Desporto

A caminho do Olimpo

Giannis está a um passo de ser MVP. É demasiado absurdo vê-lo jogar. Mexe-se como se tivesse menos 30 centímetros e fosse um bailarino (contemporâneo, tem uma certa ginga). O meu artigo a defender a “candidatura” de James Harden para o prémio veio de um sentimento de respeito e apreciação pela incrível carryjob que tem feito pelos Rockets, com a sua incrível série de jogos com mais de 30 e 40 pontos, incluindo 58 e 57 pontos back to back, que é algo praticamente inédito. No entanto, no caso do moço barbudo, as suas performances são, por muito impressionantes que sejam, unidimensionais, na medida em que a equipa é carregada às costas ofensivamente, mas defensivamente Harden não é necessariamente um portento: melhorou em relação aos últimos anos, mas ainda tem as suas lacunas. Continua a ser um extraordinário jogador, e o seu MVP do ano passado é um testamento a isso mesmo, dentro do contexto que foi a excelente época regular dos Rockets. Ao contrário do ano passado, apesar de Chris Paul ter ficado de fora grande parte desta época e de estar agora sem Clint Capela, os Rockets não estão a fazer uma época por aí além. Também são performances manchadas por ineficácia e algum forcing.

Em relação a Giannis, beneficiou da chegada de alguns jogadores que complementam o seu estilo de ataque incessante ao cesto (atiradores) como Brook Lopez e agora também Nikola Mirotic, e da chegada de um novo treinador que conseguiu orientar o grego e companhia (antiga e nova) nesta investida em direção à final da Conferência Este, que a equipa de Milwaukee lidera, neste momento. Para além disso, o grego lidera os Bucks em todas as principais estatísticas exceto roubos de bola e desarmes, onde é segundo (Eric Bledsoe e Brook Lopez lideram cada uma para a equipa do Wisconsin), e melhorou a sua eficácia de lançamento. Ou seja, ainda é mais dominante no interior, se é que isso ainda era possível. O lançamento ainda está manhoso, mas parece que recentemente tem melhorado um pouco. Defensivamente, pode-se argumentar que o grego está a ser ainda mais influente do que Paul George, dos Thunder, que parece ser o grande candidato a vencer este ano o troféu de defensor do ano.

Harden merece ser MVP: isso é inegável. Mas este é o ano de afirmação dos Bucks como uma das potências da liga, num ano em que as melhores equipas da Conferência Este se “armaram” em grande, após a saída de LeBron para a “cidade dos anjos”. A história de Giannis é quase de novela: veio quase do nada, de uma família pobre, dormia no court, etc. Passou de um miúdo escanzelado com imenso potencial, de um mero projeto de jogador, para o mais dominante atleta na maior liga de basquetebol do mundo. Giannis queria, pelo menos, ser jogador de NBA e conseguiu muito mais. A sua personalidade humilde, infantil (no bom sentido) e genuína, misturada com a sua tremenda evolução como jogador, derivado da sua compenetração, espírito de sacrifício e paixão, fazem dele não só um dos mais adorados jogadores da liga, mas como o porta-estandarte da liga e do desporto em todo o mundo. É o herdeiro de LeBron. Ser o capitão de uma equipa All-Star é simbólico: ser o MVP este ano será a confirmação do estatuto de Giannis como não só o jogador mais dominante da atualidade, como o jogador do momento, tal como ele merece, e será o primeiro passo no seu legado como, espero eu, um dos melhores basquetebolistas de sempre. Aos 24 anos, já é isto tudo, e ainda tem potencial para ser bem mais. Não duvido que o será, e esta primeira época como candidato a um anel vai dar-lhe mais motivação para se tornar uma lenda. Daqui a 20 anos, quando já tivermos filhos, espero vê-lo a receber todas as honras possíveis, nomeadamente um lugar no Hall of Fame, com o discurso meio lamechas, mas certamente tocante, e ver o número 34 lá em cima, na ainda por estrear arena dos Bucks. Eu vestirei a minha malha dos Bucks, prestarei o meu tributo e orarei a minha prece ao novo deus dos hoops. Isto ainda mal começou para o amigo grego, mas ser MVP seria o melhor começo. A altura é ideal.

Fonte: Getty Images


Artigo revisto por Ana Rita Curtinha