, cumplicidade e, acima de tudo, respeito. Que toda essa rivalidade sombria possa ser substituída por uma rivalidade 100% saudável, onde todos esses conflitos que outrora aconteceram sejam apenas «mito».

Oliveira Robert. Jusbrasil

Artigo revisto por Rita Asseiceiro

AUTORIA

Tiago, ao entrar na ESCS Magazine, descobriu uma nova versão de si mesmo: redator. Encontrou nesta área a liberdade e o à-vontade para falar de um tema que tanto o apaixona: o Desporto. Agora, como editor, procura proporcionar a mesma liberdade e satisfação a todos aqueles que se interessarem em embarcar neste barco.