Pelo Outro é que Vamos
O meu carro parado em frente ao mar de Carcavelos. Uma infusão de laranja e jasmim na base para copos. Pelo Sonho é que Vamos de Sebastião da Gama de um lado. Os meus blocos e o meu lápis do outro. Eu, como se distanciada deste ambiente que me envolve, observo o mar agitado numa destas noites frias. Este mar que me alegra e entristece.
Alegra-me por ver nele não só um conjunto de moléculas de água salgada agitadas em constante movimento, como se dependessem da agitação para viver, mas também por ver no profundo azul, quase negro, uma metáfora com a vida: um mar imenso de sonhos e oportunidades no qual quero mergulhar e agarrar tantas ondas quanto possível.
Entristece-me por me relembrar de que nem todos têm uma chance para fazer o mesmo. Não por falta de meios, não por falta de oportunidade, mas por falta de vontade. Essa é a verdadeira tristeza.
Vejo as pessoas cada vez mais como sendo cópias umas das outras. A maneira como se vestem, como se penteiam, como andam, como falam… Parece que foram programadas tais robôs ou manipuladas como pequenas marionetas por um ser sem rosto, superior a todos nós.
Pessoas únicas e extraordinárias atiram as suas identidades ao mar, abdicando das suas características mais peculiares para se integrarem num determinado grupo cheio de gente que deitou igualmente a sua individualidade ao mar. Pergunto-me qual a motivação destas pessoas. Pessoas que desligam os seus cérebros em prol de algo que foi determinado por alguém como sendo o modelo correcto a seguir.
Revolta-me ver pessoas sem opinião própria, que falam em versos feitos e frases instantâneas. Poderíamos ter um mundo tão mais rico, intelectual e culturalmente, se as pessoas olhassem menos para o outro e mais para si. Se as pessoas despissem as roupas da aceitação social e da superficialidade e mergulhassem neste mar de sonhos que vejo à minha frente e recuperassem as identidades outrora atiradas sem olhar para trás.
A realização humana surge com a concretização dos nossos sonhos e objectivos. Por muito que tentemos escondê-la bem no fundo do mar, onde ninguém consegue chegar, a nossa verdadeira identidade virá sempre à superfície novamente e empurrá-la para o fundo novamente apenas adia o inevitável. Ser infeliz a que custo? Aceitação? Valerá mesmo a pena?