Moda e Lifestyle

Fashion Week : Gucci abre portas à simplicidade

Na indústria da moda, nada chama mais a atenção do que a tão esperada Fashion Week, e a sua mais recente edição não foi exceção. Decorridos durante os meses de setembro e outubro de 2023, os desfiles das coleções de primavera/verão 2024 das marcas mais famosas da indústria foram marcados por controvérsia, mudança e revolução. 

A estreia de Sabato de Sarno como novo designer da marca Gucci, sucessor de Alessandro Michele, foi o reflexo da mudança drástica de mentalidade que a indústria está a atravessar como consequência de um mundo cada vez mais contido, minimalista e simplista. Alessandro Michele criou e consolidou uma imagem exuberante, florida e campestre, que distinguia a marca Gucci de qualquer outra marca, mas a sua saída e a entrada de Sabato de Sarno vieram acompanhadas de uma reformulação radical na imagem da marca. No desfile que aconteceu em Milão, o designer apresentou a sua coleção de estreia Ancora, em português Ainda, nome que pode ser interpretado como uma referência ao retorno de uma marca nunca perdida, que “ainda” continua a dar cartas no mundo da moda. 

No período pós-pandémico, a Gucci viu marcas como Louis Vuitton e Dior satisfazer as necessidades de um consumidor sedento de luxo, mas acomodado a quase dois anos de conforto e simplicidade. A exuberância e particularidade da Gucci passaram a não encaixar numa sociedade movida pelo minimalismo, praticidade e luxo discreto, características com as quais Sabato de Sarno conviveu durante quase toda a sua carreira como designer em marcas como Prada e Valentino. 

Fonte: Gucci Website

O novo designer quis devolver à Gucci a sua intemporalidade e construir uma estética pela qual qualquer um de nós se possa apaixonar, mesmo que poucos a possam adquirir. Através de uma reformulação estética, o luxo, requinte e estilo quase aborrecidamente chique pretendem recolocar Gucci na corrida pelo coração de qualquer amante de moda. No desfile que aconteceu durante a semana da moda de Milão, o estilista fez questão de não deixar de parte as estrelas desta estação: loafers, sapatos de salto alto envernizados, blazers estruturados, casacos compridos, tops de silhuetas simples mas ousadas, bijuteria dourada robusta, vestidos retos, saias mini e midi, sleep dresses, baggy jeans, peças de cintura baixa e casacos casuais e chiques. As cores escolhidas por Sabato de Sarno são um paraíso estético, desde a conjugação perfeita e pouco convencional de vermelhos fortes com rosa claro, verde fluorescente, azul bebé, laranja, ao aparecimento perfeito dos clássicos brancos, pretos, cinzentos, castanhos, bejes e azuis escuros. 

Fonte: Gucci Website

Na minha opinião, a coleção é tudo o que eu esperava que fosse e, tal como o designer a descreve, é a história perfeita de uma saída à noite, de um abraço, de beijar e ser beijado, de convívios e de música, porque traz um conforto que a moda de alta costura tende a desprezar, sem largar a sensualidade e elegância tão aspiradas. A coleção é o equilíbrio quase perfeito entre ousadia e conforto, atrevimento e discrição, e traz um sentimento mais profundo e interpretativo a uma marca que se expressava maioritariamente pelo visual, deixando os outros sentidos por explorar. 

Mas como em todas as áreas artísticas, muitos criticaram a estreia do designer e declararam a sua abordagem como aborrecida e banal, com cortes simples, peças contemporâneas e pouco criativas. Não podemos dizer que é uma coleção fora da caixa, mas é uma criação estética que transmite a paz, ousadia, classe e calmaria que o designer tanto prega, num mundo onde a exuberância e o luxo arrojado foram substituídos pela simplicidade e plenitude. Sabato defende-se, dizendo que, para alguns, esta coleção pode ser aborrecida, mas que para ele o que distingue as peças são os pormenores, os cortes intemporais e perfeitos, e que o seu desejo, mais do que agradar, é que a Gucci seja conhecida pela sua silhueta e formas perfeitamente confecionadas. 

Fonte da Capa: Bloomberg

Artigo revisto por Miguel Nascimento

AUTORIA

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A paixão pela moda sempre lhe ocupou muito o pensamento. Hoje em dia, a Beatriz procura envolver-se na indústria e desenvolver as suas próprias opiniões sobre o mundo da moda. Estudante do 3.o ano de publicidade e marketing, viu neste curso uma porta aberta para expressar a sua criatividade e, na ESCS Magazine, o lugar perfeito para partilhar com os leitores as suas opiniões, conhecimentos e a sua paixão! E como sonhos não têm limites, espera um dia poder chegar a um cargo de sucesso como marketeer, na indústria da moda de alta costura.