When Orange is the new Black
Passou quase um mês desde que acordámos num mundo que já a partir de Janeiro terá no comando um homem cujas capacidades para exercer o cargo de presidente da actual maior potência mundial são bastante duvidosas. E nem é necessário que se tenham ouvido os discursos que Donald Trump fez durante a sua campanha ou assistido aos debates em que enfrentou Hillary Clinton para se perceber isso. Basta prestar atenção à exótica tonalidade alaranjada da pele do republicano. Isto porque, para alguém incapaz de manusear correctamente uma lata de spray auto-bronzeador, deve ser difícil o correcto manejo das leis e dos acordos de um país com a dimensão e o peso mundial dos Estados Unidos.
Talvez se os norte-americanos tivessem atentado nesta característica muito particular de Trump o 45º. lugar na presidência dos EUA não lhe pertencesse neste momento… Ou, pensando bem, talvez pertencesse ainda assim. Mas não porque o seu eleitorado tenha uma baixa formação académica – nem é possível pensar tal coisa de um grupo de pessoas capazes de fazer trocadilhos tão inteligentes e de tão bom gosto como “Hillary sucks, but not like Monica” ou “Trump that bitch!”*.
O lugar na presidência norte-americana foi dado a Donald Trump porque, ao grupo de eleitores com maior peso nestas eleições, a falta de competência para a papelada de um país – que bem se pode prever com base na esperteza do empresário em evitar a papelada dos impostos – não é coisa que assuste e parece claramente irrelevante numa equação em que a maior figura da oposição não era assim tão forte.
Mas desengane-se quem pensa que aquilo que enfraqueceu Hillary Clinton como opositora foi a mancha de corrupção no seu currículo político ou no de Bill Clinton. A corrupção nunca enfraqueceu a imagem de político nenhum. Até muito pelo contrário. É do senso comum que político que é político tem de dar uma perninha na área da corrupção. A isso já todos nós estamos habituados e até desconfiamos de figuras políticas cujo nome não esteja ligado a práticas deste género. O que reduziu as chances da senhora Clinton de regressar à Casa Branca foi precisamente o facto de ser mulher. Pertencesse Hillary ao sexo masculino e a sua apetência para o cargo de presidente seria sem dúvida alguma logo muito maior. Afinal, mesmo no que diz respeito à criação de pequenas e de grandes guerras, os homens no poder já têm um longo historial de provas de competência dadas.
Portanto, se para os eleitores republicanos o recente panorama dos conflitos mundiais estava a ficar demasiado aborrecido apenas com os ataques do DAESH e com a crise Síria, nada melhor para agitá-lo do que a eleição de um presidente que quer construir um muro entre os EUA e o México para dificultar a imigração. Pelo menos criam-se as condições para se dar uns tirozinhos com as armas que tanto se prezam… e daqui por algum tempo, repetindo-se o que sucedeu em 1918 e em 1945, a América tornar-se-á, como prometido, grande novamente.
*Os trocadilhos que são referidos nesta passagem encontram-se na entrevista feita do minuto 2:47 ao minuto 3:18 do vídeo do seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=Y4Zdx97A63s*
A Joana Costa escreve ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico