A Ansiedade na Performance Musical
O tema que trago para a minha grande estreia na secção de música é algo que me é próximo. Enquanto trompista, na Associação Musical da Atalaia – a banda filarmónica da qual faço parte há uns bons anos-, já experienciei, assim como todos os músicos que pisam um palco, ou que alguma vez pisaram, a Ansiedade na Performance Musical (AMP).
Independentemente da idade, do género, da experiência, da dedicação, do grau académico ou do tipo de instrumento, a Ansiedade na Performance Musical (APM) é um distúrbio que afeta todos os músicos, de forma positiva ou negativa.
Quais são as principais causas?
São três as causas principais deste distúrbio: a pessoa, a tarefa e a situação.
Todos temos personalidades diferentes e muitos de nós temos aspetos na nossa personalidade que podem ter alguma influência no nosso comportamento. Existem pessoas mais introvertidas e dependentes, enquanto outras são o completo oposto. Estes traços de personalidade podem influenciar a forma como a APM se vai manifestar.
Outra condicionante que tem bastante impacto é a dificuldade da tarefa que o músico tem de executar. Quanto mais difícil for a tarefa, mais difícil pode ser para o músico controlar os seus pensamentos negativos e os nervos à flor da pele. No entanto, isto não é linear. Muitos músicos podem encarar a tarefa difícil como motor para superar as dificuldades e os sintomas da ansiedade através de um estudo mais intensivo. Porque a verdade é que quanto mais bem preparados estivermos, mais confortáveis vamos estar com o que estamos a fazer.
A grande fonte da APM é, na maior parte das vezes, a situação. Ou seja, o concerto. Apesar de ser algo que faz parte do dia a dia dos músicos, é um momento cheio de expetativas e de ambições pessoais, assim como de expetativas por parte do público.
APM positiva versus APM negativa:
No início do artigo já vos digo que pode existir uma AMP positiva e uma APM negativa. Vamos então perceber o que elas têm de diferente.
A ansiedade positiva é a famosa excitação que pode estar relacionada com a qualidade da performance. Porque uma baixa quantidade de excitação pode resultar numa execução sem vida, sem paixão. Porém, nem oito, nem oitenta. Porque uma excitação em excesso pode resultar na perda de concentração, lapsos de memória e instabilidade, o que pode resultar numa ansiedade negativa. O ideal é que haja um equilíbrio emocional na hora da performance.
Algo muito importante é estarmos conscientes de que a ansiedade é uma emoção que surge naturalmente em situações stressantes. É aquele receio que sentimos de que algo dê errado. No entanto, não podemos deixar que nos domine.
Pânico de palco versus APM
Acho importante fazer uma distinção entre Pânico de Palco e APM, porque são coisas diferentes e que não podem ser metidas no mesmo saco.
Segundo o meu maestro num dos ensaios virtuais que temos feito durante este período de confinamento, o pânico de palco é “uma condição psicológica e fisiológica em que o funcionamento apropriado, necessário a uma realização bem-sucedida, é prejudicado. Refere-se ao medo súbito e intenso ou até ao pavor sentido no palco que está suscetível a conduzir à degradação da performance ou até provocar a sua não realização.”
Enquanto a APM acompanha o músico desde a preparação até ao dia do concerto, o pânico de palco apenas está presente no momento do concerto, da apresentação.
Estratégias mais utilizadas
Enquanto instrumentista, costumo usar algumas estratégias antes de um concerto para lidar com ansiedade. As que mais utilizo são a distração com outros temas – falo com os meus colegas e tentamos esquecer-nos por momentos do que está prestes a acontecer; a respiração profunda e os conselhos psicológicos que dou a mim própria, repetindo interiormente que vai correr tudo bem e que eu sou capaz.
No entanto, existem outras estratégias como, por exemplo, relaxamento muscular, meditação, exercícios aeróbicos, yoga, relaxamento físico, imersão no conteúdo musical através de estudo analítico e leitura.
A AMP faz parte do meu dia a dia enquanto intérprete musical. Já a senti e vou sempre sentir. Isto porque sou uma pessoa bastante stressada e com um bocadinho de medo de falhar. Porém, tento sempre lidar com a situação da melhor forma.
No meu caso, a ansiedade está na expetativa, nos minutos antes de entrar em palco, onde o meu coração dispara, a minha barriga é inundada por borboletas e as minhas mãos suam, o que me faz agarrar com uma força particular o meu instrumento. Mas, quando me sento e começo a tocar, essa ansiedade faz-me mais atenta, mais cautelosa e no fim o sentimento de dever cumprido e as palmas que ecoam na sala deixam de lado todos os aspetos negativos que foram ocorrendo durante a performance.
Artigo escrito por Joana de Oliveira
Artigo revisto por Constança Lopes
Imagem de capa / Créditos: Fotografia de Kaspars Eglitis retirada do Unsplash