A beleza única de “Jogos da fome- Balada dos pássaros e das serpentes”
Desde uma protagonista que passa grande parte do filme num vestido arco-íris até a um uniforme escolar masculino que surpreende ao incorporar uma saia, o design de moda do novo filme Jogos da Fome-Balada dos pássaros e das serpentes está a dar que falar.
Os figurinos não são apenas roupas. A forma de vestir de uma personagem é como uma tradução sem palavras da sua alma. O vestuário é o que faz uma personagem destacar-se ou passar despercebida – tudo depende das cartas jogadas.
A figurinista Trish Summerville e o diretor Francis Lawrence tinham como objetivo mostrar através dos trajes a época em que o filme se passa, já que ocorre 64/65 anos antes da história original. Para isso, adaptaram as silhuetas à moda dos anos 40, mas acrescentaram um toque futurista que lhes deu personalidade. Esta influência é visível, principalmente, na personagem Tigris, que, segundo SummerVille, representa a estética do capitólio. O estilo da personagem destaca-se pela utilização de saias longas, ombreiras e uma silhueta exagerada. Estes elementos demonstram, por um lado, a rigidez e conservadorismo do capitólio (saias compridas) e o seu amor ao poder (ombreiras).
UNIFORMES DA ACADEMIA
De todos os looks, o traje dos alunos da academia do capitólio é o mais icónico. O filme estreou há menos de um mês e este já se encontra disponível para compra online. O traje é unissexo, e é composto por uma camisa azulada, com apenas um botão logo abaixo do pescoço, um blazer, calças cor de vinho e uma saia longa, na mesma tonalidade de vermelho.
A presença da saia surpreende. É interessante observar como o preconceito de homens vestirem saias está a mudar, estando a moda, uma vez mais, a quebrar normas pré-estabelecidas. A tendência chegou aos ecrãs de cinema e só parece estar a crescer, já que as coleções de outono/inverno 2024 de Thom Browne, Kenzo and Dior incluíram este elemento.
Os estilistas fizeram um excelente trabalho ao comunicar uma sensação de autoritarismo e rigidez por meio da silhueta retangular dos uniformes. Ao mesmo tempo, conseguiram incorporar uma aura jovial, graças à escolha do vermelho, que contrasta com o ambiente escuro e cinzento do capitólio, e à leveza das saias.
Apesar da escolha interessante de cor, se não fosse pela saia penso que os uniformes seriam facilmente esquecidos. A saia deu-lhes uma dimensão única, o que justifica a recente popularidade.
LUCY GRAY
A personagem principal, Lucy Gray, tem um estilo relaxado e boémio, com estampas florais e acessórios artesanais. Usa roupas coloridas, saias longas e blusas largas. As roupas têm elementos do estilo hippie dos anos 70, o que faz sentido devido à atitude e objetivos da personagem. As roupas mostram não só a ligação que tem à natureza, mas também a sua personalidade otimista e bondosa. Lucy Gray segue uma palete de cores específica, sendo as predominantes o castanho e o lilás.
Na cena do concerto, Lucy Gray utiliza uma pulseira fina, com formato de serpente, um detalhe muito interessante por se interligar com o que viveu anteriormente no filme. Além disso, a escolha de um vestuário preto para essa cena mostra a perda de inocência da personagem depois daquilo por que passou.
O VESTIDO ARCO-ÍRIS
“Quando és figurinista e sabes que a protagonista vai passar boa parte do filme com um vestido arco-íris com folhos há muitas maneiras de errar” – Nina Jacobson, Produtora
No livro de Suzanne Collins, o vestido de Lucy Gray é arco-íris com folhos. No ambiente geral do filme esta é uma peça difícil de encaixar. Summerville revela que passou muito tempo a criar esta peça, à procura de cores e silhuetas que funcionassem não só para o cenário, mas também para o que a personagem faz, já que esta passa grande parte do filme em movimento na arena dos jogos da fome e, como tal, precisa de se conseguir mover livremente.
A designer criou uma conexão entre Katniss e Lucy Gray ao incorporar um corpete semelhante ao do vestido Mockingjay de Katniss. O corpete de Lucy, pintado à mão com desenhos de serpentes e flores, representa elementos-chave da sua história. A saia, composta por uma base bege coberta por folhos coloridos, cria um arco-íris.
O resultado é memorável: o vestido consegue, ao mesmo tempo, encaixar-se no cenário do filme e destacar a protagonista do resto do elenco.
DR. VOLUMNIA GAUL
O figurino de Dr. Volumnia Gaul foi impactante: inspirado numa fusão entre Frankenstein e Willy Wonka, a estilista SummerVille procurou transmitir a personalidade jovial e cruel de Dr. Volumnia Gaul – o resultado foi uma obra-prima assustadora.
O vestido apresenta um degradê que parece sangue, enquanto as luvas vermelhas têm uma aparência líquida. É difícil desviar o olhar, o que mostra a habilidade de SummerVille em incorporar a dualidade da personalidade da personagem no próprio tecido.
A prequela gerou diversas reações entre os fãs da saga, tanto respostas positivas como negativas. No entanto, é inegável que os figurinos desempenharam um papel fundamental na elevação da narrativa, deixando um impacto significativo na cultura pop.
Fonte da capa: Harper’s BAZAAR
Artigo revisto por Margarida Silva
AUTORIA
Uma vida sem arte e literatura seria impensável para Catarina. A aspirante a jornalista vê na ESCS Magazine a oportunidade perfeita para ouvir novas histórias e conhecer diferentes perspetivas. É sonhadora por natureza, mente aberta por convicção, e encontra-se atualmente a fazer de tudo para não acabar num trabalho de escritório.