Opinião

Não seja esquisito: largue a sardinha e coma o manjerico

Eu nunca fiz campanha eleitoral pelas minhas práticas. Cada um toma as opções para a sua vida que considera melhores. Não sou vegan e não tenho nada contra vegans. O que eu contesto é aquele tipo de vegan que chama cruel a quem come carne e peixe e não vê mais nada à frente dos seus olhos do que o veganismo (e bem sabemos que as cenouras fazem bem aos olhos); aquele tipo de vegan que veste o seu cão com uma blusa de malha antes de sair à rua; aquele tipo de vegan que diz que somos omnívoros por opção (sim, eu escolhi nascer com caninos!). Imaginem que a moda de dizer o que cada um pode comer pega e aquele moço que esteve num programa antigo da RTP chamado “Malta Gira” que comia lâmpadas (satirizado pelos Gato Fedorento nos Tesourinhos Deprimentes) decidia que a roda dos alimentos agora se media em volts. Sempre que alguém corasse era um Pikachu.
Eu nunca vou conseguir entender pessoas que defendem só uma causa. Por mais nobre que a causa seja. Não gosto de extremismos obcecados. Há pessoas cuja vida é espalhar o veganismo como nos Descobrimentos se espalhava a fé cristã. Essas pessoas devem achar que, se toda a gente se tornasse vegan, deixavam de chorar. Desenganem-se: há sempre a cebola.
Comer é uma necessidade básica e, se pensarmos bem, por sermos seres racionais, temos a tendência para tentar tirar o maior prazer da satisfação dessas necessidades. É por isso que não bebemos só água, não fazemos sexo só para nos reproduzirmos ou não dormimos no chão. Se somos seres biologicamente omnívoros e se os animais forem bem tratados durante a sua criação, não vejo onde está o problema de servirem de alimento, uma vez que isso até garante a continuidade das muitas espécies que são criadas apenas para esse efeito.
O vegan que preenche o estereótipo que eu acima defini vive uma vida de sacrifícios ou incoerências. Seja qual delas for o caso, eu tenho dois ombros amigos à vossa espera. É que uma pessoa que é contra todo o tipo de exploração animal tem que ser contra coisas como andar a cavalo, andar de avião (uma vez que são usados falcões para caçar outros pássaros nas pistas dos aeroportos para não causarem problemas aos aviões), jardins zoológicos, exposições de animais em feiras, electrocutores de moscas, abate de animais com doenças transmissíveis aos humanos, experiências científicas com animais, cães que detectam droga ou ajudam cegos, comer sardinhas nos Santos Populares, alguns contraceptivos, entre outras coisas.

Não sei se o veganismo já atingiu o seu tecto ou se vai ser uma tendência em crescimento nos próximos tempos. Veremos se as pessoas que comem carne estão feitas ao bife ou se eles é que estão metidos num molho de bróculos. Confesso, no entanto, que gostava de que houvesse mais vegans nos dias em que há mais pólen no ar. Podia ser que comessem as plantas todas e eu não espirrasse tanto, nem tivesse tanta comichão nos olhos.

sardinha manjerico

AUTORIA

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O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.