Opinião

A ignorância, a desinformação e a burrice entram num bar…

“Sou só uma pessoa, não vai fazer a diferença” –  é a frase que ouvimos da boca de quem não acredita que pode mudar o mundo. “Há tantas outras pessoas a fazer como eu, achas mesmo que vai ser isto que vai mudar alguma coisa?” – é aquilo que diz quem não quer alterar a sua atitude e necessita de uma desculpa para o efeito. A típica pessoa que considera que não faz nada de mal, que as suas ações não estão incorretas e, pior ainda, que não prejudicam nada nem ninguém.

Esta mentalidade é inimiga do progresso. Se todos nós fizermos um pequeno ajuste ao nosso comportamento, existe uma maior probabilidade (e olhem que nunca fui boa a matemática) de fazermos a diferença. Quando achamos que somos só mais um, acabamos por ser mesmo só mais um. Numa altura em que o mundo precisa de se adaptar às novas circunstâncias, não somos exceção. Todas as consequências das nossas ações obrigam a que as modifiquemos. O problema é que apenas um ínfimo número de seres humanos realmente dá o passo em frente em direção à mudança.

Faz ainda menos sentido quando os próprios jovens se recusam a reconhecer que estão a ter atitudes que fazem mais mal do que bem. Compreenderia o ceticismo se este partisse de almas antiquadas, às quais a eternidade escapa por entre os dedos das mãos enrugadas. No entanto, o que mais se vê são gerações recentes a virarem a cara à realidade, à urgência de agir e ao que pode acontecer caso se neguem a fazê-lo.

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Fonte: Público

Não estou aqui a apelar a mundos e fundos nem para que se tornem vegan (seria hipócrita da minha parte). Mas percebam que podemos efetivamente revolucionar, de forma drástica, o nosso futuro – basta estarmos abertos a alterações insignificantes no nosso quotidiano. O que é que custa termos sempre dois ou três sacos no carro ou na mala para quando formos às compras? Vale assim tanto a pena dar aqueles dez cêntimos a mais só pela teimosia de não carregar um pesadíssimo saco? Até pode ser de plástico, mas pelo menos não compramos outro, e outro, e mais outro. Esses três sacos podem comprometer mais do que aquilo que imaginamos.

O que não admito é preguiça, má vontade e casmurrice só porque sim. Há que abrir os olhos e entender que somos a força da mudança, mais ninguém vai poder ajudar-nos. Não são as gerações passadas que têm de agir, pois somos nós quem vai ficar com o mundo. So what se temos de abdicar das palhinhas de plástico? Qual é o problema de investir numa garrafa de água reutilizável em vez de uma descartável? Que mal faz não deitar uma beata fora?

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Já está mais que na hora – ainda para mais com todo o conhecimento a que temos acesso – de percebermos que não é fixolas deitar lixo para o chão. Poluir por poluir é meter a corda ao pescoço e deliberadamente chutar o banco. Até quando vamos preservar o nosso orgulho em vez do nosso planeta? De quantos mais alertas vamos necessitar para interiorizarmos que estamos condenados se não tomarmos uma atitude?

Fonte: Revista Galileu – Globo

“Que diferença faz reciclar se depois vai tudo parar ao mesmo sítio?”, pergunta a burrice. “Não é um lixinho que vai fazer a diferença. Se calhar até é biodegradável. Só o trabalho de ir até ao caixote…”, afirma a ignorância. “Há tanta gente a fazer como eu, tanta gente ainda a usufruir do plástico e a não mexer um dedo, porque é que vou ser eu a mudar?”, indigna-se a desinformação.

Certamente não será este artigo a mudar o mundo, disso tenho a certeza. Mas talvez pese na consciência de alguém que sente que não está a fazer tudo o que pode (ou a mínima coisa, sequer) para contribuir para a vida como a conhece. A praia de lixo na costa de Santo Domingo, na República Dominicana, não é uma ilusão. Os habitantes de Pequim que usam diariamente uma máscara graças aos níveis absurdos de poluição do ar não são uma história da Carochinha contada pela avó. Tudo isto é a realidade a que estamos a escolher virar as costas. Até quando?

Revisto por: Ana Patinho

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