Opinião

A romantização do desamor

Caros leitores, este artigo é composto por experiências pessoais, observações atentas ao que me rodeia e hot takes um tanto quanto mal fundamentados (e com os quais poderei não concordar daqui a um mês). Hoje, sinto necessidade de falar sobre a tendência que temos para romantizar a falta de amor nas relações, os amores não tão saudáveis, os grandes amores que já não o são e todas as ações que aceitamos que são influenciadas pela cegueira da paixão.

Começo por dizer-vos que em nenhuma relação a perfeição existe e que todos nós vamos errando e sendo magoados ao longo do tempo. Mas há erros e erros. Há perdões e reconciliações merecidas e há relações que ficaram perdidas e perdidas devem ficar. Não acho que seja necessário perdoar o outro para seguir em frente e acredito que isso é um processo interno que não tem de dizer respeito a mais ninguém, mas acho que muitas vezes nos ajuda a avançar de forma mais leve. No entanto, lembrem-se, só sabe o mal que fez quem tem consciência para analisar isso, e nem toda a gente a tem. 

Acredito que, em geral, crescemos com os amores errados como exemplo e que isso nos vai afetando ao longo da vida. Crescer rodeado de vários casais que não deram certo e tiveram de se separar, casais que insistem em ficar juntos mesmo não funcionando, situações como violência verbal ou física, entre outras possibilidades, podem alterar a forma como vemos o amor e as relações, para pior. Acho que ninguém está livre de se poder separar ou de estar numa relação que deixa de funcionar, mas, se querem a minha opinião, acredito que a geração dos nossos pais era perita em casamentos falhados, porque casavam sempre muito rápido e sem racionalizar o suficiente. O casamento ou os múltiplos casamentos falhados dos vossos pais e pessoas próximas não tem de ser a vossa sina. Uma possível relação disfuncional que presenciaram não tem de ser o vosso destino. Acho que temos de parar de questionar tanto se o amor verdadeiro e duradouro existe e começar a questionar porque é que temos essa dúvida.

Como é de esperar, com as situações que descrevi acima, temos várias noções erradas sobre o amor e acho que o confundimos com coisas que em nada o refletem. Acredito que, principalmente quando somos mais jovens, temos tendência a cair em amores menos saudáveis e acabamos por confundir manipulação e dependência emocional com um amor intenso. Erros normais numa relação em nada envolvem manipular, enganar ou mentir ao outro. A pessoa que o faz não vos ama realmente (como o amor deve ser, quero eu dizer). A pessoa que vos trai ou troca também não vos ama como deveria, ou não vos respeita como deveria. E as pessoas erram, claro está, e podem sempre mudar e evoluir, ainda mais claro está, mas não é vosso dever manterem-se com essa pessoa até que essa evolução aconteça.

Além disso, às vezes questiono-me se é possível amar alguém com quem já não falamos ou vemos com regularidade mas já amámos (aquele ex de há cinco anos, basicamente). E, no meu entender, isso não há de ser amor romântico. É possível amar alguém que já nem conhecemos? Acho que não. Acredito que possamos ter saudades, um carinho e ligação especial e até amor pela pessoa do passado. Já a  do presente não é propriamente conhecida e acho que só amamos mesmo quem conhecemos porque o amor também tem o seu lado racional e amar sem conhecer é puramente emocional. Esse amor pode reativar se se voltarem a cruzar, mas antes disso não existe. 

Depois disto, surge-me o tópico da superação das relações falhadas. Fico assustada quando leio testemunhos de pessoas que demoraram dois ou três anos (ou mais) a ultrapassar relações que duraram menos tempo. Não estou a julgar, só acho que não aguentaria. Na verdade, se calhar só apresso o processo. Acredito que devemos demorar o tempo que for preciso e fazê-lo da forma mais saudável possível. Com isto, quero dizer que irem a mil festas, beberem até cair, rodearem-se de amizades um tanto quanto questionáveis e arranjarem novas pessoas para se distraírem não há de ser o melhor healing process de sempre. Pode ajudar-vos durante algum tempo mas, a longo prazo,  só irá formar uma bola de neve ainda maior e quando isso acabar irão perceber que não valeu a pena. Escolham ter paz e procurem ter um processo saudável de cura dessa relação e do seu fim porque, por muito que custe, vai recompensar.

Acho que faz sentido acabar este artigo dizendo o que o amor é para mim. E, para mim, o amor é, na verdade, um processo lento e demorado. Amar alguém é conhecer alguém e escolher amar esse alguém, gostar de o amar. É não ter de exigir nada e ter o conforto, apoio e compreensão que merecemos. É ter alguém que não sirva de enfeite e que de alguma forma nos melhore, mesmo que isso nos custe (a mudança por vezes é chata). Acho que o amor não é uma montanha-russa, mas é aqueles carrosséis para crianças, sabem? Onde se ouvem muitos risos exagerados, onde os altos e baixos são ligeiros e onde se anda devagar, mas a seu tempo. Acho que tenho uma visão muito romântica e quase mágica do amor, mas, no fundo, prefiro assim. 

Fonte da capa: Unsplash

Artigo revisto por Pedro Filipe Silva

AUTORIA

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A escrita sempre foi um dos seus guilty pleasures. Desde pequena escrevia textos sobre tudo e sobre nada que entregava a alguém que nada conseguia fazer com eles. O seu intuito, com a entrada na revista, é deixar nas mãos de alguém os seus textos e opiniões de qualidade por vezes duvidosa – mas esforçada – e que esse alguém lhes veja utilidade. Nem que estes sejam, apenas, um entretenimento irrelevante porque a irrelevância também nos acrescenta algo.