Ser poetiza é ser mais alta
Desenhador de Palavras sobre Florbela Espanca
“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
Escrevia versos. Diziam-na louca. Viveu pouco, mas intensamente.
Nasceu no dia 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, com o nome Flor Bela Lobo. Colaborou em diversos jornais e revistas, foi tradutora, deu aulas particulares de português, escreveu contos. No entanto, foi como poetiza que se afirmou.
Vanguardista, independente e desafiante por natureza, foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o ensino secundário e, mais tarde, uma das 14 mulheres entre 347 alunos a ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
As suas primeiras composições poéticas datam de 1903-1904: “A Vida e a Morte” e “No dia d`anos”. Em 1907 escreveu o seu primeiro conto intitulado “Mamã!”.
“Livro de Mágoas” (1919) e “Livro de Sóror Saudade” (1923) foram as únicas antologias que viu publicadas. A maioria das suas obras só foi dada a conhecer ao grande público postumamente.
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
Sofria de perturbações nervosas, que se agravaram com a morte do irmão, Apeles Espanca, em 1927, a quem dedicou o conjunto de contos “As Máscaras do destino”. Esmagada pela realidade, no ano seguinte tentou suicidar-se pela primeira vez. Tentativa esta que repetiu por mais de uma vez.
O diagnóstico de um edema pulmonar foi a gota final na sua luta contra a vida. Assim, no dia do seu 36º aniversário, 8 de dezembro de 1930, suicidou-se em Matosinhos.
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
Abortou uma vez, casou três, sofreu com a perda de familiares próximos. Incompreendida e autêntica, viveu uma vida curta mas recheada de emoções, repleta de intensidade pura que canalizou para a sua obra fundamentalmente marcada pelo amor, solidão, nostalgia, feminilidade, sedução, desejo, morte.
Pessoa descreveu-a como sonhadora e irmã gémea da sua alma.
Florbela Espanca foi essencialmente poetiza. Mais alta. Maior do que os Homens.
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!”