Cara de Espelho traz “os defeitos dos outros espelhados”
Resultado de um encontro de grandes nomes que marcaram a música portuguesa, Cara de Espelho já conta com o seu primeiro álbum e uma tour pelo país.
Este novo projeto da música popular portuguesa reúne as palavras e as composições de Pedro da Silva Martins (Deolinda, Ana Moura, António Zambujo, Lena d ́Água), as construções de instrumentos e os arranjos de Carlos Guerreiro (Gaiteiros de Lisboa, José Afonso, Fausto, GAC), o baixo de Nuno Prata (Ornatos Violeta), as guitarras de Luís J. Martins (Deolinda, António Zambujo, Cristina Branco), as percussões de Sérgio Nascimento (Sérgio Godinho, David Fonseca, Humanos, Deolinda) e a voz única de Maria Antónia Mendes – Mitó – (A Naifa e Señoritas).
Ao longo das suas carreiras, os seis músicos já se tinham cruzado uns com os outros na estrada, tendo tocado juntos noutras bandas ou noutras ocasiões.
Explorando o que a música popular portuguesa tem de melhor, a banda faz-nos viajar pela história e pelas origens, fazendo uma clara homenagem à diversidade. Aborda a história e todos os cruzamentos entre pessoas, povos e culturas que constroem a comunidade e o país que somos.
Este primeiro longa-duração surge como reação ao atual contexto político-social, e nele podemos escutar sonoridades distintas, tanto acústicas como elétricas, tendo também texturas sonoras de influência africana e árabe.
São doze os temas que Cara de Espelho nos traz no seu homónimo e nada fica por cantar! Canta-se o que fomos e o que somos, canta-se sobre os tempos de conflito e polarização, mas também se canta sobre o que seremos e que compromisso temos para com o futuro. Em cada canção refletem as fraquezas e os defeitos como também as virtudes dos “pequenos” e dos “grandes”, do que é ser cidadão ou do que é ser humano.
São diversas as inquietações expostas por esta banda “assumidamente interventiva”. Em Cara Que É Tua mostram-nos o seu mote: Mostrar “os defeitos dos outros espelhados”.
Desde os receios até aos mitos da genuinidade portuguesa cantados em Genuinamente, em que “o bacalhau tão soberano / afinal vem da Noruega e em que nem mesmo Afonso Henriques / era puro português”, grande parte dos seus temas são em tom de sátira.
Este álbum é também uma celebração da liberdade, como podemos ouvir em Corridinho Português, um dos dois primeiros singles a ser lançado.
Cantam uma ideia de liberdade que transcende as amarras do fatalismo quer seja em vida – na faixa nove em Livres Criaturas – ou na hora da partida, que há de ser leve e dançada ao som de “tubas e bombos, morteiros e estrondos” – como podemos ouvir na décima faixa: Morte do Artista.
Já dizia José Mário Branco que “A Cantiga é uma arma”, e esta banda usa-a para reforçar a sua urgência em desmontar mitos e fantasias de um país que aqui é narrado tanto na sua leveza e festividade, como no seu lado mais sombrio e inquietante.
Cara de Espelho começam uma tour nacional, tendo esta início no dia 24 de fevereiro no Theatro Circo, em Braga, seguindo-se concertos no Cineteatro Louletano, em Loulé, a 2 de março, no Teatro Maria Matos, em Lisboa, a 4 e 5 de março, e na Casa da Música, no Porto, a 16 de março.
O homónimo pode ser ouvido em todas as plataformas digitais, em CD e em vinil.
Fonte da capa: Expresso
Artigo revisto por Pedro Filipe Silva
AUTORIA
Beatriz não vive sem música e tem uma playlist para todas as ocasiões. Entrou na Magazine para escrever sobre quem mais gosta de ouvir e, após um ano como redatora de Música, aceitou o desafio de ser editora no mesmo ramo. Está no 2.° ano de Publicidade e Marketing e no futuro espera vir a unir o gosto pela escrita e pela música a estas duas grandes áreas.