Editorias, Opinião

Corrida às urn… bilheteiras


No passado dia 4 de outubro os portugueses foram chamados às mesas de voto para eleger aquele que será o seu próximo primeiro-ministro. A coligação PSD/CDS saiu vitoriosa… mas pouco. Portugal à Frente ficou alguns passos atrás da maioria “grande e boa” que tanto pediu. Creio que é portanto evidente que o grande problema destas eleições foi de facto as filas. Se Portugal à Frente não tivesse ficado preso nas portas, poderia ter chegado uns minutinhos mais cedo e não teria ficado, naturalmente, posicionado na fila atrás da maioria absoluta.

As filas revelaram-se um flagelo tão grande no ato eleitoral, que me arrisco a afirmar que a corrida às urnas se iniciou pelo menos 48 horas antes das oito da manhã de dia 4. Na ânsia de chegar às suas assembleias de voto, muitos portugueses começaram cedo a correr para as bilheteiras das redes de transportadoras. A afluência foi de tal ordem que, com cinco bilheteiras da Rede Expresso em Lisboa a funcionar, o átrio do edifício mais parecia o campo do pavilhão de Miraflores, em Oeiras. Em ambos os casos houve esperas de mais de uma hora. Em ambos os casos houve desistências.

O considerável nível de abstenção verificado não pode portanto procurar explicações em fatores banais como a coincidência dos jogos dos três grandes com o momento eleitoral (afinal de contas, quem é que neste país quer saber do futebol para alguma coisa!?). Essa tentativa de explicação só serve para mascarar a única explicação plausível para este fenómeno: as filas de espera.

Muitos portugueses desistiram das eleições ainda nas filas das bilheteiras dos transportes. Outros desistiram já nas filas à boca das urnas.

Na verdade, as filas estiveram para os boletins de voto como José Sócrates para António Costa: meteram-se demasiado no seu caminho, impedindo as pessoas de marcar a sua cruzinha.


A Joana Costa escreve segundo o novo acordo ortográfico