Opinião

A ciência está no nome

Pedro Miranda - A ciência está no nome

A eterna indecisão, ou essa coisa estranha que sempre se apodera duma pessoa, impedindo até as dores de ocorrerem da forma certa – porque andamos sempre na dúvida –, é, antes de um problema limitado do ser, um problema da Nação. Há, defende-se, qualquer coisa de muito grave na indecisão. Não se gosta de não saber. Não se gosta de que não se saiba.

Sempre fui indeciso. Desde o nascimento que não sei bem o que quero: tinham os senhores doutores achado conveniente eu nascer no dia X e eu não só não nasci nesse dia como, fora do previsto, fui nascer noutro mês, noutro ano. Após o parto, quiseram dar-me um nome; não o fazendo logo, ali nas 24 horas subsequentes à minha entrada, com medo tacanho e uma quanta dose de “sem saber”, escolheram-me novo nome e definiram, para sempre, eternamente, a minha sina naqueles brindes que sempre vêm agarrados quando se compra qualquer coisa com o nome. “Ele é um pequeno guerreiro. Pode até encontrar dificuldades e limitações no caminho, mas jamais vai parar de lutar”, lê-se num site brasileiro que acabei de consultar só mesmo para execução desta referência que o leitor acaba de ler.

“Jamais vai parar de lutar” – é bonito ler coisas assim; é reconfortante. Uma pessoa lê isto e fica logo de sorriso na cara, ignora logo pancadaria, aquelas idiossincrasias que surgem do ser bicampeão, do ter orelhas grandes, do estar na Figueira da Foz nas férias de verão de 2014, do falecer a caminho da devoção… Ah… O ser português!

O Pedro “jamais vai parar de lutar”. Mesmo não sabendo por que lutar, o Pedro não parará. E isto, apesar de os livrinhos de auto-ajuda terem a solução, comigo não pega. Não pega comigo e não pega com muita gente, desamparada no fosso que há entre a sanidade do saber para onde ir, e a loucura do não saber sequer onde se anda.

Ainda assim, há uma coisa que me consola: não estou sozinho. Não estou sozinho e essa não solidão é palpável e construída a betão e aço (ide ao Alentejo, por exemplo, ver se lá não há indecisão perdida nos montes; ide a Tróia e ao Algarve ver se lá não há dúvidas existenciais sob a forma de “complexos turísticos” inacabados – e mais havia não tivesse a assertividade de um tal 44 radicado em Évora dinamitado, literalmente, umas quantas torres, fruto da assertividade de um outro alguém que, anos antes, sem dúvida alguma, projectou o sonho). A indecisão nacional – e eu lanço já o repto para a candidatura disto a património imaterial da humanidade – é indiscutível; mas ninguém a admite, ninguém a quer e todos culpam o outro. Houve aí quem quisesse voltar com o visto prévio. Quem? Ninguém. Alguém propôs, mas ninguém propôs. Alguém o queria mas, como eu não sei se prefiro o pão de Seia ao pão de Mafra, alguém viu que, afinal, talvez não seja bom entrar por caminhos já trilhados nos idos anos 30 de um século que, feliz ou infelizmente, já não volta.

Para resolver estas indecisões, estes avanços e recuos, falta um Pedro que “jamais” pare de lutar. Não me candidato à República porque isso só pioraria o problema (já imagino 10.500.000 candidatos com um voto cada), nem reúno metade sequer das condições para tal. Arranje-se um outro Pedro. Um Pedro para primeiro-ministro; que dê passos em direcção a algum lado; um que dê resultados, rápido como lebres, ou coelhos, tanto faz, mas que dirija o futuro do país para lá da ameaça do regresso do triunvirato.

Ou então, arranje-se um António, que, segundo a mesma fonte, “é uma criança que vai conquistar as pessoas com facilidade e atrair todas as atenções para si”. Um homem seguro, fixo como as costas deste país – vendo bem, como as costas é melhor não porque essas vão caindo aos poucos ou sendo reclamadas pelos ilhéus.

No fundo, aquilo de que o país precisa é alguém assertivo, alguém que não comece a prometer e depois se arrependa. Alguém que proponha medidas do outro tempo e depois finja que recuou. O grave não é propor: o grave é simplesmente pensar nisso.

Mas não importa. Não importa porque no fundo, no fundo, a única coisa que realmente afeta a vida dum país é o nome de quem o governa. E as propostas estão feitas.