Cinema e Televisão

E a menção honrosa vai para…

As escolhas dos nomeados para os Prémios da Academia são alvo de grande debate e escrutínio pelo público em geral. É um marco que celebra as grandes produções realizadas ao longo de 365 dias e que transcenderam em termos cinéfilos e nas temáticas abordadas. É natural que, devido às centenas de filmes produzidos, acabem por existir nomes fora da lista – o que causa frenesim entre intelectuais e/ou meros adeptos da Sétima Arte.
Revendo-me nesse conjunto de indivíduos, e por ter ficado algo surpreendido com algumas das escolhas (não lhes tiro o mérito!), decidi elaborar uma lista de filmes, realizadores e atores/atrizes que ficaram de fora da corrida ao Óscar. É uma espécie de menção honrosa para aqueles cujas fantásticas performances não convenceram o painel de jurados.
Para o ano há mais.

Amy Adams como Louise Banks em Arrival – Melhor Atriz

O filme de Denis Villeneuve venceu um prémio para melhor edição de som e foi nomeado para outros sete. Todavia, não houve espaço para a glamorosa Amy Adams, que desempenhou um papel pivotal para a história, dando vida à linguista Louise Banks. Uma performance fantástica que ditou o ritmo e desenrolar da narrativa, conotando-a de um sentido inigualável e fundamental para conectar todos os pontos soltos do filme. Apesar de tudo, não foi suficiente para lhe garantir mais uma presença na lista de nomeados aos Óscares.

Aaron Taylor-Johnson como Ray Marcus em Nocturnal Animals – Melhor Ator Secundário

Aaron Taylor-Johnson, mais conhecido pelo seu papel de protagonista nos filmes Kick-Ass, desempenhou um dos papéis mais aterrorizadores e eletrizantes do último ano com Ray Marcus, o antagonista de Nocturnal Animals, filme de Tom Ford. Vencedor de um Globo de Ouro e nomeado para um BAFTA, ficou ausente da lista de nomeados para Melhor Ator num papel secundário, onde esteve Michael Shannon, um dos nomes com quem contracenou. A sua inclusão seria merecida e mais tarde ou mais cedo terá a sua oportunidade de figurar entre os melhores do ano.

Annette Bening como Dorothea Fields em 20th Century Women – Melhor Atriz

Talvez um caso não tão clamoroso como os dois acima referidos, mas, pela sua performance como Dorothea Fields num dos filmes mais puros de 2016, Annette Bening merece uma menção honrosa. A experiente atriz já fora nomeada para Melhor Atriz em 2000, pelo seu desempenho em American Beauty, só que, num ano em que imensas estrelas femininas deslumbraram Hollywood, foi muito difícil para Bening encontrar o seu espaço na corrida à estatueta de ouro. Apesar disso, o seu papel não foi ignorado pelos críticos da Sétima Arte, acabando por ser nomeada a vários prémios, ainda que de menor dimensão.

Captain Fantastic – Melhor Argumento Original

Filme independente escrito e realizado por Mike Ross sobre uma família que procura reintegrar-se na sociedade urbana após viver uma década em isolamento na floresta. Uma história rica em emoções que serve, de certo modo, para lançar uma crítica ao capitalismo e ao “American Way of Life”. Consegue prender a audiência graças aos momentos de humor e boa disposição e pelo naturalismo com que retrata o carinho evidenciado pela família. Muito bem construído, recheado de fortes morais com intenção de desencadear diversos pensamentos nos espetadores, seria certamente um dos possíveis indicados ao prémio de Melhor Argumento Original. Fica com uma especial menção.

Sully – Melhor Argumento Adaptado/Melhor Filme

O filme de Clint Eastwood que retratou a aterragem milagrosa do voo 1549 da US Airways pilotado por Chesley Sullenberger esteve nomeado a um Óscar (de Melhor Edição de Som) mas ficou no ar a sensação de que merecia algo mais. A forma não linear como é conduzido o filme permite explorar emoções e sensibilidades do protagonista antes, durante e depois do evento ocorrido em janeiro de 2009. Houve dedo de Eastwood nesse capítulo graças à sua típica exigência, espremendo ao máximo as capacidades do seu elenco, comandado por Tom Hanks. A autencidade da história transcendeu e superou as expetativas da encenação e podia ter figurado perfeitamente na lista de Melhor Argumento Adapto e de Melhor Filme, inclusive.

Nocturnal Animals – Melhor Argumento Adaptado

A forma como duas histórias distintas se entrelaçam, tornando-se numa unidade provida de sentido, caracteriza bem Nocturnal Animals. Por mais diferenças que as histórias principal e secundária tenham, caminham rumo ao mesmo objetivo. Os paralelismos estabelecidos por ambas ajudam o público a esclarecer-se sobre o desfecho da trama, ainda que nos deixe sensações sinistras no ar. Tom Ford fez um excelente trabalho e é seguro afirmar que tem muito para dar nesta sua segunda área de interesse.

Tom Ford – Melhor Realizador em Nocturnal Animals

Tom Ford tem um sentido estético no que toca à realização de filmes. Há algo que transporta do campo da moda para o grande ecrã e que transparece perante os olhos dos espetadores. A cinematografia de Nocturnal Animals é muito boa e a realização é excelente, acrescentando qualidade ao segundo trabalho de Ford, ajudados pela narrativa inteligente e pelo elenco. O modo como o realizador conjugou todos estes aspetos resultando numa história ambígua e eletrizante, provida de estímulos visuais inquietantes, merecia outro tipo de reconhecimento.