“She is It” – Entre Clara Bow e cheetah print
Uma “It Girl” é uma jovem vista como atraente, na sua personalidade e no seu físico, o que lhe concede um caráter especialmente apelativo aos olhos do público. Esta expressão veio ganhar mais notoriedade com o aparecimento da atriz Clara Bow, no filme de 1927, It, onde a sua personalidade e aparência contribuíram para um rápido crescimento da sua fama internacional. Clara Bow foi considerada um dos grandes sex symbols da época e a personificação de “It Girl”. Mais tarde, o termo foi ganhando outras definições. Na América, o termo era usado para descrever atrizes e modelos com aparências glamorosas e que se destacavam pelos seus traços físicos, considerados atraentes e vistosos. No contexto britânico, o termo era usado com mais requinte e fazia referência à beleza e estilos de vida opulentos de mulheres que tinham o estatuto de celebridades pela vida social preenchida que levavam.
Já sei o que estão a pensar: “Clara Bow?”. Sim, é exatamente essa Clara Bow.
Se este nome vos diz algo é porque andam atentos às mais recentes novidades da indústria da música. Taylor Swift lançou o seu novo álbum The Tortured Poets Department e uma das músicas é intitulada Clara Bow. A cantora inspira-se na vida da atriz e de outras mulheres famosas para deixar uma mensagem de empoderamento feminino. Reforça que a fama deve ser alcançada com base na autenticidade e ousadia e que ser considerada deslumbrante ou atraente deve ser resultado de uma expressão do nosso “eu” verdadeiro, mesmo que a sociedade sexualize o nosso sucesso.
Mas com as redes sociais e o aparecimento de influencers o termo “It Girl” volta a ganhar outra definição, passando a definir raparigas que, aos olhos da sociedade, são engraçadas, jovens, famosas numa certa medida, que levam estilos de vida despreocupados e entretêm o público. Mas a nova “It Girl”, segundo Matthew Schneier, escritor para o The Cut revista nova-iorquina, tem fama de pouca dura, devido à efemeridade de algumas das características que a tornam famosa: juvenilidade, aparência e locais sociais que frequenta. Pelo contrário, celebridades alcançam uma fama intemporal, porque, mais do que o seu estilo de vida, o que as torna famosas são as suas características mais imutáveis: talento, personalidade e conexões interpessoais.
Muitas influencers ganharam visibilidade e tornaram-se ícones do seu nicho, nomeadamente moda e lifestyle, pela partilha do seu dia-a-dia, outfits e viagens. É difícil seguir estas pessoas e não ambicionar ter uma vida tão desprovida de stress e tão rica em experiências e, por isso, muitas pessoas tentam crescer no digital e tornar experiências o seu ganha pão. Mas até que ponto é que partilhar todos os dias roupa nova, de marcas conhecidas por todo o mundo, passar a manhã num brunch no centro das capitais, ir jantar com amigos a restaurantes das mais diferenciadas culturas, para às 2h da manhã estar a apanhar um voo para um país tropical, com temperaturas que rondam os 38º graus, em patrocínio com uma marca de bikinis é praticável pelo comum mortal? Não é praticável, mas mesmo assim olhamos para os hauls e outfit checks destas pessoas e acreditamos que podemos, também nós, ser aquilo que admiramos nestas It Girls.
Na realidade, devido à sua exposição no digital, estas pessoas recebem muito do que usam, de marcas que beneficiam do seu alcance e influência. Também as viagens e idas a restaurantes resultam de parcerias em que ambas as partes beneficiam da exposição. Quem não tem estas facilidades e quer viver este estilo de vida vê-se obrigado a consumir o que vê ser partilhado, mesmo não estando consciente que se trata de uma estratégia para potenciar a compra.
As influencers usam, os seguidores veem, compram, e as marcas vendem – cadeia básica do consumismo. Não se tratam de compras conscientes quando compramos o que vemos alguém que admiramos usar durante um dia. E as influencers são peritas em viralizar produtos e locais, dando origem a micro trends que, não só enfatizam o consumismo, como criam desperdício.
Assim, torna-se importante refletir sobre como é que as influencers conseguem ter roupa ilimitada, viagens, estadias em locais extraordinários, e ainda saem a ganhar monetariamente com isso. Já o comum utilizador de redes socias, sem grande visibilidade, terá sempre de investir para conseguir igualar este estilo de vida. Este investimento traduz-se em peças de roupa que compramos por estarem virais e, um mês depois, já não as queremos usar porque “passaram de moda”, e ficam paradas no nosso roupeiro indefinidamente. Investimos em viagens, que podiam ter sido poupadas, só para visitar aquele lugar específico, onde toda a gente tem uma foto. Não são investimentos conscientes, mas sim motivados pelo consumo de impulso e pela influência de líderes de opinião do meio, as It Girls.
It Girls estão em todo o lado e cabe-nos definir aquilo que queremos ver e quem queremos que nos influencie, mesmo que isso implique não ter uma única peça com cheetah print ou um par de Adidas Samba, num mundo onde toda a gente os tem.
Fonte da imagem de capa: Pinterest
Revisto por Bruno Filipe Silva
AUTORIA
A paixão pela moda sempre lhe ocupou muito o pensamento. Hoje em dia, a Beatriz procura envolver-se na indústria e desenvolver as suas próprias opiniões sobre o mundo da moda. Estudante do 3.o ano de publicidade e marketing, viu neste curso uma porta aberta para expressar a sua criatividade e, na ESCS Magazine, o lugar perfeito para partilhar com os leitores as suas opiniões, conhecimentos e a sua paixão! E como sonhos não têm limites, espera um dia poder chegar a um cargo de sucesso como marketeer, na indústria da moda de alta costura.