Mundo Académico

Vida dupla – O desafio de conciliar o desporto e os estudos

A conjugação do desporto federado com os estudos universitários é uma tarefa muito desafiante para qualquer jovem que se comprometa com estas duas ocupações. Apesar de algumas medidas tomadas pelo Governo português tentarem privilegiar os atletas de alta competição, são muitos os casos de jovens que abdicam da prática desportiva para se poderem focar nos estudos.  

Gonçalo Assunção não se deixou deitar abaixo pelas adversidades, e atreveu-se a aceitar o desafio de uma vida dupla. Com 21 anos, Gonçalo é atleta de futebol sénior no clube desportivo Os Pelezinhos e treinador de três escalões noutro clube, também situado em Setúbal – o União Futebol Comércio Indústria. Para acrescentar a esta vida desportiva preenchida, o jovem é, também, estudante finalista de Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. O estudante atleta revelou à ESCS Magazine como é que é ter uma “vida dupla”.

Qual é que é o teu principal foco: a faculdade ou o desporto federado?

Tanto um como o outro, ocupam tempo do meu dia-a-dia, mas sem que o desporto se sobreponha à escola. Frequento as aulas, depois vou para casa e faço o que é preciso para a faculdade antes de ir treinar. Normalmente, costumo dar treinos aos miúdos no Comércio Indústria todos os dias entre as 19H15 e as 21H. Terça, quinta e sexta-feira das 21H30 até às 23H vou treinar ao Os Pelezinhos. 

Fonte: Gonçalo Assunção
Fonte: Gonçalo Assunção

Apesar de desejar que o futebol seja o meu futuro, não posso tomá-lo por garantido. Por isso, a faculdade está um degrau acima – é uma coisa que não posso descurar de maneira alguma, por oferecer mais segurança para o futuro.

Imagino que conciliar os estudos com o desporto seja difícil. Como é que encontras motivação para o fazer?

O que mais me custa é a deslocação de transportes. Demoro pouco mais de uma hora para chegar à faculdade – esta é a única desmotivação. Acordo mais cedo e chego a casa mais tarde do que os outros. Ir às aulas em si é bom, pois aproveito para fazer algo produtivo; mesmo que por vezes não preste tanta atenção às aulas, posso adiantar outros trabalhos. Há dias, por exemplo, de chuva e mau tempo em que é difícil sair das aulas e pensar que ainda tenho de ir treinar, mas o que me motiva é o compromisso. Assim que assumo um compromisso, não falho, pois o que mais me motiva é cumprir a minha palavra.

Já pensaste em desistir de uma das opções para te puderes focar a 100% na outra?

Às vezes posso ter de deixar de fazer alguma coisa em prol da outra, mas nunca pensei em desistir de nada. A faculdade, neste momento, é a minha prioridade e o futebol é secundário.

Apesar de a tua agenda ser bastante preenchida, ainda tens tempo para estar com amigos ou fazer outras coisas de que gostes?

Sim. Mas, às vezes, tenho de abdicar de horas de sono. Para além da faculdade e do futebol, trabalho, de vez em quando, como modelo e figurante, faço comédia stand-up e escrevo artigos para a revista da faculdade. Também passo tempo com os meus amigos, mesmo em saídas à noite. 

Cartaz do primeiro espetáculo de Stand-Up de Gonçalo
Fonte: Instagram

Tens a certeza de que queres ser treinador ou jogador profissional? E jornalista?

Nunca tive a ilusão de que me iria tornar jogador profissional, ainda por cima sou baixo de altura para um guarda-redes. Estou a tirar o Grau 1 do curso de treinador – um objetivo para o futuro é seguir esta carreira, embora perceba que também seja difícil. 

Gonçalo Assunção como treinador no União Futebol Comércio Indústria
Fonte: Gonçalo Assunção

Preferia ser jogador ou treinador profissional, mas estudar é a opção mais segura, ou seja, o Jornalismo é o meu plano B. Gostava de ser apresentador de televisão, ator ou, até mesmo, trabalhar na rádio. 

A falta de tempo limita a tua participação nos núcleos da faculdade e nas atividades extracurriculares. Achas que isso prejudica o teu percurso académico?

Só consigo estar num núcleo, a ESCS Magazine, no qual só tenho de escrever um artigo por mês. A participação nos núcleos é, de facto, limitada, mas não acho que isso seja mau. Como sou uma pessoa bastante sociável, consigo conhecer pessoas na faculdade, mesmo sem passar lá muito tempo. 

Apesar das circunstâncias, a tua experiência como estudante universitário corresponde às tuas expectativas? 

No primeiro  ano, as aulas eram em casa devido à COVID-19, então não existia ambiente académico. Já no segundo, tive a possibilidade de conhecer melhor os meus colegas; convivia com eles fora do horário de aulas e comecei a sentir o espírito de turma. Adoro estar na faculdade e ter conhecido pessoas diferentes, mas com a mesma paixão. O tempo limitado não me impede de ir às festas da universidade (aliás, tenho conseguido comparecer em todas), mas, ainda assim, gostava de ter mais convívios, o que nem sempre é possível.

Fonte: Gonçalo Assunção
Fonte: AE ESCS

Tal como Gonçalo, muitos outros jovens atletas sabem o quão difícil é atingir o patamar profissional e, por isso, dão continuidade aos estudos – percecionam a Universidade, não como uma primeira opção, mas como aquela que mais “facilmente” poderá “dar frutos”. Ainda assim, conciliar o amor ao desporto e essa vontade de construir um futuro estável exige muito esforço, paixão e força mental. 

Embora já exista um decreto-lei, aprovado em 2019, que estabeleça direitos para os estudantes atletas de todas as instituições de Ensino Superior, é necessário continuar a motivá-los neste sentido para que possam prosseguir os seus sonhos. 

Fonte da capa: Gonçalo Assunção

Artigo revisto por Andreia Batista

AUTORIA

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Desde cedo, o João desenvolveu uma grande paixão pelo desporto.
Seja dentro de campo ou sentado nas bancadas, este constitui uma grande parte do seu dia a dia. Puder juntar esse gosto ao da escrita é o que ambiciona fazer no futuro, daí ter escolhido licenciar-se em jornalismo. “Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.