República dos Bananas
Era uma vez quatro amigos – uma gazela, um rouxinol, um macaco e um papagaio. Os quatro amigos eram bem diferentes uns dos outros, mas tinham uma coisa em comum: viviam todos na República das Bananas.
Certo dia, as bananas, que davam nome à República, começaram a escassear. A situação era deveras alarmante. Ouvia-se falar no assunto um pouco por todo o lado. Não havia dúvidas! Tratava-se de uma crise como nunca antes se vira.
Quando se começou a aproximar o tempo quente, os amigos começaram a convidar-se para eventos. A gazela convidou-os para assistirem à grande final do campeonato de frutabol da República das Bananas. Um épico Sociedade Desportiva e Recreativa dos Bananas contra o Futebol Clube dos Abacaxis. O ambiente era de festa. O rouxinol fazia um esforço, afinava as notas e lá cantava uma música em forma de apoio à equipa da sua amiga gazela: O único fruto do amor é a banana; é a banana!
O papagaio olhava à sua volta e, de forma aparentemente fria, só dizia: “-Ainda dizem que há crise”. O macaco coçava a cabeça pasmado. Uns meses adiante, foi a vez de o rouxinol os convidar para um festival de música de rouxinóis. Ao contrário do que aconteceu no jogo de frutabol, os concertos estavam às moscas. Não literalmente. Nem essas se atreveram a aparecer. Na verdade, a audiência era composta apenas pelos amigos e familiares dos cantores. O rouxinol não se deixou intimidar e começou o seu reportório a plenos pulmões: O único fruto do amor é a banana; é a banana!
A gazela tentava dançar, mas não conseguia. Apenas fugia de um lado para o outro. O papagaio olhava em redor e afirmava tristemente: “-Não veio quase ninguém… É da crise!”. O macaco, pasmado, coçava a cabeça. Umas semanas à frente, o papagaio convidou-os para assistirem ao concurso de soletração da República das Bananas. Tal como das outras vezes, três dos amigos estavam na assistência. Quando chegou a vez do papagaio, a arara disse ao papagaio a palavra que ele devia soletrar: “- Soletre a palavra CRISE”. Mal ouviu a palavra, a gazela fugiu a sete pés. Nada lhe metia mais medo do que a crise. Depois de o papagaio soletrar, o rouxinol não cantou a We are the champions dos Queen. Preferiu uma outra: O único fruto do amor é a banana; é a banana!
Pasmado, o macaco coçou a cabeça.
No final, colocaram-se todos lado a lado em frente ao macaco à espera de que ele os convidasse para alguma coisa. Ficaram ali uns instantes, mas não muitos. A gazela não sabia estar parada e acabou por fugir. O rouxinol não aguentava o silêncio, pelo que começou a cantar:
O único fruto do amor é a banana; é a banana!
O papagaio baixou a cabeça e afirmou de bico semicerrado: “- Isto é da crise… Ficamos apáticos”. O macaco coçou, pasmado, a cabeça. Moral da história: em Portugal, parece que tudo está relacionado com a crise. Enquanto uns nos dão música, há quem fuja. Outros acham que tudo é causa ou consequência da crise e muitos daqueles a quem a crise deveria verdadeiramente importar observam, pasmados, tudo isto. O ingrediente principal da crise não são as bananas; são os bananas. Não é a República das Bananas; é a República dos Bananas.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.