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“É uma voz que desconcerta”

Num tecnicamente elegível sexto lugar pelo círculo de Lisboa da CDU, Alma Rivera, 23 anos, pode vir a ser a mais jovem deputada do Parlamento. De piercing no lábio, promete romper com a “ideia feita” de que os comunistas estejam presos no passado

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Alma Rivera, que aproveitou a ida à Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para distribuir alguns folhetos da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) no campus de Benfica do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), chegou sorridente ao estúdio da ESCS FM, onde, em colaboração com a ESCS MAGAZINE, sob o olhar atento do seu “grupo parlamentar”, apresentou não só as ideias que defende, mas também quem é.

Recentemente licenciada em Direito em Coimbra, a jovem açoriana com raízes em Itália envolveu-se na política por causa das lutas estudantis que varreram Portugal em 2010. A escolha pela JCP nada teve a ver com a festa do Avante!, mas antes pela acção da própria associação jovem do Partido Comunista, que está, diz Alma, na luta diária e que defende aquilo em que ela acredita.

Apesar de estar num partido onde apenas 12% dos candidatos a deputados têm menos de 23 anos, Alma rejeita a ideia de que o PCP seja um partido fechado: “é um partido muito jovem, com muita gente nova”. “É uma ideia feita para afastar as pessoas” da proposta comunista. “Como não podem afastá-las pela justeza, pela firmeza delas [próprias], tentam afastá-las por outras razões, artifícios muitas vezes”, completa ainda a jovem candidata. O PCP “é uma voz que desconcerta, que incomoda aqueles que têm vindo a ganhar com as políticas aplicadas”.

No sexto lugar pelo círculo de Lisboa da Coligação Democrática Unitária (CDU), Alma Rivera apresentou as suas ideias para a educação, sobretudo as propostas para a reorganização da rede do Ensino Superior que, entre outras coisas, prevê o fim progressivo das propinas, assim como o desaparecimento da distinção entre ensino politécnico e universitário.

“A educação tem de ser sempre uma prioridade”, diz. Do ensino básico ao superior, Alma defende o ensino totalmente gratuito, em linha com outros sistemas europeus de ensino gratuito. “O Estado tem de ser aliviado mas é dos instrumentos que utiliza para salvar os bancos, não das despesas com a educação”. “O dinheiro investido nos bancos dava para pagar 37 anos de Ensino Superior aos alunos actualmente inscritos”, acrescenta. “Estamos disponíveis para mudar a forma como se encara a política, o poder”.

Também a precariedade e o desemprego jovem e a emigração de perto de 500 mil portugueses, sobretudo jovens, foram tema de análise na entrevista desta tarde na ESCS. A destruição do “aparelho produtivo” e o subaproveitamento dos recursos naturais do país são, para a jovem comunista, duas das razões que mais contribuem para o reduzido número de empregos em Portugal. “Um país não pode viver só do sector terciário”, defende.
A implementação de um Programa Nacional de Combate à Precariedade é outra das metas por que Alma se propõe batalhar na Assembleia da República para acabar, por exemplo, com os contratos não efectivos, alertando para o facto de que tem de ser o Governo a reforçar a fiscalização das condições em que os jovens estão empregados. “O Estado não serve só para promover o mal-estar como temos vindo a assistir nestes últimos anos”.

Estas medidas servem, na sua opinião, para combater também a emigração. “De que servem os programas «vais e vens»? São só demagogia”, diz, ironizando com o programa “Vem”, lançado pelo actual Governo com o objectivo de convencer jovens emigrantes a regressar ao país. “As pessoas ficam se tiverem condições para viver, para estudar, para usufruir da cultura.” Admitindo que já pensou em emigrar, Alma apela para que os jovens leiam o programa eleitoral do PCP para ter uma imagem da “política em geral”.

Apesar da saída de milhares de portugueses todos os anos, a CDU acredita que, mesmo assim, não se pode recusar auxílio a pessoas que “estão a fugir à morte”, enquanto os “problemas de fundo” não são resolvidos. Para Alma, o mesmo “imperialismo” que dificulta a vida dos portugueses é a raiz dos problemas na origem do êxodo de migrantes. Alertando ainda para o facto de o crescimento dos discursos anti-acolhimento poder ter como objectivo “dar mais força à extrema-direita”.

No fim, apelou aos jovens para lutar: “isto não é a única saída, existem alternativas, outras opções que podem ser tomadas”. “Cada um de nós tem de ser agente da mudança, temos de tomar posição”.

Amanhã será a vez de Duarte Pacheco, do PSD, se sentar à conversa com a ESCS FM e a ESCS MAGAZINE.

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