Editorias, Opinião

Nostalgia

Último ano. Pensei seriamente sobre o tema do meu primeiro artigo deste ano e, egoisticamente, escolhi falar sobre algo que me diz muito e acredito dizer também a todos os escsianos ou quaisquer outros estudantes universitários. Último ano. Sim, meus caros colegas, camaradas ou qualquer que seja a vossa designação favorita, não há como escapar à infeliz e, no entanto, tão satisfatória conclusão de mais uma etapa na nossa vida. E só mais tarde irão ter uma real e contundente consciência do facto; é o verdadeiro fim da vossa inocência, é aquele momento em que deixam de realmente ter todas as escolhas e escolhem essa uma de milhares antes antecipadas e saborosamente planeadas, em que os sonhos de ontem se tornam o dia a dia de hoje e a certeza do amanhã.
Para quem viveu a vida na faculdade com uma intensidade superior, que se imiscuiu em toda a sua extensão e profundidade, encontrou irmandades nas praxes e pais e mães nos núcleos, que teve conselheiros nos professores e encontrou conforto nas disciplinas, então saberá melhor do que ninguém o sentimento inevitável de perda com o qual me defronto. Esta época acaba por morrer inevitavelmente em detrimento da que vem a seguir, em que se fala de carreiras (mesmo que cada vez menos), quais caminhos delineados e quase obrigados a perseguir para encontrar alguma realização pessoal ou o quer que cada um procure em si, retirando significados, numa tentativa quase desesperada de insuflar este espaço no coração, que parece estar sempre ligeiramente insatisfeito. É, pois, a nossa tarefa, quais construtores civis, encontrar a matéria que melhor se coadune com a nossa estrutura e impedir que rua um dia destes. Para quem sente esta dor, então sinta também uma profunda felicidade pois viveu, sentiu, e, mais importante, fez sentir.
É também evidente que haverá muitas perdas, quer humanas, quer intelectuais, irmãos que passam involuntariamente a apenas amigos de circunstância, encontrados a meio da rua num domingo com as suas famílias, em que se riem com nostalgia desses tempos que não voltam, mas ficam guardados com tanta força (infelizmente agarramo-nos mais à memória dos acontecimentos do que às pessoas com quem os passamos). Ficam então esmagados no cantinho do “armário” pelas faturas por pagar ou o cliente que se tem de agarrar para aquelas férias de sonho que vais passar agarrado ao telemóvel exatamente para não perder esse valioso ativo, enquanto a tua criança brinca sozinha nas praias paradisíacas e só deseja estar a brincar em casa com o seu pai.
Apesar de tudo o que se perde, algo fica, e é isso que quero deixar ponto assente; depois de tudo o que se vai, matérias das quais nunca mais vais ouvir falar, das pessoas que só saberás infelizmente aquando da sua morte, haverá um rasto mental que ficará sempre marcado em ti. Uma cicatriz interna que te fará lembrar os momentos inesquecíveis que passaste, a simplicidade e pureza desses tempos agora longínquos, em que o mundo era um lugar cheio de possibilidades, e, como todos os jovens, tu eras inexoravelmente o centro desse mundo.

Último ano. Por tudo isto e muito mais, quando chegar a penosa hora de dizer adeus, além das inevitáveis lágrimas que vão estar presentes, carrega também em ti um sorriso aberto, um sorriso total que abarca tudo o que sentiste neste tempo, capaz de albergar todas as piadas, os silêncios concentrados do trabalho e as cervejas partilhadas e brindadas. Carrega tudo isso e muito mais, sorri com a boca e com os olhos, com as orelhas se fores capaz. Chora e sorri, sorri e chora, pois essa é a essência da faculdade, e, eventualmente, a essência da vida.

Último ano. E que venham muitos mais.