O admirável talento de Rosalía
Rosalía é atualmente uma das mais conceituadas e completas artistas espanholas. Canta, compõe, produz e, simultaneamente, deslumbra os fãs nas suas atuações estrondosas.
“Vocês dão sentido a tudo o que faço, são o melhor que me aconteceu.” Foi assim que, emocionada, Rosalía terminou o último concerto da sua digressão Motomami World Tour, em julho de 2023. Foi em 2017 que o mundo teve a oportunidade de ouvir o primeiro álbum da artista, e desde esse momento que o seu dom para a arte nunca foi contestado.
O talento sempre lhe correu nas veias. Quando era mais nova estava sempre a cantarolar e, aos sete anos, o pai incentivou-a a cantar, enquanto estavam juntos em família. O desfecho da história foi que acabaram todos comovidos pelo que ela tinha acabado de fazer: “não entendi o que havia acontecido, mas soube que podia fazer algo com a música”, revela Rosalía ao El País.
O flamenco é muito associado ao reportório de Rosalía – ela gosta de contar que descobriu o estilo um dia ao sair do colégio enquanto estava com os amigos e, a partir desse momento, mergulhou no mesmo e descobriu as várias referências flamencas. Aos 13 anos, cantava em restaurantes, casamentos e bares sem sistema de amplificação – muitas vezes o que recebia nem dava para pagar o estacionamento. Aos 15, tentou a sua sorte num programa de televisão – sem sucesso – e aos 17 perdeu a voz e teve de realizar uma cirurgia. No entanto, destinada a seguir o som da música, Rosalía recuperou e entrou na Escola Superior de Música da Catalunha. Formou-se e, em 2017, lançou o álbum de estreia Los Ángeles – um álbum completamente diferente daqueles a que os fãs, atualmente, estão habituados. Com este disco de covers, fez uma digressão e começou a ser reconhecida, o que inevitavelmente a ajudou nos projetos que queria realizar no futuro.
EL Mal Querer é definitivamente o álbum que a leva aos quatro cantos do mundo. O mais impressionante é que este projeto foi a sua tese de pós-graduação da Catalunya College of Music, em Barcelona, onde estudou flamenco e produção musical. O álbum segue o enredo do livro Flamenca, um romance anónimo, onde cada música é um capítulo da história. Sendo um trabalho universitário, Rosalía investiu muito dinheiro próprio – sempre com esperança de que tudo iria correr bem. “A minha mãe e a minha irmã, perguntavam-me ‘isso vai dar certo?’”, revela a artista à Billboard. “Havia riscos enormes, não fui contratada como artista e não havia garantias nem orçamento, mas sabia que quem se conectasse com o álbum o iria adorar.” E assim foi. Quando foi lançado, estreou-se em primeiro lugar nos tops de vários países. Hoje, é vencedor de um Grammy e vendeu mais de dois milhões de cópias. Este álbum levou-a à sua primeira digressão mundial: 43 concertos, onde atuou em palcos conceituados como Lollapalooza, Glastonbury, Coachella e Primavera Sound em Barcelona.
A sua voz única e intensa delicia-nos com músicas impressionantes como Malamente (cap 1: augurio), Pienso Em Tu Mirá (cap3: celos) e Bagdad (cap 7: liturgia). São 11 músicas onde a união entre o flamenco pop, o R&B latino e o experimental pop nos levam à revelação do novo furacão da indústria.
Em 2022, com o lançamento de MOTOMAMI, leva-nos noutra direção estilística. Um álbum mais direcionado para o reggaeton, mas também uma nova versão de Rosalía que, até ao momento, era desconhecida: “sempre me considerei uma storyteller. MOTOMAMI é a história mais pessoal que já contei. Na minha cabeça, MOTOMAMI faz sentido como conceito, como uma figura feminina se construindo”. Então, assim é: quase como um autorretrato, quando um artista faz um autorretrato no contexto do mundo moderno. Reinventou-se e trouxe-nos músicas sobre metamorfose, sexualidade, desgosto, celebração e espiritualidade. O álbum está separado em dois segmentos: “moto” é a parte mais divina, experimental e forte do álbum enquanto que “mami” é a vertente mais real, pessoal e vulnerável. Simultaneamente, Rosalía quis que este álbum “fornecesse um contrapeso feminista à misoginia na música”.
Como um G, Delírio de grandeza e Sakura merecem ser realçadas pela sua musicalidade e pelo seu lirismo. No entanto, em todas as 16 músicas que a artista trouxe a público, percebemos que tudo foi pensado ao pormenor. São músicas que podem parecer discordantes e assimétricas, mas que, no seu todo, se interligam perfeitamente.
A artista espanhola também é reconhecida pelas suas colaborações excecionais ao longo dos últimos anos com artistas como J Balvin, Ozuna, Rauw Alejandro, The Weeknd, Travis Scott e Tokischa.
Aos 31 anos, Rosalía é conhecida pela sua inconfundível voz e presença em palco que leva fãs a esgotarem arenas e recintos para poderem presenciar e apreciar uma das deusas da música atual.
Fonte da capa: Greg Swales
Artigo revisto por Maria Beatriz Batalha
AUTORIA
A Mariana, estudante de jornalismo, nunca pensou que a sua vida iria tomar este rumo. Mas, recentemente, descobriu a sua paixão pela escrita e pela comunicação. Aventurou-se na escs magazine para sair da sua zona de conforto e atingir todos os seus objetivos. Curiosa e observadora acredita que este é o lugar certo para ela!