Entrevista a Quintasz, uma das vozes mais promissoras do rap underground tuga
Quintasz é um rapper português, mais precisamente do Alentejo, tem 19 anos e é das vozes mais promissoras atualmente do rap underground português. Começou em 2022 e já conta na sua discografia com um álbum, dois EPs e três singles. Quase dois meses depois do lançamento do seu álbum Survivor, reuni-me com ele por videochamada para tentar saber mais sobre o seu trabalho e sobre o artista por trás das músicas.
Henrique Ferreira (HF): 20 de setembro, Survivor. Primeiro quero te dar os parabéns pelo álbum e dizer-te que estou bastante curioso para ver o que é que tens aí preparado para o futuro. Quanto tempo durou a criação do álbum?
Quintasz (Q): Comecei o projeto há um ano atrás. Fui fazendo sons durante o ano, já tinha na mente fazer um álbum, mesmo sendo underground, mas eu queria mesmo fazer um álbum que marcasse uma cena minha. Demorou um ano a fazer tudo e a encontrar as estéticas que eu queria.
HF: Quando ouço o Survivor, sinto uma grande diferença de vibes entre as músicas. Temos ritmos mais acelerados como a Wip e a Find Me, que fazem grande contraste com a Still Here e a Hollywood, e ainda metes ali uma balada no meio, a Keep Trying. Foi o facto de teres demorado um ano a fazer o álbum que faz com que haja tantas divergências ou sentias-te apenas numa fase de descoberta?
Q: Eu não faço música há muito tempo, então durante esse ano ainda estava mais ou menos a encontrar a minha sonoridade. Eu gosto de experimentar cenas novas e queria um projeto novo totalmente diversificado, então durante esse ano fui testando cenas e acabaram por sair vários estilos diferentes.
HF: Desse ano, e que não estão incluídas no álbum, sobraram faixas?
Q: Sobraram umas duas ou três, ya. Ainda estive a pensar se as incluía no álbum…
HF: Ainda podem ver a luz do dia?
Q: Hummm, duvido…Tenho de ver.
HF: Na criação do álbum, e das tuas músicas em geral, há influência de outros artistas?
Q: As minhas maiores inspirações são o Travis, Matuê e o Kanye, mas em termos de sonoridade sinto que é algo mesmo meu. Não gosto de ir buscar opiniões de ninguém, procuro buscar algo mesmo meu com que me identifique.
HF: A Find Me é a única malha do álbum com videoclip, há alguma razão em específico para ser ela e como foi trabalhar no processo criativo do clip?
Q: Fiz videoclip para a Find Me porque para mim é o som mais comercial. Ainda estive indeciso entre ela e a Keep Trying mas, além de sentir que a Find Me entra em qualquer ouvido, como o som já tem algum tempo, já tínhamos pensado em fazer clip para ela. Em termos de processo criativo fiz com um amigo meu, que por acaso também foi o primeiro dele, e ajudei-o na edição e na visão que queria no clip. Trabalhámos os dois nisto.
HF: Ainda no tema do álbum, o que é Survivor para ti?
Q: Eu só me apercebi que queria esse nome um mês antes de lançar o álbum. A dica do álbum é marcar uma mudança na minha vida, que para mim tem muito significado. Eu decidi escolher o caminho da música e, portanto, o motivo principal deste nome reflete-se em mim, estou a sobreviver com a música.
HF: Se não estivesses a fazer música neste momento, o que te vias a fazer profissionalmente ou a nível escolar? Eu ouvi dizer que aí por casa há um chefe de cozinha, não é uma área que te puxa?
Q: O meu pai cozinha, e muito bem, mas não é a minha cena. Claro que caso ele precise de ajuda eu vou lá estar, mas o meu sonho é poder dar qualquer coisa à minha família e a possibilidade de lhe dar um restaurante era brutal. Ainda estive a tirar gestão em Portimão, mas o meu sonho é mesmo a música.
HF: Vamos regressar ao passado. Tu agora cantas, mas nem sempre foi assim, começaste a fazer beats em 2021. Como é que a produção musical entra na tua vida?
Q: Sinceramente não sei bem. Sempre adorei música e, por essa altura, comecei a interessar-me por fazê-la. Gostava muito de ouvir música e houve ali uma altura em que estava um bocado perdido no que fazer, então meti-me a fazer beats e acabei por curtir bué da cena. Eu ainda produzo, mas já não ando tão focado nisso, consome-me muito tempo.
HF: Um ano depois lanças o teu primeiro som, dICE. De onde surge esta vontade de rimar por cima do beat?
Q: Eu fazia os beats, mas sentia sempre que queria mais. Então o que aconteceu foi que no dia do meu aniversário comprei um microfone e a partir daí comecei a rimar e a fazer sons, e comecei a lançar.
HF: O teu segundo som, TOUCHING THE MOON, tem uma particularidade, é em inglês. Nesta altura sentias que o teu objetivo era um público internacional ou há outro motivo?
Q: Foi um bocado isso e conforto no processo criativo. Queria tentar elevar a minha música ao patamar mais alto possível e, querendo ou não, em português é muito mais complicado. Na altura, como as minhas maiores inspirações rimavam em inglês, as ideias saíam-me em inglês, e, portanto, acabei por experimentar e fiz esse som.
HF: Já em 2023 lançaste a Ascendi e seguidamente o teu primeiro EP, Luz Sombria. Qual é o conceito por detrás dele?
Q: O Luz Sombria não tem um grande conceito. A estética dos sons está lá mas vejo o EP como uma Mixtape, escolhi uns sons, juntei-os e acabei por lançá-los.
HF: No mesmo ano colaboraste com o Don Kapa na música Tsunami, para o álbum dele, que se estendeu para um EP em colaboração com ele. Como surge esta collab com o teu “padrinho”?
Q: O Kapa foi o primeiro artista que viu os meus sons, porque ele é aqui da zona, e eu também já conhecia o trabalho dele. Acabei por ficar meio próximo dele, os sons foram saindo, pensámos que seria fixe lançarmos os dois um EP, e assim aconteceu. Trabalhar com ele foi fixe. Foi o primeiro “gajo” que me conheceu e deu o meu nome a mais gente… Foi uma honra trabalhar com o meu “padrinho”.
HF: Qual foi o momento mais marcante que a música te proporcionou?
Q: Foi quando fui a Punta atuar. Há um ano atrás fui como finalista e este ano fui lá atuar. A sensação de estar no palco é crazy.
HF: 2025 está aí a chegar, já tens algo planeado para o ano?
Q: Já tenho sim, mas agora ‘tou focado em fazer música e em criar cenas diferentes. Tenho uma visão para o ano e vou tentar fazer acontecer.
O álbum Survivor, e o restante trabalho de Quintasz, pode ser ouvido em todas as plataformas digitais.
Fonte da capa: Instagram @quintaszz
Artigo revisto por: Carolina Ferreira
AUTORIA
O Henrique tem 19 anos, é de Lisboa e está agora no seu primeiro ano de licenciatura no curso de Audiovisual e Multimédia. A sua cabeça passa a maioria do tempo no mundo das artes, sendo um apaixonado pela pintura, a música, o cinema e a moda. Com a ESCS Magazine espera partilhar aquilo que mais gosta, informando o público, e sobretudo despertando nele o interesse por estas áreas.