Editorias, Opinião

As matilhas

Prezados leitores, antes de mais permitam-me que vos alerte para o facto de neste artigo partir de uma generalização e, por isso, poder ser injusto para alguns. No entanto, já há muito que pretendo escrever sobre este tema e penso não estar errado quanto à generalização que tomo como certa.

A minha geração atua como uma matilha. O principal local de atuação são os facebook’s e afins e o objetivo, na maioria dos casos, é, pela superioridade numérica, fazerem valer as suas ideias custe o que custar. Maioritariamente, o conhecimento que apresentam sobre os mais variados temas é superficial, podendo mesmo, por vezes, ser nulo. Consequentemente, tentam encurtar a discussão para o menor tempo possível servindo-se de chavões e, novamente, da superioridade numérica para provarem a si próprios que têm razão.

Peguemos então em dois “estudos de caso” para verificar a veracidade daquilo que vos digo: o caso Sócrates e os atentados de Paris.

No primeiro não tardaram as reações em massa, fazendo a condenação quando ainda nem sequer a acusação havia sido deduzida e o ex-primeiro ministro estava apenas a ser detido para interrogatório. Quando se lhes falava na presunção de inocência ou tentando, quem sabe, aprofundar um pouco a discussão sobre os prazos de prisão preventiva em Portugal serem bastante superiores à média europeia, a resposta era assertiva a cheia de certeza: “Achas que ele está preso só porque sim?” (chuva de likes nesta gloriosa e histórica afirmação seguida de uma série de comentários de apoio a este estadista em ascensão).

No segundo, não tardou a onda de solidariedade da colocação da bandeira francesa em todas as fotografias de perfil e uma rápida condenação, por vezes sem saber bem o que estavam a condenar, dos atos cometidos na capital francesa. Quando, numa fase ainda ilusória, se tentava discutir as origens do problema e as possíveis soluções, a solução era insultar os islâmicos e mandá-los de volta para o país deles.

O que quero transmitir com este artigo é que a superficialidade e banalidade com que, hoje em dia, se tratam os assuntos em nada ajuda à sua resolução. A História está farta de nos mostrar que a superioridade numérica e os consensos sociais estão longe de ser o melhor critério para avaliar toda e qualquer situação.

(O Duarte Silva escreve com o Novo Acordo Ortográfico)