Música

Oitavo Céu: a confirmação do inevitável

Apesar de normalmente estar mais ligado ao rap underground, desta vez trago-vos uma espécie de review ao álbum mais recente de Dillaz, um artista com quem cheguei a vibrar, em tempos, mas que agora surge com uma sonoridade completamente diferente. A mudança não é de agora, tem sido algo gradual ao longo dos anos. 

Em termos líricos, continua a ser o mesmo Dillaz de sempre: qualidade do início ao fim, com refrões que ficam no ouvido. A nível musical, e até mesmo de conceito, este não é o Dillaz que começou por desbravar o hip hop tuga, há pouco mais de uma década.

Fonte: Dillaz

Quem ouve Dillaz desde o início da sua carreira musical consegue reconhecer que demasiados efeitos na voz não combinam propriamente com o seu estilo. A juntar a isso, traz também videoclipes “ego-excêntricos”, demasiado focados em si próprio, como um deus acima dos outros, num Oitavo Céu – como é o caso do clipe de Maçã.

A verdade é que temos de compreender que tudo tem uma evolução. Há que ter em conta o tipo de rap que é mais ouvido, e por consequência mais lucrativo, atualmente, sem desvalorizar ou criticar os caminhos de determinado rapper

Fonte: Youtube

Quanto à musicalidade em si, é um álbum complexo que foi produzido de forma exemplar. A música que mais me atraiu foi a Mango; ainda assim, e apesar de se notar um bom amadurecimento lírico, é a que mais faz lembrar o Dillaz que sempre apoiei. Deixo também uma menção honrosa para a Papaia, pelos duplos sentidos.

Embora existam todas estas novas condicionantes e componentes do hip hop atual, Dillaz continua a mostrar porque é que as suas letras “são muita fruta”. Apesar de tudo, isto continua a ser arte. A arte não se julga. A arte serve para nos inspirar e depende da interpretação de cada um. 

Para mim, fica um sabor agridoce. Gostei, o quanto baste, mas este não é o Dillaz que sempre conheci.

Fonte da capa: Sony Music

Artigo revisto por João Nuno Sousa

AUTORIA

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Juntou-se à secção de Música na ESCS Magazine para poder escrever sobre os sons que tanto o arrepiam. Traz uma visão ampla sobre a nova escola do “hip-hop tuga underground” - o estilo que se propõe a acompanhar com maior regularidade. Procura distanciar-se dos artistas mais comerciais e focar-se em nomes menos sonantes, que merecem o devido reconhecimento.