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A fuga para países vizinhos, as noites em bunkers e o rosto dos feridos

Desde o início oficial da guerra na Ucrânia, milhares de moradores de Kiev começaram a abandonar a cidade ao ouvirem as sirenes que confirmavam a guerra. Os que ficaram procuraram refúgio em bunkers improvisados, estações de metro e mosteiros. No primeiro dia de invasão, várias vítimas de guerra são civis

Uma criança dorme numa poltrona num abrigo durante o bombardeamento russo, em Mariupol, Ucrânia — Foto: Evgeniy Maloletka/AP
Fonte: Valor Globo

Assim que as sirenes soaram, o governo ucraniano pediu à população para não entrar em pânico e para que todos os cidadãos se mantivessem nas suas casas, mas foram vários os que decidiram fugir. Na manhã desta quinta-feira, as longas filas de carros destacaram-se no centro de Kiev e entupiram os principais acessos à capital ucraniana.

“Todo este tráfego está a dirigir-se o mais rápido possível para o Oeste, em direção às áreas mais seguras do país; e talvez para a Polónia, que fica a três, quatro ou cinco horas de carro daqui. Podem ver que é quase um fluxo constante de tráfego dos moradores deste país a moverem-se para o oeste, na direção oposta da Rússia”, disse Matthew Chance da CNN.

As filas de “duas horas” para levantar dinheiro em multibancos, assim como a aglomeração de cidadãos perto dos autocarros para conseguir um “bilhete de fuga” para sair do país também marcaram a manhã do primeiro dia de invasão.

Segundo o PÚBLICO, a ONU estima que cerca de 100 mil ucranianos deixaram as suas casas só nesta quinta-feira, depois da invasão da Rússia. Os destinos destes cidadãos são os países vizinhos: Polónia, Roménia e a Moldávia “que terão recebido cerca de duas mil pessoas”. De carro ou de comboio, vários ucranianos foram chegando a estes países.

Fonte: ETHAN SWOPE/Bloomberg
Fonte: Emilio Morenatti/AP
Fonte: Emilio Morenatti/AP

Para quem decidiu ficar, os bunkers – que eram uma herança da Guerra Fria, construídos pela União Soviética contra um eventual ataque dos EUA – serviram de “casa” para milhares de cidadãos ucranianos que os protegeram dos mísseis e explosões. Durante esta manhã, a repórter Ana Peneda Moreira da SIC fez um relato de como foi passar a noite num bunker, tal como a maioria das pessoas.

“A maioria destas pessoas passou a noite abrigada em bunkers, e foi também o nosso caso. O alarme soou a partir das 2h da manhã aqui na Ucrânia, dando a indicação de que podia haver uma possibilidade de um ataque aéreo a partir das 3h da manhã (…). Nesse momento ninguém conseguiu voltar a dormir”, relatou a jornalista da SIC à porta de um hotel em Kiev.

A jornalista acrescenta que quando se fala em “bunkers”, fala-se em “metros, caves, garagens e tudo aquilo que é possível para se protegerem”.

Famílias, incluindo crianças pequenas e animais de estimação, lotaram várias estações de metro, um local que num dia normal estava cheio de pessoas a irem e voltarem dos seus trabalhos.

No Twitter e noutras redes sociais, várias imagens dos “bunkers improvisados” foram espalhando-se

A correspondeste da CNN, Clarissa Ward, foi também uma das muitas jornalistas que ficou num dos bunkers e relatou o que viveu:

“As pessoas começaram a entrar aqui… Estas pessoas estão assustadas. Estão confusas. Estão desesperadamente incertas sobre o que devem fazer, por quanto tempo podem se abrigar aqui e para onde vão a partir daqui.”

Houve também quem tivesse de se despedir dos seus entes queridos para ir lutar pelo seu país. É o caso deste vídeo em que o pai estaria a despedir-se da sua filha que iria ser retirada para uma zona segura.

Ainda que muitos tenham conseguido abrigar-se, os sucessivos bombardeamentos e ataques aéreos russos ao país estão a fazer várias vítimas civis.

Desde o início da invasão russa à Ucrânia, a Organização das Nações Unidas recebe relatos de, pelo menos, 25 civis mortos e cerca de 102 feridos civis. Ainda assim, segundo a RTP, “este número pode ser bastante maior, visto que muitas baixas podem ainda não ter sido contabilizadas até ao momento”.

Segundo a SIC Noticias, vários serviços de emergência acorreram civis depois de um bloco de apartamentos ter sido bombardeado pelas forças militares russas, na região de KharKiv.

Fonte: Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
Fonte: ARIS MESSINIS/AFP via Getty Images
Fonte: Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images

Foto da capa: Emilio Morenatti/AP

Artigo revisto por Ana Sofia Cunha

AUTORIA

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Com 19 anos de vida, Ana alia a sua paixão por animais, fotografia e música ao mundo da comunicação. Sempre gostou de contar histórias, de escrever, de ler e ainda arranjava espaço para falar pelos cotovelos. Criativa, determinada e sempre disposta a ajudar o outro, a Ana vê no jornalismo o privilégio de poder conectar o mundo e as pessoas.