5Starz: a surpreendente tragicomédia da RTP
O final do ano de 2021 marcou uma era no que diz respeito às narrativas criadas em Portugal. A razão desta afirmação prende-se com a estreia de 5 Starz – a desconcertante, trágica e hilariante minissérie da RTP Lab, produzida pela Promenade e realizada por Justin Amorim. Ao longo deste artigo, verão adjetivos que podem parecer contraditórios, mas que se complementam e que caracterizam verdadeiramente esta série, disponível na RTP Play.
Esta minissérie, sobre cinco jovens adultos, estafetas e que moram juntos, trata-se de uma obra representativa da realidade atual, onde as gerações mais novas têm dificuldade em conseguir bons empregos. Além dos trabalhos precários, são abordados temas como as redes sociais, o amor, a sexualidade, as relações tóxicas, as drogas e a forma como a infância influencia a personalidade das pessoas enquanto adultas. Tudo isto elevado a uma escala dramática acima da média, se é que existe uma escala para as quantificar.
Dito isto, é necessário que se tenha uma mente aberta para visualizar cada detalhe da narrativa, e ir sem expectativas: não pensar que esta vai ser a melhor série de sempre, nem que será a pior. É, sobretudo, diferente e única, pelo menos no panorama nacional. Com um elenco jovem e pouco habituado a estas andanças (com a exceção da participação de Joana Ribeiro), aborda também a pressão que os outros nos colocam e as expectativas que estes têm em relação a nós. Problemas sérios e reais tratados de uma forma trágica e, simultaneamente, cómica.
Cada episódio é dedicado a um dos cinco amigos (exceto o último) e todos contêm introduções poéticas, que vão ao encontro da personalidade de cada personagem, sendo narradas pela mesma. Os clichês não fogem à sátira: existem piadas sobre o horóscopo, bem como sobre tendências modernas, como o ASMR. Muitas vezes acabam por “tocar na ferida”, por exemplo: em nenhum dos casos os pais gostam dos filhos. O excesso e a falta de autoestima também são abordados de uma forma muito interessante, no sentido em que, a nível do guião, o subtexto (aquilo que não é dito em palavras) é muito rico em pormenores.
Trata-se de uma das séries mais originais que vi, pela sua naturalidade e, ao mesmo tempo, pela fuga ao normal, que leva a falas icónicas como: “sou uma adolescente, é suposto estar chateada”. Aconselho vivamente, e repito: mente aberta e partir sem esperanças – porque apenas assim nos podemos surpreender.
Fonte da capa: NiT
Artigo revisto por Beatriz Neves
AUTORIA
Juntou-se à secção de Música na ESCS Magazine para poder escrever sobre os sons que tanto o arrepiam. Traz uma visão ampla sobre a nova escola do “hip-hop tuga underground” - o estilo que se propõe a acompanhar com maior regularidade. Procura distanciar-se dos artistas mais comerciais e focar-se em nomes menos sonantes, que merecem o devido reconhecimento.