Editorias, Opinião

Caixa Geral da Transparência

Este artigo é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

“São todos iguais”. Quantos de vocês já ouviram esta frase, seja qual for o contexto? Numa comédia romântica, por exemplo, em que um grupo de mulheres faz uma sobre generalização acerca do sexo masculino? Ou mesmo naquela velha máxima da filosofia de café, “todos iguais, todos diferentes”? Não é, no entanto, nenhum destes contextos dos quais me interessa falar hoje: este “axioma” também é frequentemente usado em referência à esfera política.

Um dos meus ex-professores, Oscar Mascarenhas, alertava para o perigo deste pseudo-dogma: é este o tipo de mentalidade que leva à ascensão de figuras messiânicas ou de potenciais ditaduras. É algo que serve de moderada justificação à atual popularidade de Donald Trump: “ao menos não é mais do mesmo; não é politics as usual.”

É por isto que se torna vital lutarmos contra a relativa verdade subjacente a esta frase. A forma de o fazer, parece-me a mim, pelo menos em teoria, extremamente fácil. Necessitamos de criar uma atmosfera de absoluta transparência. Estas questões ultrapassam as picardias partidárias ou as diferenças ideológicas: esquerda e direita devem estar de mãos dadas no que toca a este assunto. Infelizmente, não é este o caso.

Tome-se como exemplo o novo administrador da Caixa Geral de Depósitos, um homem que alega direitos constitucionais para desculpar a sua não transparência financeira. Aparentemente, esses direitos existem, mas como fica a opinião pública de um indivíduo que teima neste comportamento? Viscosidade, imoralidade e de “gato escondido com o rabo de fora”. Tudo bem que parece haver um consenso parlamentar acerca da necessidade de António Domingues mostrar a sua declaração de rendimentos (é de notar a deliciosa ironia da direita “BANIFianesca” a pedir transparência fiscal). Para mim, no entanto, isto não chega.

Precisamos de um muro (à la Thomas Jefferson, não à la Donald Trump) que separe de uma vez os interesses económicos dos políticos. Chega deste tipo de opacidade económica: é isto que leva à ascensão de um populismo podre.

Para ser absolutamente honesto, nem eu acredito na solução que propus – é excessivamente vaga e simplista: já dizia o jornalista americano H. L. Mencken que para todos os problemas complexos há uma solução clara, simples e completamente errada. Não obstante, a questão mantém-se: de uma forma ou de outra, o sistema político mundial tem de deixar de ser um daqueles chumbos que bloqueiam a visão raio-x do Super-Homem e passar a ser algo mais ao estilo do Casper, o fantasminha brincalhão.

AUTORIA

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João Carrilho é a antítese de uma pessoa sã. Lunático, mas apaixonado, o jovem estudante de Jornalismo nasceu em 1991. Irreverente, frontal e pretensioso, é um consumidor voraz de cultura e um amante de quase todas as áreas do conhecimento humano. A paixão pela escrita levou-o ao estudo do Jornalismo, mas é na área da Sociologia que quer continuar os estudos.