Serena: uma sentença subestimada?
Novembro chegou e é-nos, finalmente, dada a possibilidade de perceber qual a razão que fez adiar um filme tão promissor como Serena. Rejeitado pelas distribuidoras, o filme que junta, pela terceira vez na grande tela, Jennifer Lawrence e Bradley Cooper ficou em stand-by numa gaveta durante dois anos.
Baseado no romance do poeta americano Ron Rash, o filme é dirigido por Susanne Bier, a dinamarquesa vencedora do Óscar de melhor filme em língua estrangeira com a película Num mundo melhor.
Cooper interpreta George Pemberton, um jovem empresário, director de uma empresa madeireira no limiar da precariedade, com uma veia romântica irresponsável. Num momento de fraqueza Pemberton apaixona-se por Serena (Lawrence), uma mulher incrivelmente bela e orgulhosa proveniente de uma família pobre. Impelido e cego pela paixão, George propõe a Pemberton que se casem e comunica aos seus empregados que Serena deverá ser tratada com o mesmo respeito e mordomias que ele. Impetuosa, confiante e com determinação suficiente para assumir as rédeas da empresa, Serena melhora, habilmente, as condições financeiras através da sua capacidade de liderança e exploração da terra e da madeira. Por algum tempo, Serena consegue dominar o marido e estimulá-lo para conquistas maiores apesar dos esquemas cruéis que influencia a engendrar contra todos aqueles que se atravessam no seu caminho.
A tragédia chega quando Serena sofre um aborto e descobre que não pode ter mais filhos. Esta recente descoberta faz com que a personagem não consiga aceitar a ideia da existência de um filho ilegítimo concebido por Pemberton numa relação anterior.
A história, situada nas montanhas da Carolina do Norte, na década de 1930, em plena era da depressão económica, consegue ilustrar perfeitamente a fronteira ténue que se desenvolveu entre o crime e o capitalismo na altura.
Tendo tudo para concorrer ao nível dos melhores filmes do ano, qual será a razão por trás da desvalorização do seu potencial? Esta é a dúvida que se arrastou por dois anos e pela qual muita tinta já foi gasta. Segundo fontes da revista Americana The Hollywood Reporter, o filme peca pelo excesso de edição e montagem. Cortes inoportunos colocaram em risco o sentido da história e o próprio desempenho do par de Hollywood. O artigo refere-se ainda especificamente à actuação de Jennifer Lawrence, que não interpreta convictamente o momento em que enlouquece ao descobrir a existência do filho ilegítimo. No entanto, não se pode deixar de referir que este é, indiscutivelmente, o papel mais adulto e ambicioso (no seu registo) que Lawrence já teve em mãos.
A distribuição do filme acabou por ficar a cargo da Magnolia Pictures e a primeira exibição de Serena aconteceu a 13 de Outubro durante o Festival de Cinema de Londres, Inglaterra. Com estreia marcada para o dia 20 de Novembro nos cinemas portugueses, resta apenas saber se as paisagens arrebatadores implícitas naquele clima épico sombrio, os trajes pensados ao pormenor e todo aquele espectáculo emocional de obsessão erótica transcende o valor que antes lhe foi negado.
AUTORIA
Estudante na Escola Superior de Comunicação Social, optou pela vertente Audiovisual e Multimédia. Porque comunicar não se rege apenas de meios, mas sim de paixões e sem querer colocar a escrita de lado, fundou "The Brunette Lingerie", um blog de convicção íntima e um pouco de senso (às vezes). Hoje, faz da escrita um desafio diário, mas acima disso fá-lo porque gosta e porque a vontade de se expressar não se esgota.