Pouco vejo. Meros pontos brilhantes piscam à minha frente, de forma pouco coordenada. Apenas a colorida melodia das ondas do mar pinta a paisagem. Lembro-me de ouvir alguém dizer que de dia tudo nos é mais encantador. Não podia discordar mais… É aqui e agora que aprecio a beleza deste local de cujo nome não me recordo. A ausência de luz desperta-me a imaginação. É na escuridão que desenho a vida; a vida e a morte. Geralmente, o escuro é associado à morte – ao eterno nada que a cor negra representa. A verdade é que, ao contrário de quase toda a população humana, é na noite cerrada que encontro a beleza paisagística. Porquê? Nem eu sei. Os velhos do Restelo que perdoem esta minha interpretação descabida, mas eu não quero procurar uma resposta. Nunca quis. Eu acho que, se o fizer, a noite perderá todo o carácter místico que me fascina. Qual é o prazer de achar a verdade absoluta das coisas? Satisfazer os caprichos de quem procura?! Há quem seja dia. Eu sou noite.

Fonte da capa: Blog spot

Artigo revisto por Andreia Custódio