Cinema e Televisão, Editorias

Deepwater Horizon

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A 20 de abril de 2010, uma explosão na plataforma Deepwater Horizon provocou um derrame de óleo no Golfo do México, tornando-se no maior desastre ambiental dos Estados Unidos. Seis anos depois, o realizador Peter Berg transpôs a história da catástrofe para o grande ecrã, atribuindo-lhe um significado ainda mais dramático num thriller de cortar a respiração.

Apesar disso, Deepwater Horizon transmitiu-me sensações mistas durante a visualização. Sim, expresso-me à partida com uma crítica menos positiva, mas já é meu apanágio. Contudo, à medida que o filme se ia desenrolando, todas as dúvidas que tinha relativamente à qualidade do mesmo foram-se dissipando. Finda a hora e meia, tornaram-se na certeza de que assistira a uma obra rica em ação em que o lado mais emocional da natureza humana foi explorado de modo exímio. Como veem, não sou nenhum Velho do Restelo, portanto podem prosseguir a leitura desta crítica (isto é, se alguém ainda estiver a ler este artigo).

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Começando pelo o lado menos bom, estamos perante um filme que não se desassocia dos já temidos clichés da sétima arte (razão principal por me ter deixado de pé atrás no início), com diálogos fáceis, situações previsíveis e uma premissa saturada já muito explorada noutros filmes de ação/desastre. Todavia, a meio da trama, verifica-se o súbito virar dos acontecimentos, um clique inexplicável (ou talvez não, porque vou explicá-lo já de seguida) que eleva categoricamente Deepwater Horizon. O fantástico elenco composto por, entre outros, Mark Wahlberg, John Malkovich, Kurt Russell e Kate Hudson, partilha uma química imensa, que é especialmente evidente entre os primeiros três e permite uma transmissão genuína dos mil e um sentimentos que pairaram entre os que estavam a bordo da plataforma petrolífera. Esta transposição de vivências e emoções para a audiência atinge o seu zénite com o soberbo one-man show de Wahlberg já na parte final – ele que desempenha o papel do “homem-herói-que-se-sacrifica-por-tudo-e-por-todos”, típico neste tipo de filmes. Ainda assim, a sua performance e o modo como os argumentistas construíram a personagem atribuem uma faceta singular (e muito épica!) ao protagonista salvador.

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Mas para que a narrativa pudesse impactar a audiência do modo como referi, é importante desenvolver uma produção sólida no campo da experiência visual – aquilo que Peter Berg fez brilhantemente. O seu produto final não contempla técnicas disruptivas, todavia, não se restringe aos modelos básicos da realização. Estudando minuciosamente os cenários, Berg escolhe sempre o ângulo indicado para filmar e captar a essência do desespero e drama inerentes ao evento cataclísmico. Consegue espremer esforço e dedicação por parte do já referido elenco e cria um sumo natural de emoções que tornam inevitável uma criação de laços empáticos entre o espetador e os intérpretes. Estes pontos fortes, conjugados, valorizam o filme e acrescento, inclusive, que a escolha dos atores, equipa de produção e realizador revelou-se acertada e permitiu fazer uma inversão de marcha naquilo que poderia ter sido uma imersão (de marcha) rumo ao “é só mais um filme”.

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No geral, Deepwater Horizon pode ser considerado um típico filme de outubro, ou seja, um bom aperitivo para a época quente do cinema. Poderá ser visado pelos críticos proeminentes da sétima arte em janeiro? Só o tempo o dirá. Na minha modesta opinião, é um dos destaques de 2016 até ao momento, pecando pela falta de cinismo para romper com as rotinas e lograr algo mais personalizado e digno de ficar para a história.