Editorias, Música

A Balada de Tim Bernardes

Os últimos anos de Tim Bernardes são definidos pela consolidação da sua carreira a solo. Em 2024, atravessou novamente o atlântico para deslumbrar o público português com uma pequena digressão intimista. 

É, sem dúvida, já reconhecido por muitos como uma das maiores vozes da nova geração da MPB, que conta com artistas de renome como Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil. Este estilo é, essencialmente, marcado pela renovação da música popular brasileira, trazendo para o panorama atual uma musicalidade moderna aliada a ritmos como o samba, bossa e o pop. Através das letras cativantes e das sonoridades agradáveis, tem vindo a ganhar um lugar no mainstream, podendo ser rotulada como música indie ou alternativa.

O artista paulista desde novo revelou interesse e habilidade para o mundo da música, tendo sido abertamente influenciado pelo pai, Maurício Pereira – ícone da música independente brasileira. Quando era bebé e começou a gatinhar, ia para ao pé do gira-discos e ficava hipnotizado ao ver o vinil rodar. Para o público, estreou-se ao lado de Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile, em 2009, quando criaram O Terno.

No entanto, só lançaram o primeiro álbum – 66 – passados  sete anos, de forma independente. O sucesso foi rápido a chegar e, passados cinco anos, a banda decidiu fazer uma pausa, o que se tornou, para Tim, uma abertura perfeita para pensar na sua carreira a solo. Utilizou as músicas que não se enquadravam com a banda e publicou o seu primeiro trabalho a solo: Recomeçar

Eu ia fazendo as coisas do Terno e esquecia da lista, mas às vezes olhava ela, pensava numa ordem, pensava que poderia começar assim, assado, poderia ter uma abertura, pensava nos arranjos. Ou seja, eu tive muito tempo para pensar neste disco com calma porque não era um foco meu.

Tim Bernardes em entrevista com I Hate Flash

A carreira a solo não ficou por aí e Tim, em 2022, lançou um novo projeto – Mil Coisas Invisíveis, trabalho mais divergente do primogénito. “Quis que o disco contrastasse com o lado mais barroco e de câmara do ‘Recomeçar’. Procurei fazer uma coisa menos melancólica e um pouco mais minimalista, sem medo. Ter os arranjos quando fosse para ter, mas também momentos mais crus. Busquei uma simplicidade mais exuberante”. A chegada à casa dos 30 e os anos em pandemia alargaram-lhe os horizontes em termos artísticos. O passar o tempo é central nesta obra: utiliza questões existenciais e reflexões sobre a inevitabilidade da passagem do tempo, através de músicas que falam sobre acabar com laços antigos, a transição entre as várias fases da vida e a necessidade de seguir em frente: “Presos entre um fim e um recomeço / Ou entre o começo e o fim” (versos da música Meus 26).

Hoje, sozinho em palco, é apenas acompanhado pelo piano, pelas guitarras e por uma combinação de cores fortes (verde e vermelho) que se transformam em pano de fundo, levando-nos automaticamente numa viagem visual que ajuda a dar vida às duas horas de concerto. O artista tem noção do ambiente familiar a que o seu concerto obriga: “a minha ideia é mostrar para as pessoas as canções como eu as compunha, no meu próprio quarto”. 

Quando subiu ao palco do Coliseu do Porto, em janeiro deste ano, foi recebido por uma saudação calorosa do público. Fui uma das muitas pessoas que decidiu ouvir o artista pela primeira vez ao vivo, depois de ler opiniões sobre o quão extraordinário Tim Bernardes é. A verdade é que não desapontou e esteve à altura de todas as aclamações. Foi realmente uma experiência imersiva na qual o artista paulista, de maneira incandescente, nos transportou para as suas alegrias, tristezas e diferentes fases da vida, que, de certo modo, nos aqueciam por dentro. Hipnotizados pelo seu timbre do português do Brasil, saímos todos do auditório com a sensação de que podíamos ter ficado mais outras duas horas a deliciar-nos com as suas harmonias e versos singulares. 

Terminada a passagem por Portugal – que contou com seis concertos por todo o território – seguiram-se vários concertos por algumas cidades da Europa. 

“É quando (o desgosto) ainda está muito vivo que tento pô-lo em canção. Muitas das canções que fiz foi porque já não cabia em mim algo que queria sublimar.”

Tim Bernardes em entrevista ao Expresso

Fonte da capa: Visão

Artigo revisto por Beatriz Santos

AUTORIA

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A Mariana, estudante de jornalismo, nunca pensou que a sua vida iria tomar este rumo. Mas, recentemente, descobriu a sua paixão pela escrita e pela comunicação. Aventurou-se na escs magazine para sair da sua zona de conforto e atingir todos os seus objetivos. Curiosa e observadora acredita que este é o lugar certo para ela!