Opinião

Abracadabra

É um fenómeno extremamente interessante. As pessoas, e talvez também eu, estão coerentemente à espera de que lhes chegue uma fórmula de sucesso. Ouvimos os professores, repugnamos o “chove no molhado”, o “eu já ouvi isto noutra cadeira”, como se as verdades estivessem escondidas e constantemente vedadas, qual poder enraizado e corrupto a impedir-nos de singrar na vida.

“Spoiler alert”: não há verdades absolutas nem pós mágicos de sucesso no mundo dos negócios, ou em qualquer tema da nossa vida caso se estejam a interrogar. Claro que conhecimento é útil e necessário – quanto mais melhor – mas, porque nos forma como pessoas, essa informação aumenta-nos a nossa perspetiva, como se a retina guardasse em si vária camadas de pó, e cada livro, cada interação com pessoas diferentes, permitisse clarear esta visão perpetuamente turva com que vislumbramos o mundo. Esta é a única fórmula que existe ou vai existir. Não nos vão segredar ao ouvido palavras que acarretam a verdade das coisas e que não só as nomeiam, como se houvesse pessoas que carregassem em si a crua e verdadeira essência do mundo, e que esse tal sucesso fosse o fruto desse conhecimento idílico.

Não acontece. Aliás, cada vez se trata mais do recetor do que propriamente de quem fala, pois, se formos a analisar, os ditados populares carregam em si um conhecimento massificado da vida; são verdadeiras fórmulas que nos entregam e às quais não damos valor. Utilizamo-los quando não temos nada a acrescentar – facto inclusivamente associado a falta de intelecto – como se a incapacidade de criar as suas próprias argumentações retóricas resultasse na apropriação desta que é propriedade de todos e de nenhum. Este conhecimento, que se encontra acima do “eu”, num estado de perpetuidade pelos tempos que correram, correm, e irão certamente continuar a correr. Não é verdade. Se realmente desconstruirmos cada ditado popular, iremos descobrir muito mais verdade do que alguma vez supusemos encontrar.

Não há segredos, não há portas secretas, ou cadafalsos, ou salas por detrás de escritórios. Existe simplesmente a tua capacidade de observar, apreender, e – o mais difícil e que define quem atinge esse sucesso que os primeiros almejam acima de tudo –, a capacidade de o executar. É esta a fórmula secreta, pois o conhecimento está em todo o lado, e não se trata apenas de compreender, mas de se apropriar. Estando numa faculdade de comunicação social é bastante visível esta realidade. Estuda-se a comunicação, compreende-se com alguma facilidade os fundamentos desta teia de significados, desta construção fantástica que é o entendimento através do som, dos gestos, de tudo o que nos torna algo mais que apenas humanos. No entanto, torna-nos os melhores comunicadores? Saber todas as teorias faz-nos não ter lapsos de comunicação, não ter mal-entendidos, passar sempre a mensagem quando e como idealizamos? Saímos desta instituição seres comunicacionalmente perfeitos? A resposta é óbvia, e muita gente que nunca estudou comunicação vai certamente dominá-la como nenhum de nós consegue sequer imaginar. Porquê? Porque a dificuldade nunca está nem certamente esteve no conhecimento em si, mas sim na sua aplicação.

No fundo, existe um hiato entre a teoria e a prática, sendo este uma criação puramente humana. É neste lapso que se formam estas fantasias. Porque saber tudo sobre um assunto não é garantia total de sucesso nessa área; depende total e inexoravelmente da capacidade única e exclusivamente individual de vivê-la.

Se almejas alguma coisa, então à tua volta já se encontram todas as informações necessárias para tornar o teu sonho possível. Cabe-te agora perceberes se tens as ferramentas mentais e físicas para o aplicar. Não é à toa que o conselho mais ouvido, entre pessoas que dão palestras e falam sobre temas aos quais é associado inegavelmente sucesso, passa sempre pelo mesmo conceito. Falha. Falha outra vez. Falha melhor. Porque falhar é agir, é preencher esse espaço que existe e tem de ser unido para alcançares os teus sonhos, sejam eles quais forem. É no erro que consegues perceber se realmente tinhas a informação necessária ou não; é sempre à posteriori que o sucesso é alcançado, nunca antes.

Se estás atualmente à espera de encontrar essa fórmula mágica que te vai dizer exatamente o que tens de fazer para alcançar os teus objetivos, então o meu conselho é virares-te para dentro, pois é aí que reside o segredo desse sucesso que tanto procuras.

O João Garrido escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico