Opinião

Pêras e Abacates – Cura do ébola: Legionella

Graças a Deus que apareceu a legionella! Sem ela, todos teríamos morrido com ébola. É algo forte e insensível de se dizer, mas a verdade é que foi o que aconteceu. A comunicação social – seja rádio, televisão, jornais ou revistas – tem um poder enorme nas nossas vidas, mesmo que queiramos acreditar no contrário (eu bem tento). É quem gere e modera os assuntos que estão na ordem do dia e os torna mais ou menos importantes e mediáticos. Por vezes, deviam ter mais consciência.

O surto de ébola deste ano, que começou na Guiné, não alarmou Portugal (falo de alarme dentro do país, no que toca a relações entre habitantes, etc) até a comunicação social pegar no assunto. Sem dúvida que a prevenção é importantíssima. Nesse aspecto, a comunicação social é fundamental porque faz chegar a todos as medidas e comportamentos de prevenção a efectuar. Mas daí até estarem constantemente a bater na mesma tecla… Parecia que o ébola estava a entrar em Portugal e a infectar tudo o que encontrava. Não era, de todo, o caso. Uma coisa é alertar para a prevenção; outra é instaurar o “pânico”.

Existem teorias que acusam a comunicação social de controlar a população através do medo, ensimesmando as pessoas que, com receio daquilo que as pode atingir, deixam outras preocupações de lado (o caso ébola/legionella podia estar acompanhado de uma análise a todos os telejornais que dão tanta importância a um esfaqueamento anónimo como a um caso de corrupção no governo, mas, infelizmente, não temos tempo para tudo).

Não sou apologista destas teorias, mas vejo nas mesmas uma ponta de verdade. Independentemente da necessidade de alertar, a função de não alienar é, muitas vezes, mais importante. Digo isto porque, enquanto Portugal está preocupado com todas as falsas suspeitas de um vírus, enquanto se ocupam os telejornais com análises de todos os espirros de cada um e com casos de ébola nos E.U.A (algo, para nós, totalmente irrelevante – motivo, aliás, para uma crónica futura), Portugal “adormece” e tudo o resto é, por vezes, esquecido. O caso da legionella é diferente, porque nos afectou directamente e (apesar do exagero) mereceu a atenção que recebeu. Agora, quando se vê que a mesma doença que causa vítimas mortais em Portugal recebe quase a mesma atenção que um vírus que nunca passou de falsas suspeitas, algo está errado. A ameaça do ébola em Portugal era tanta ou tão pouca que, mal apareceu a legionella, foi praticamente esquecida. Ora, se fosse de facto uma ameaça, não teria sido atirada para o lixo. Com isto, na minha opinião, a comunicação social perde também credibilidade. Credibilidade essa que deve ser ponto assente em qualquer meio de comunicação, não vá um dia a verdade verdadeira (passo o pleonasmo) ser menosprezada por todos nós.

Isto leva-me a questionar: mas será que tem de existir algo que assuste a população? Não teremos já problemas suficientes sem nos lançarem constantemente outros, de certa forma, fictícios? A função dos meios de comunicação que se propõem a informar é, de facto, informar, mas parece que, hoje em dia, mesmo com todo o acesso instantâneo a informações reais que existe, qualquer gota de água dá para transformar numa tempestade.

 

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