Opinião

Urbi et obras: Ser Feliz no Samouco

Estão a aproximar-se as viagens de finalistas dos estudantes do secundário e, desta vez, decidi antecipar-me e falar já do assunto. Alguns finalistas, talvez possuídos pela origem da palavra finalista, não percebem que a viagem, supostamente, serve para celebrar o fim do secundário e não para os colocar à beira do próprio fim.

O conceito de gastar um balúrdio para ficar durante uma semana numa aldeia em Espanha a beber com o intuito de apenas tornar memorável algo de que não haverá memória é uma coisa que me fascina. Eu consigo imaginar perfeitamente isso a acontecer com grande sucesso em Portugal. Quão espectacular não seria para um alemão, um holandês, um espanhol ou um francês passar uma semana em discotecas de Trancoso, Vilar de Perdizes, Arraiolos ou do Samouco? Arraiolos, de resto, é uma boa terra para qualquer finalista ir ao tapete.

A forma como a maioria dos finalistas angaria dinheiro para conseguir cumprir o objectivo de fazer a viagem é outro ponto que me parece importante escrutinar. A maioria dos finalistas junta o dinheiro fazendo festas. No fundo, os meios e o fim são o mesmo.

Uma das coisas que eu condeno é a forma como as televisões fazem as reportagens. Normalmente, vemos os jovens a entrar para o autocarro, perguntam aos pais o que lhes disseram e se têm medo (curioso como todos os pais dizem que confiam nos filhos) e acabam sempre com os polícias a fazer a rusga e a dizer aquilo que detectaram. Eu gostava era de ver os momentos da chegada. Gostava que metessem o microfone à frente dos finalistas quando eles contam aos pais como foi a viagem. Gostava de os ouvir falar das grandiosas praias de Lloret del Mar, da oferta cultural de Benalmádena, da arquitectura de Calpe ou das actividades lúdicas de Benidorm (ou “Bebe e Dorme” como eu gosto de lhe chamar).

Nas reportagens, se repararem, é bastante comum ouvir os finalistas a dizer que aquela é a melhor semana da vida deles. Fica já aqui o aviso: isso depois não vai dar para retirar e um dia vão arrepender-se de ter aparecido na televisão a dizer isso. De resto, preparem as gentes do Samouco e siga a festa.

 

Ser feliz no Samouco - Francisco Mendes (corpo do artigo)

AUTORIA

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O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.