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Moda: futilidade ou arte?

A moda pode ser uma futilidade para muitos, mas não deixa de ser uma arte como outra qualquer, com o poder de mudar e revolucionar preconceitos e desmistificar estigmas que duram há demasiado tempo. 

Legally Blonde, Mean Girls, The Princess Diaries, filmes que marcaram qualquer adolescente e que passam uma das ideias mais associadas ao mundo da moda: a preocupação com a roupa que vestes é sinónimo de vazio intelectual! Por outro lado, quando nos deparamos com uma entrevista de emprego ou uma reunião importante, sentimos a necessidade de fazer com que a nossa aparência jogue a favor da nossa capacidade intelectual. Contraditório, não?

Fonte: Teen Vogue

De forma preconceituosa ou não, a sociedade tende sempre a colocar beleza e moda e inteligência e perspicácia em pontos opostos do espetro. Será porque a moda é vista como uma futilidade e não como arte? Será que a sociedade continua a ver a forma como nos vestimos como um acessório e uma distração, ao invés de algo tão digno de ovação como uma pintura? 

Fonte: Vogue

Não podemos avançar com esta discussão sem esclarecer a definição de arte. Por definição de arte, entenda-se a definição que eu, escritora e condutora deste artigo, considero suficientemente abrangente para fazer justiça ao termo! Arte é tudo o que envolve um processo criativo conduzido por uma ou mais mentes criativas, que pensam o objeto da sua arte além da sua funcionalidade e privilegiam a beleza, expressão e plenitude visuais. Pensando na camisola que temos vestida neste momento, ela está a cumprir a sua função de nos manter vestidos, mas houve um processo de criação da sua forma, cor, silhueta e, sobretudo, houve uma componente estética que nos aliciou e que acrescentou algo relativamente a todas as outras camisolas que temos. Há quem simplesmente se envolva mais na segunda parte deste processo, os chamados apreciadores de arte, estes têm gosto em perder tempo a escolher a criação que mais os completa. Há quem não pense tanto e simplesmente se deixe levar pela funcionalidade, estas pessoas comprariam qualquer camisola, sem olhar a formas ou cores. Da mesma forma que há pessoas que compram louça pela simplicidade da sua funcionalidade, em vez de investirem em peças de cerâmica delicadas e bonitas, assinadas por um autor. Mas estes não são os verdadeiros amantes da respetiva arte. Os amantes de qualquer arte têm prazer e paixão em investir, racional ou irracionalmente, em peças únicas, algo que logicamente não pode, nem deve, definir a sua capacidade intelectual.

Então porque é que a moda é tratada de forma diferente? Talvez pela sua relação direta com a aparência. A indústria da moda é conhecida pela sexualização do corpo e da beleza. O corpo é visto como um objeto para esta arte, funcionando como uma tela em branco para os designers. Ao longo dos anos, esta perspetiva veio perdendo a sua beleza e começou-se a consolidar uma reputação fútil e sexista da indústria, por alimentar ideais de beleza inalcançáveis, desumanizando e objetificando os corpos dos modelos.

A modelo, atriz e escritora Emily Ratajkowski contou na primeira pessoa, no livro My Body, a sua relação com esta temática e como as indústrias da moda e do cinema lhe foram retirando aos poucos a validade intelectual, em detrimento da sexualização do seu corpo. Ao longo da sua vida, a modelo foi sentido cada vez mais dificuldade em partilhar com o mundo os seus interesses, conhecimentos e inteligência pela barreira que se foi solidificando em torno da sexualização e objetificação do seu corpo. Emily é conhecida pela sua redefinição da relação entre o feminismo e a exposição do corpo feminino. Envolvida em projetos que visam desmistificar os direitos e deveres que as mulheres têm para com o seu corpo, a modelo defende que o feminismo passa também pelo empoderamento da mulher sobre o seu corpo, pelo recuperar de uma propriedade que fisicamente sempre foi da mulher mas que a sociedade se sentia no direito de controlar. 

Fonte: Glamour UK

Há uma clara relação entre o meio em que a modelo foi crescendo publicamente e a opinião que esse público tem do seu corpo e mente. E não é coincidência que a moda e o cinema tenham sido o primeiro palco da escritora, porque são, sem dúvida, meios onde há uma propensão para a apropriação do corpo como uma figura desprovida de mente e pensamento crítico. Emily continua a ter uma grande influência na indústria da moda e, sobretudo, no mundo da luta pelos direitos e empoderamento feminino, demonstrando que, por mais fúteis que as nossas paixões possam parecer para o mundo exterior, pode haver e certamente que haverá conteúdo intelectual, pensamento crítico, opiniões válidas e fundamentadas a coabitar com as nossas paixões e com o nosso corpo, por mais que a sociedade o sexualize sem consentimento.

A moda pode ser uma futilidade para muitos, mas não deixa de ser uma arte como outra qualquer, com o poder de mudar e revolucionar preconceitos e desmistificar estigmas que duram há demasiado tempo. Ter preocupação com a nossa aparência, potenciar a nossa beleza e sermos nós próprios, proprietários do nosso próprio corpo, não só não é fútil, como é sinónimo de muita inteligência emocional e autoconfiança. Isso não há camisola que te possa roubar!

Fonte da Capa: Pinterest

Revisto por Inês Gomes

AUTORIA

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A paixão pela moda sempre lhe ocupou muito o pensamento. Hoje em dia, a Beatriz procura envolver-se na indústria e desenvolver as suas próprias opiniões sobre o mundo da moda. Estudante do 3.o ano de publicidade e marketing, viu neste curso uma porta aberta para expressar a sua criatividade e, na ESCS Magazine, o lugar perfeito para partilhar com os leitores as suas opiniões, conhecimentos e a sua paixão! E como sonhos não têm limites, espera um dia poder chegar a um cargo de sucesso como marketeer, na indústria da moda de alta costura.