James Wan: O melhor do pior
Assim como Christopher Nolan é a cara do suspense psicológico, James Wan é a face do terror de hoje em dia. As suas obras cinematográficas revolucionaram um género anteriormente julgado como morto no mundo contemporâneo. Nascido no dia 27 de Fevereiro de 1977, Wan é um diretor de cinema de nacionalidade malaia. Através da sua arte, conseguiu silenciar a ideia de que o terror mais assustador já tinha sido apresentado ao público.
No meio de tantas histórias sanguíneas sem substância do século XXI, The Conjuring (2013), conhecido em português como Invocação do Mal, destacou-se. O seu filme acompanha Ed e Lorraine Warren, um casal de investigadores paranormais, na visita à família Perron, que mora na cidade isolada Harrisville.
A obra-prima de James Wan conquistou o coração dos cinéfilos por ser um conto inspirado em factos reais. Embora muitos não se tenham apercebido da referência a um dos grandes clássicos do terror, The Haunted (1991), a obra recebeu críticas essencialmente positivas.
Assim, o talento de James Wan não é um segredo. Desde a apresentação dos cenários sinistros à complexidade psicológica das personagens, a trama gera, até no espetador mais sensível, uma curiosidade pelo obscuro e pelo oculto. Esse interesse desenvolve-se numa apreciação de um género de cinema que nos proporciona um certo conforto. De facto, experienciamos o terror na tranquilidade do nosso confim seguro. Logo, apreciamo-lo porque sabemos que não é real.
Porém, a dúvida nasce quando um par de olhos ardentes emerge da escuridão, uma porta fecha-se e arrepios surgem. O espetador observa a casa mal-assombrada de um ponto de vista externo, mas a paz interior é afetada. Assim, James Wan cumpre o seu objetivo.
Desde Dead Silence (2007) até Annabelle Comes Home (2019), o prodígio do terror evoluiu, sendo atualmente um cineasta bem sucedido. No entanto, a sua contribuição no género cinematográfico mais intimidante não será esquecida.
Os mecanismos geradores de medo em que Wan se baseia são clichês do terror. De facto, o guionista adapta os básicos do género, extraindo-os de filmes antigos e proporciona-lhes uma dimensão inovadora. O chão a ranger, o aparecimento de vultos e os sons atormentadores são elementos que ele aperfeiçoa a seu jeito. Um exemplo mais específico é a levitação cada vez mais realista em The Conjuring. Sem dúvida, o clássico resulta sempre.
O museu do casal Warren é outro recurso engenhoso que intensifica a credibilidade do mundo sobrenatural. Por outro lado, o amor entre eles é percetível. Quando Lorraine está em perigo durante o exorcismo, Ed fica desesperado. A emoção absorve-nos, o medo domina e a situação torna-se mais assustadora, devido à empatia que por eles desenvolvemos. É esse envolvimento emocional que torna a sequela, The Conjuring 2, numa obra-prima.
Nesse filme, salienta-se um momento genuíno e nada temeroso. Os Warren cantam uma música romântica de Elvis Presley com a família Hodgson, de forma a pacificá-la durante a investigação do caso que ficou conhecido como Poltergeist de Enfield.
Sendo inspirados na literatura gótica, que explora o mundo do imaginário sobrenatural, os filmes de terror geralmente não apresentam momentos tão sinceros. Todavia, em duas horas, James Wan harmoniza perfeitamente o horror e a humanidade.
The Conjuring é, em termos gerais, um filme semelhante a Insidious (2010). Apesar disso, críticos consideram-no um clássico do terror moderno. O facto de não haver mortes no filme é uma surpresa para o espetador. Contudo, mostra o quão horripilante uma história pode ser sem ter a necessidade de explorar o destino fatal de uma personagem.
Além disso, vários analistas associam o sucesso do filme à famosa personagem demoníaca da freira. Valak é dos seres fictícios mais assustadores, aparecendo sempre inesperadamente. É interpretada por Taissa Farmiga, irmã de Vera, como uma freira que tem uma visão misteriosa.
Em 1952, a freira é chamada para um mosteiro arrepiante na Roménia. The Nun (2018) é o quinto filme do universo Invocação do Mal e o filme mais bem-sucedido da saga a nível de bilheteria internacional.
Antes do seu próprio filme, Valak teve uma participação especial em Annabelle: Creation (2017). Encontra-se uma freira simpática que acompanha os órfãos, no fundo de uma fotografia da irmã Charlotte, tirada no mosteiro romeno.
A ligação subtil e, todavia, marcante entre os filmes da franquia de terror e os seus símbolos seduziu os entusiastas do terror. Desse modo, Wan proporcionou à categoria um novo fôlego e aumentou as expetativas do público em relação à sequela The Conjuring 3: The Devil Made Me Do It cujo lançamento está agendado para junho de 2021.
Em 1981, um homem julgado de assassinato alegou, pela primeira vez na história do Direito dos Estados Unidos, que estava possuído por um demónio. O terceiro filme irá adaptar essa narrativa inimaginável para a tela grande.
“Eu realmente queria que Invocação do Mal 3 fugisse da configuração da casa mal-assombrada dos dois primeiros filmes.”, declara o roteirista no mini-documentário que mostra os bastidores do filme. “Deve ser, em nível totalmente diferente, algo que nunca explorámos antes no universo The Conjuring.”
Indubitavelmente, a saga de terror continuará a ser o assunto do momento, proporcionando uma segunda vida aos casos de assombração mais sensacionais do passado. O regresso do casal Warren promete uma miríade de sustos memoráveis, graças ao amor que James Wan integra no terror.
Artigo redigido por Marília Lúcia
Artigo corrigido por Ana Janeiro
AUTORIA
Aspirante a jornalista, nasceu no coração da Europa e foi laureada com o diploma do European Baccalaureate. O amor pela escrita está sempre presente na sua vida, sob a forma de diários de viagem e artigos de opinião. Sonha em ser redatora, vive da curiosidade e da criatividade. Desde nova, dedica-se a experiências que abrem os horizontes do seu mundo pessoal e profissional.