Cinema e Televisão

Us: Arrepiante até ao Osso

No dia 21 de março, fui ao cinema, à sessão das 21h50, a convite de um amigo. “Queres ir ver o ‘Nós’?”, perguntou ele. Aceitei, apenas sabendo que era um filme de terror, maioritariamente porque me apetecia comer um balde de pipocas doces. Atirei-me aos tigres, porque nem sequer me dei ao trabalho de ver o trailer. Mal sabia que ia sair da sala com menos respostas do que quando entrei.

O realizador do “Nós”, ou “Us”, como deve ser mais conhecido, é Jordan Peele. Caso não estejas a reconhecer o nome, é o realizador do Get Out, aquele filme que também é de terror/suspense, onde a estrela é Daniel Kaluuya. Se fores ver o cartaz do filme, reconhecê-lo de certeza.

O elenco é composto por Lupita Nyong’o, que já venceu o óscar de Melhor Atriz Secundária graças ao seu desempenho em 12 Years a Slave, em 2014. Em “Us”, interpreta Adelaide Wilson, a personagem principal. É casada com Gabe Wilson, retratado pelo ator Winston Duke. São pais de Jason (Evan Alex) e de Zora (Shahadi Wright Joseph). Toda a história gira em torno deste aglomerado familiar. Outra cara conhecida do filme é Elisabeth Moss, a protagonista de The Handmaid’s Tale. Eis, portanto, um elenco forte. Até os atores mais novos têm, a meu ver, um excelente desempenho. O realizador até pediu a Lupita que visse um total de dez filmes para que pudesse enquadrar-se melhor no universo do terror. Deixo aqui a lista: A Tale of Two Sisters, Dead Again, Funny Games, It Follows, Martyrs, Let the Right One In, The Babadook, The Birds, The Sixth Sense e, por último, mas talvez o mais conhecido, The Shining.

A história é baseada no trauma que Adelaide sofreu quando era mais nova: numa feira popular, afastou-se dos pais para ir explorar e acabou por entrar numa sala de espelhos. Qual não foi o seu espanto quando encontra uma rapariga idêntica a ela. Teve a certeza de que não era efeito dos espelhos e nunca mais esqueceu esse episódio, desenvolvendo pânico pela sua doppelganger, sempre com medo de voltar a encontrá-la. Acabou por ficar com uma casa perto da praia onde isso sucedeu e, por vontade da sua família, teve de lá voltar, o que foi bastante traumático. Aqui é que a porca torce o rabo: a gémea aparece à porta da sua casa e não estava sozinha. Todos os membros da família tinham doppelgangers: o pai, a mãe, a filha e o filho. Ou seja, todos os atores faziam dois papéis diferentes. É preciso ter versatilidade para este feito!

Uma imagem com pessoa, interior, chão, parede

Descrição gerada automaticamente
Fonte: The Stranger

Estas pessoas idênticas são as sombras dos protagonistas. São o seu lado maligno. Aliás, o nosso lado maligno, que escolhemos não relevar aos outros. Desta vez, conseguiram soltar-se e vêm à procura de justiça, da vida que nunca conseguiram experienciar, por serem obrigados a estar escondidos. É uma associação inteligente, super bem pensada, de génio, mesmo. Não há nada que eu possa escrever que decifre o mind-blown que este filme provoca.

Não me interpretem mal: quando digo que é um filme de terror, não é por conter jump-scares. É terror psicológico, daquele tipo que estabelece um silêncio ensurdecedor em toda a sala de cinema, do tipo de fazer com que os espetadores (incluindo eu) parem de comer as suas pipocas. E, acreditem, é preciso muito para eu parar de comer as minhas.

É um filme arrepiante, que causa um desconforto inexplicável. Faz-nos suster a nossa respiração até termos algum género de resposta. São 116 minutos de dúvida, de medo, de estarmos colados às cadeiras, imóveis, com a cabeça a mil.

O momento mais marcante é mesmo o final. Pessoalmente, aprecio bastante filmes com plot twist e este caso é um dos que nos deixa a questionar tudo o que se passou no resto do filme. Saí da sala a querer ir pesquisar teorias e explicações para o que possa ter acontecido, boquiaberta, tal como o meu amigo. Não conseguíamos parar de falar nisso, porque não percebíamos como é que tudo se tinha desenrolado daquela forma. A típica crise existencial pós-filme.

Apesar de estar satisfeita com a minha decisão (aleatória) de não ter visto o trailer, deixo-o aqui, para o caso de quererem ter uma ideia de como é o filme Us: https://www.youtube.com/watch?v=hNCmb-4oXJA Não se preocupem, vão conseguir dormir descansados na mesma (isto dito por mim, que sou uma medricas). Se não conseguirem, deve-se à inquietação que vos assombrará por não estarem à espera daquele final!

Fonte “thumbnail”: Cartaz Cinemas NOS

Artigo revisto por: Catarina Gramaço

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