Mundo Académico

Jovens trabalhadores – as oportunidades para lá das fronteiras

A falta de oportunidades de trabalho para jovens em Portugal é um problema que ainda tem um forte impacto no nosso país e que motiva os jovens a escolher outros países em detrimento do nosso na procura de emprego, o que poderá trazer muitas dificuldades para Portugal num futuro próximo.

Portugal é o 10.º país da União Europeia com mais jovens estudantes fora do mercado de trabalho, e, segundo um relatório realizado pelo Eurostat, calculou-se que 70% dos jovens (20-34 anos) desempregados em Portugal estão mais dispostos a mudar de cidade ou de país para arranjar trabalho do que a média dos jovens de outros países da UE. Este é um dado bem expressivo das dificuldades que vivemos em Portugal – um valor bem acima da média europeia. 

Inês Cardoso e Francisco Gonçalves são dois exemplos, entre muitos outros, de jovens que se apercebem de que não têm ‘futuro’ no país e que, por isso, procuram deixá-lo para conseguir um trabalho na sua área, assim como um salário que lhes permita criar a vida que desejam, alcançando não só estabilidade financeira como também profissional.

Francisco Gonçalves tem 23 anos e há menos de um mês terminou o seu mestrado em Engenharia Mecânica. Pretende seguir uma carreira na área de Robótica e procura, agora, sair do país e encontrar emprego no estrangeiro. O seu grande objetivo profissional é construir e desenvolver robôs que sejam úteis para poder avançar o estado da Ciência

Inês Cardoso, de 23 anos, é licenciada em Comunicação Social e Cultural na Universidade Católica Portuguesa. Durante a licenciatura fez Erasmus na Bélgica. Terminada a licenciatura, Inês tirou uma pós-graduação em jornalismo e estagiou na Rádio Comercial. Há cerca de um ano, agarrou a oportunidade de participar num projeto na Alemanha, tendo estagiado na Deutsche Welle, uma redação portuguesa para África que fica localizada perto de Colónia. Agora, Inês está de volta a Portugal e trabalha como assessora de imprensa na empresa BrandFire.

São dois casos distintos, com histórias e testemunhos diferentes, mas muito semelhantes no porquê de terem saído do país ou pretenderem fazê-lo. 

A decisão de se deixar o seu país de origem nunca é fácil e envolve muita ponderação por parte dos jovens e das suas famílias.

No caso de Inês, a mudança surgiu por uma vontade de uma “experiência internacional”. Além disso, também queria conhecer outros países: “Já tinha feito Erasmus na licenciatura e desde aí que fiquei com imensa vontade de viver uma experiência semelhante”. Por outro lado, Francisco ainda não foi embora, mas, sem dúvida, quer deixar Portugal para trás e partir para outro país que tenha melhores condições de trabalho na sua área: “Quero construir e desenvolver robôs que sejam úteis para poder avançar o estado da Ciência. Neste momento, isso é mais fácil no estrangeiro.” Francisco afirma também que o seu sonho não poderá ser alcançado no seu país (pelo menos atualmente) pelo facto de em Portugal o foco estar centrado nas aplicações industriais (algo que não aprecia tanto): “Portugal, neste momento, dá prioridade a outras áreas. Pelo menos num futuro próximo, a minha vontade e a de Portugal são incompatíveis. Na minha área, Portugal oferece aplicações industriais – eu não quero trabalhar nisso.” Por outro lado, a questão financeira também tem o seu peso na decisão.

Uma mudança é um processo muito complexo e difícil, ainda para mais se o país de destino for muito diferente do país de origem. No caso de Francisco, o destino poderá passar pelos Estados Unidos da América, países nórdicos ou Países Baixos – sítios completamente diferentes de Portugal e que poderão causar algum “choque”. “Imagino que seja sempre um choque. Em qualquer um deles vou essencialmente começar uma nova vida sozinho.” Além disso, a distância da família e dos amigos é um dos fatores que poderá ter um impacto negativo no processo de mudança. Imaginar-se sozinho, sem companhia (pelo menos nos primeiros tempos) nunca é fácil, e Francisco não foge à regra: “Não consigo habituar-me à falta de pessoas importantes. As saudades vão ser a pior parte…

Por outro lado, Inês Cardoso esteve cinco meses na Alemanha e consegue, agora, fazer um balanço das vantagens e desvantagens da sua experiência, que apresentam semelhanças às expectativas de Francisco. Foram muitas as vantagens encontradas pela jovem de 23 anos, por se tratar de um país considerado “a grande potência económica europeia”, onde o ordenado mínimo é bastante elevado quando comparado com o nosso país. Sem dúvida que as grandes vantagens estão relacionadas com o aspeto financeiro e da qualidade de vida da população, mas há também a apontar algumas coisas menos positivas. O tempo muito frio que se sente na Alemanha, com o céu quase sempre cinzento, é um fator desmotivante. A juntar a isto, as saudades da família e dos amigos foram tantas que se tornou muito difícil estar longe. Outro aspeto que não ajudou foi o facto de muitos alemães não saberem falar outra língua. “Se não falas alemão, torna-se complicado falar com as pessoas”, avisou Inês. Tratando-se de uma língua bastante difícil, a comunicação com outras pessoas foi também muito difícil.

Ainda assim, ambos não descartam a possibilidade de, num futuro mais longínquo, regressar às origens para ‘fazer a vida’. Francisco está decidido a sair do país, mas também tem o objetivo de voltar um dia mais tarde e quem sabe até para trabalhar: “num futuro próximo para início e solidificação da carreira devo ficar pelo estrangeiro, mas o plano é voltar, eventualmente.” Já com a experiência realizada e, atualmente, com um trabalho aqui em Portugal, Inês Cardoso sente-se bem por estar de regresso ao país e à casa dos pais, mas, por outro lado, percebe que esta não é uma ‘solução’ permanente, e, caso assim continue, é necessária uma mudança “mais radical”: “Por agora, que vivo em casa dos meus pais, vou ficar por aqui e aceitar as condições. Mas se não conseguir melhores condições de trabalho nos próximos anos, vou ter de pensar noutra opção.

Com os estudos realizados nos últimos anos, é possível observar que a maioria dos jovens que abandona o país à procura de estabilidade financeira e profissional não pretende voltar tão cedo, e isso é assustador, tendo em conta que estes jovens são o futuro do país. Com tanto dinheiro gasto na sua formação, os jovens não têm retorno do Estado e torna-se desmotivante para a família, assim como para os jovens, que sonham com algo bom no país.

Mas nem sempre isso é verdade, e o caso de Inês prova exatamente isso. É necessário motivar estes jovens a permanecer no país, dando melhores condições aos mesmos. A falta de oportunidades de trabalho, os baixos salários, as incertezas em relação à carreira que terão ou não após o estágio e as rendas altas são alguns fatores que “expulsam” os jovens do país, promovendo assim um envelhecimento da população que não é nada benéfico.

Fonte da capa: viagem europa barato

Artigo revisto por Marta Nobre

AUTORIA

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Desde cedo, o João desenvolveu uma grande paixão pelo desporto.
Seja dentro de campo ou sentado nas bancadas, este constitui uma grande parte do seu dia a dia. Puder juntar esse gosto ao da escrita é o que ambiciona fazer no futuro, daí ter escolhido licenciar-se em jornalismo. “Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.