Em Que Estás a Pensar?
Há muitas teses a propósito das redes sociais. Para mim, cada vez são um espaço mais desinteressante. E nem é nenhuma teoria sobre os efeitos que as redes sociais vão ter nas sociedades com o passar do tempo. É mesmo pela razão mais simples: cada vez encontro menos coisas lá que me interessem. A tendência tem sido para que, cada vez mais, sejam espaços que contribuem para a confusão e não para o esclarecimento; para fomentar a aparência e esquecer a essência; para mostrar aos outros que somos melhores e, ao mesmo tempo, invejarmos a vida dos outros; para nos privarmos de ter tempo para nós próprios e para a reflexão.
O Facebook é como uma reunião de condomínio em que toda a gente fala ao mesmo tempo e com a veia do pescoço bem saliente. A única diferença é que a veia do pescoço saliente no Facebook chama-se “Caps Lock” e as conversas não são sobre o facto de o elevador estar avariado. As redes sociais são o sítio onde toda a gente dá lições sobre tudo. É tão polémico um post sobre a detenção do Sócrates como a partilha da notícia das mulheres que pintam os pêlos das axilas de azul – não falta logo quem nos venha dar uma lição de feminismo por fazermos uma piada com o facto de andarem com a Wanda Stuart no sovaco.
Por outro lado, é interessante ver as partilhas que a maioria das pessoas faz. Na volta ao Facebook em partilhas, o sushi e os brunches ganham sem precisar de sprintar à mão de vaca com grão ou à orelha de porco de coentrada. Com o auxílio de um filtro do Instagram, uma tasca pela qual passamos e pensamos que nunca na vida lá comeríamos é um sítio rústico e daqueles que é preciso proteger pois guarda em si memórias de antanho. No fundo, a vida dos outros parece sempre mais interessante quando espreitamos o Instagram. Mesmo que vejamos lá fotos de estrada todos os fins-de-semana e que a pessoa só as tenha publicado precisamente porque estava aborrecida durante a viagem.
Eu imagino um futuro em que as pessoas não se atrasam para os compromissos que têm agendados porque demoraram a escolher a roupa, mas sim porque não encontraram a fotografia de capa que fique bem com a de perfil. Da mesma forma que imagino um futuro onde as pessoas recebem a notificação de um evento falso a dizer que está a ocorrer naquele momento e pensam “fui um bocado parvo”.
AUTORIA
O Francisco Mendes é licenciado em Jornalismo e pauta a sua vida por duas grandes paixões: Benfica e corridas de touros. Encontra o seu lado mais sensível na escrita de poesia, embora se assuma como um amante da ironia e do sarcasmo. Aos 22 anos é um alentejano feliz por viver em Lisboa.