A moda como expressão política
O movimento punk
Entre 1970 e 1980, uma revolução cultural entrava em curso. O seu epicentro – o movimento punk – surgiu de uma paisagem de guerra, crises económicas e tensões políticas como a voz inconformada e desafiadora que representava uma geração desiludida com o status quo.
Nos Estados Unidos, as cicatrizes da Guerra do Vietname ainda não tinham sarado por completo quando os conflitos raciais e os movimentos pelos direitos civis dividiram a nação. Na Grã-Bretanha, os mesmos conflitos raciais, além de greves trabalhistas e desemprego em massa, criavam um ambiente de desespero e descontentamento. Foi neste cenário de alienação e desespero que nasceu a música punk – um grito de protesto contra a guerra, a opressão social e o desemprego. Letras polémicas transmitiam mensagens de raiva e frustração, enquanto os acordes distorcidos e pesados criavam a banda sonora de uma geração revolucionária.
Mas o punk não se limitava apenas à música. O visual único daqueles que seguiam o movimento era, por si só, uma forma de expressão política. Roupas rasgadas, alfinetes, cabelos espetados e maquilhagem pesada funcionavam como símbolos de rebeldia e desafio às normas estabelecidas. Eram uma declaração visual contra a conformidade e a comercialização da cultura popular.
Assim, o movimento punk não era apenas sobre música e moda: era também um movimento de resistência e mudança. Muitos punks estavam envolvidos em ativismo político direto, participando em protestos, ocupações e greves que promoviam a conscientização sobre questões sociais e políticas urgentes.
Atualmente, décadas após o seu surgimento, o punk continua a ser uma influência poderosa na cultura e na política. O seu legado de rebeldia, autenticidade e protesto político ressoa em movimentos sociais e ativistas de todo o mundo.
O movimento hippie
No auge da década de 60, face à agitação social e cultural dos Estados Unidos, um movimento emergiu das entranhas da contracultura americana, que viria a desafiar as normas e a redefinir os paradigmas da moda e da sociedade. O movimento hippie, com a sua filosofia de paz, amor e liberdade não só transformou a paisagem cultural da época, como deixou uma herança duradoura que perdura até aos dias de hoje.
A revolução cultural teve início no verão de 1967 (conhecido como “Verão do Amor”), quando milhares de jovens convergiram para Haight-Ashbury, em São Francisco, em busca de uma utopia de liberdade e expressão. Com rendas acessíveis, instituições culturais e universidades progressistas, um cenário político e social bastante ativo, e um ambiente boémio já bastante estabelecido, o distrito californiano tornou-se um refúgio para aqueles que queriam fugir da convenção e explorar um novo estilo de vida.Este período foi o pico do movimento hippie, com o Festival de Monterey a reunir artistas icónicos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who e Otis Redding. Foi um dos Este período foi o pico do movimento hippie, com o Festival de Monterey a reunir artistas icónicos como Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who e Otis Redding. Foi um dos primeiros grandes eventos de música de contracultura e desempenhou um papel importante na popularização da cultura hippie.
A moda hippie, intrinsecamente ligada aos ideais do movimento, refletia uma abordagem completamente diferente em relação ao vestuário daquela que predominava na altura. Roupas largas e com formas amplas, estampas psicadélicas e cores vibrantes eram a imagem de marca deste estilo. Tecidos naturais (como algodão ou linho), muitas vezes trabalhados de forma artesanal, eram preferidos em detrimento dos materiais sintéticos, em consonância com a valorização da simplicidade e da autenticidade.
Os acessórios desempenhavam, também, um papel crucial na expressão da identidade hippie. Colares de contas, pulseiras de couro e coroas de flores não serviam apenas como adereços, mas também como manifestações visíveis dos valores espirituais que assentavam na base do movimento. Os cabelos longos e as barbas compridas simbolizavam a rebeldia contra os padrões de beleza convencionais.
As flappers dos Roaring Twenties
Nos frenéticos anos 20, enquanto a sociedade americana mergulhava numa era de prosperidade económica e mudanças sociais repentinas, um grupo de mulheres ousadas surgiu como ícone da transformação cultural: as flappers. Estas jovens desafiaram as normas sociais da época com a sua atitude rebelde, o seu estilo de vida independente e a sua moda revolucionária.
As flappers personificavam a imagem da mulher moderna e emancipada, rejeitando as restrições tradicionais de género e defendendo a liberdade total do sexo feminino: elas frequentavam bares speakeasy, dançavam alegremente ao som de jazz, fumavam, conduziam e, enquanto isso, provavam ao mundo que eram seres tão competentes e donos de si como os homens.
No que diz respeito à moda, as flappers redefiniram o conceito de feminilidade, inspirando-se em vários elementos do vestuário masculino e optando por vestidos curtos e sem cintura, que permitiam uma maior liberdade de movimento. Estes eram quase sempre adornados com franjas, lantejoulas e outros detalhes ornamentais, refletindo o espírito extravagante dos loucos anos 20.
Além disso, as flappers desafiaram as normas de beleza tradicionais ao optarem por cortes de cabelo à la garçonne, em contraste com os cabelos longos penteados elaborados das décadas anteriores. Esta preferência por cabelos mais curtos simbolizava a liberdade e a independência destas mulheres, que se recusavam a conformar-se com as expetativas tradicionais de feminilidade.
Um destes movimentos de contracultura surgiu como uma expressão revolucionária das aspirações e preocupações da sua época. Do punk polémico aos ideais pacifistas dos hippies, passando pelas flappers ousadas dos anos 20, cada geração deixou sua marca indelével no tecido da sociedade. Uma marca não só estética e artística, como ativista e transformadora – uma reflexão do profundo anseio humano por liberdade, autenticidade e mudança e uma lembrança de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a voz da resistência e da esperança pode ecoar mais alto.
Fonte da foto de capa: Museum of Youth Culture
Artigo revisto por Beatriz Santos
AUTORIA
A sua paixão pela moda começou muito cedo: sempre adorou acompanhar as tendências e inspirar-se em coleções de designers. Um dos seus sonhos (desde que viu pela primeira vez o filme O Diabo Veste Prada) é trabalhar numa revista de moda. Hoje, no 3° ano do curso de Jornalismo, tem a oportunidade de conjugar essa paixão com aquela que tem pela escrita na ESCS Magazine.