Opinião

3,2,1… Feliz Ano Novo!

O Ano Novo é uma daquelas celebrações que me agastam por causa de algumas coisas que eu não consigo compreender, apesar de eu achar imensa piada às gigantescas sequências de peças de dominó a cair umas atrás das outras na China.

Uma das coisas que eu não consigo compreender, e que até me fere os ouvidos e a alma, é ouvir pessoas a dizer “passar a Passagem de Ano”. Para mim, isto é motivo para cancelar a festividade e ficar preso em 2014 para sempre. Passem o Natal, passem a Páscoa, passem o Dia da Espiga, mas celebrem (apenas) a Passagem de Ano.

Outra coisa que não compreendo, mas à qual acho imensa piada, para fins humorísticos, é ouvir ou ler a palavra Réveillon. Para mim, chamar Réveillon é entrar por caminhos pantanosos. Não é que esteja errado, mas depois exige-se que haja coerência: quem celebra o Réveillon também celebra o Entrudo; não há cá Carnaval para ninguém. Por outro lado, num Réveillon não há espumante – só champanhe. Por fim, um Réveillon não pode acontecer em qualquer lado. Não há Réveillon na Brandoa; há Réveillon na marina de Vilamoura. Não há Réveillon nas margens do rio Trancão; há Réveillon nas margens do Sena. Agora digam-me: vale mesmo a pena ter este trabalho todo só para chamar Réveillon a uma coisa a que alguns até chamam “PDA”?

Aquilo que mais me custa a engolir na Passagem de Ano é o facto de a tradição portuguesa envolver comer passas. Conheço poucas pessoas a gostar de passas (se calhar, a falha é minha). Eu confesso que como uvas, embora entenda a razão de serem passas: como as pessoas não gostam, franzem a cara toda enquanto pedem os desejos para o ano seguinte, o que, de certa forma, é o que acontece com Portugal. Podemos ter desejos, mas temos que os pedir sempre com cara de sofrimento, não vá estar alguma instituição internacional a ver e depois isso tenha impacto negativo nos mercados.

Confesso que nos minutos que antecedem a meia-noite de dia 1 de Janeiro sinto sempre um nervoso miudinho. E é isso que verdadeiramente me incomoda na Passagem de Ano: é a única altura do ano em que me apercebo de que o tempo passa e não volta atrás. Façamos o que fizermos. No Ano Novo, ali estamos nós à espera de que o tempo passe e, para mim, na vida não há tempo mais mal passado do que aquele que é passado a passar tempo. Ainda assim, venha de lá essa contagem decrescente: 3,2,1… Feliz Ano Novo a todos!

 

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AUTORIA

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O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.