Música

A hipnose de La Femme

Um dos mais fascinantes fenómenos do rock e da música indie francesa da atualidade – La Femme são uma banda francesa que já conta com mais de uma década de música. 

O sonho começa em Biarritz, quando o guitarrista Sacha Got e o teclista Marlon Magnée se tornaram  amigos, durante o secundário. “Não gostámos muito de viver em Biarritz, porque se estás mais vestido à rock’n’roll ou hipster vão pensar que és queer. Portanto, foi difícil crescer lá”, admite Magnée. Então, rumaram até Paris para formar a tão desejada banda. Surgiram os SS Mademoiselle, que não duraram muito tempo (visto que o vocalista da altura só queria ensaiar uma vez por semana), e depois sim, nasceu finalmente os La Femme.


Inspiravam-se e consumiam muito música francesa underground dos anos 60 e synthwave francês – microgénero da música eletrónica, que se baseia predominantemente em filmes, videojogos e desenhos animados dos anos 70. Influenciavam-se quando ouviam grupos como Velvet Underground e Kraftwerk, mas também com artistas como Lou Reed.

Como não eram conhecidos, não tinham onde tocar. Decidiram enviar 50 emails para discotecas a perguntar se estavam disponíveis para que eles fossem lá dar um concerto, no entanto, só obtiveram duas respostas. Foram tocar a um sítio que tinha um palco tão pequeno que o baixista teve de ficar junto do público com o engenheiro de som, ligado à mesa das misturas. Como se já não bastasse, o público chegou atrasado e como eles na altura só tinham oito músicas, quando chegaram ao fim do set tiveram de começar tudo de novo. 

Apesar de todos os contratempos, tiveram uma ideia de génio que mudou completamente a visão que tinham sobre eles, e que, de certo modo, enganou a indústria musical. A banda tinha gravado um EP – La Femme EP – para uma pequena gravadora e decidiram que ir para os Estados Unidos da América os tornaria famosos. Voltaram à saga de enviar emails à procura de espaços para atuarem e desta vez enviaram o dobro (100!):  apenas uma pessoa disse que os conseguia ajudar. 

“Fomos para os EUA com 3 mil dólares cada um e houve uma rapariga que nos conseguiu arranjar 20 concertos. Na França, ao mesmo tempo, estava a ser lançado o nosso EP. Então a indústria estava ´O que é isto? Eles lançaram um EP, estão em digressão pelos EUA e não os conhecemos? ´ Então foi assim que o burburinho começou. Quando voltamos para França, era tapete vermelho para nós.” Magnée

A partir daí foi sempre a subir. Assinaram com a Universal Barclay o álbum de estreia Psycho Tropical Berlin, que alcançou a 33.ª posição em França. Eles estavam a aceitar todas as oportunidades que surgiam: desde fazer o soundtracking de um desfile da Yves Saint Laurent’s até atuar no festival Austin Psych, no Texas. 

Depois de uma década no ativo, a banda francesa conta com seis álbuns, quatro EP’s e inúmeros singles. Continuam a encantar os fãs, através do amplo espectro sonoro, que manuseiam quando criam as suas músicas: misturas entre punk psicadélico e pop rock com toques experimentais. 

Atualmente, juntam-se aos dois fundadores da banda – Sacha Got e Marlon Magnée – Sam Lefèvre 
Noé Delmas, Fanny Luzignant e Ysé Grospiron. 

Dos vários projetos dedicados, há que destacar o Teatro Lúcido – um álbum todo cantado em castelhano e que recebe o nome depois de um teatro na Cidade do México, onde a banda ficava quando viajava para lá, “um teatro muito livre e cheio de atividade”, confirma Magnée. Influenciado, também, pela proximidade de Biarritz a Espanha, este álbum leva-nos a conhecer uma nova versão da banda, muito dedicada à América do Sul, mas sem nunca fugir à sua essência. Canções como Sacatela e No passa nada são inspiradas no clima boémio da noite, “algumas canções foram escritas enquanto andávamos a divertir-nos em bares ou a sair com uma pequena guitarra para tocar pelas ruas”, desvenda Got. São 13 músicas cheias de ritmo e muitas histórias, que a banda decide transformar em música para os nossos ouvidos.

Já em 2023, a banda volta a surpreender os fãs, com um novo álbum: Paris-Hawai. Um projeto mais calmo relativamente à sonoridade, quando comparado com Teatro Lúcido, podendo mesmo considerá-lo como um regresso às origens, indo muito ao encontro do primeiro álbum da banda Psycho Tropical Berlin. Com uma viagem até ao Hawai, a banda francesa apresenta oito músicas mais exóticas e tropicais, que capturam o espírito das ilhas e nos projetam até lá. 
Sacha Got, fundador da banda, pensa nos “La Femme como uma aventura em que exploramos a música num sentido amplo. Já tudo foi feito, rock and roll, electrónica. Então para nós aquilo que é divertido, e onde podemos tentar encontrar algum entusiasmo e originalidade, é juntarmos tudo de uma forma estranha”.

Fonte da capa: JD Fanello

Artigo revisto por Madalena Ribeiro

AUTORIA

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A Mariana, estudante de jornalismo, nunca pensou que a sua vida iria tomar este rumo. Mas, recentemente, descobriu a sua paixão pela escrita e pela comunicação. Aventurou-se na escs magazine para sair da sua zona de conforto e atingir todos os seus objetivos. Curiosa e observadora acredita que este é o lugar certo para ela!