eternal sunshine é o sétimo álbum da cantora, compositora, atriz e, mais recentemente, fundadora e proprietária da marca de beleza r.e.m. beauty. Lançado a 8 de março do ano passado, foi um dos álbuns mais bem sucedidos do último ano e responsável pelo êxito we can’t be friends (wait for your love), que se juntou recentemente à Billions Club do Spotify, lista que junta as músicas que ultrapassam a marca de mil milhões de reproduções.

Com o lançamento e divulgação da tão aguardada nova versão do musical Wicked em filme no fim de 2024, para o qual Ariana Grande passou os últimos quatro anos a preparar-se e a dedicar o seu tempo, surgiram dúvidas sobre a existência de uma versão deluxe de eternal sunshine e se esta acabaria por sair cá para fora.

O conceito de eternal sunshine e brighter days ahead

O título do projeto remete ao icónico filme de Michel Gondry, Eternal Sunshine of the Spotless Mind, também conhecido como Despertar da Mente (2004). O filme, que era o favorito do falecido rapper Mac Miller, ex-namorado de Grande, gira à volta de Joel (representado por Jim Carrey) e Clementine (representada por Kate Winslet), que, após o fim da sua relação amorosa, optam por eliminar as memórias um do outro, através de um procedimento experimental oferecido pela empresa Lacuna Inc.. No entanto, à medida que as lembranças de Clementine começam a desaparecer da memória de Joel, este percebe que ainda a ama e tenta resistir à eliminação dentro da sua própria mente.

Inspirada pelo filme, Grande explora a ideia de querer apagar memórias dolorosas, mas, ao longo de todo o projeto, reconhece que as suas experiências, mesmo as mais angustiantes, são essenciais para a formação da sua identidade pessoal. 

Na faixa-título, Grande canta sobre o conceito central do filme: “Então, eu tento limpar a mente / Apenas para me sentir menos louca / Prefiro não sofrer / Eu preferia esquecer do saber com toda a certeza / Aquilo que poderíamos ter enfrentado atrás desta porta / Então eu fecho-a e sigo em frente”. Mais perto do fim da edição standard, escreve ainda: “Eu rearranjo as minhas memórias / Eu tento reescrever a nossa vida / Mas não importa o quanto eu tento / E não importa o quanto eu quero / E não importa o quão fáceis as coisas poderiam ser se eu o fizesse / E não importa o quão culpada me sinto por dizer isto / Quem me dera odiar-te”.

No videoclipe de we can’t be friends (wait for your love), lançado em conjunto com a versão standard do álbum em março do ano passado, a artista interpreta a personagem Peaches, uma referência direta a Clementine, protagonista do filme. Tal como no filme, Peaches submete-se a um procedimento para apagar as memórias de um relacionamento passado, recriando algumas das cenas mais icónicas do mesmo. 

A história do videoclipe é revisitada na curta-metragem brighter days ahead, realizada e com argumentação de Grande e de Christian Breslauer, responsável também pelos projetos visuais do álbum, como the boy is mine e yes, and?. O filme expande a história de Peaches, agora idosa, que regressa à clínica Brighter Days Inc. para reviver quatro memórias antes de as destruir definitivamente, com referências a peças cinematográficas icónicas como Star Wars, X-Men, Divertidamente, Harry Potter e Frankenstein. Além destas referências, Grande alude também à sua vida pessoal e profissional, utilizando símbolos como sete anéis numa das memórias, referenciando a música 7 rings (2018), um colar em forma de flor, que lembra a estética do álbum Positions (2020) e até a presença dos fãs no fundo de outra memória, uma referência à sua última digressão, a Sweetener World Tour, de 2019.

A curta-metragem

O short-film brighter days ahead explora uma jornada emocional e pessoal da própria artista, que abre o coração e nos apresenta um vislumbre da sua vida. Com uma narrativa que mistura a emoção, a reflexão e a nostalgia, o filme reflete sobre alguns dos momentos mais significativos da sua vida, tanto profissionais quanto pessoais, ao longo de quatro memórias que escolhe revisitar.

A primeira memória remonta à infância, com a lembrança do relacionamento saudável dos pais, enquanto intro (end of the world) toca no fundo, uma canção que reflete as dúvidas sobre o amor. 

A segunda memória aborda a ascensão à fama e a relação forte com os fãs. As canções eternal sunshine e dandelion expressam o dilema emocional de se tornar numa popstar, enquanto exploram a solidão e a procura por uma conexão genuína, ao mesmo tempo que lida com a pressão pública. 

A terceira memória envolve a descoberta de um colar dado pelo seu pai, numa casa destruída, que simboliza o impacto emocional do divórcio dos pais. As canções twilight zone e supernatural, que ilustram o lado sonoro, capturam o distanciamento de Grande do ambiente familiar e o sentimento de ser absorvida por um ciclo emocional que tenta entender e transcender. A sensação de estar presa “noutro mundo” reflete o distanciamento de uma parte do seu passado e da dinâmica familiar. 

Finalmente, a última memória reflete a reconciliação com o seu pai, anos após o divórcio. A canção Hampstead, que a acompanha, simboliza a aceitação e compreensão e a sensação de encontrar a paz com o que foi perdido. Ed Butera, que interpreta o seu próprio papel, representa a figura paterna numa memória de crescimento pessoal e reconciliação familiar.

As seis novas faixas

eternal sunshine deluxe: brighter days ahead adiciona 20 minutos aos 35 do projeto inicial, com seis novas faixas que mergulham ainda mais profundamente no conceito do álbum: uma versão mais completa de intro (end of the world) com um verso adicional, twilight zone, warm, dandelion, past life e Hampstead.

Entre as novidades, twilight zone é a faixa que se destaca e que serve como o novo single. Aqui, a artista explora a confusão emocional e a sensação de estar perdida numa realidade distorcida: “Eu sonhei com tudo isto? / Ou será que fui apenas um pesadelo?”. A música traz o contraste da composição devastadora com uma produção vibrante, que lembra e até serve como continuação de we can’t be friends (wait for your love). No final, Ariana lembra-nos da sua força e declara: “Não é como se eu quisesse mudar alguma coisa / Porque estou aqui, onde deveria estar”.

Com warm, Grande explora a procura por segurança e afeto, que encontrou em Ethan Slater, que atuou ao seu lado em Wicked. A canção começa com uma afirmação de independência, “Eu consigo encontrar o meu caminho, nunca precisei que ninguém

ficasse”, mas reconhece imediatamente a necessidade de calor humano: “Porque eu fico bem / Por minha conta / Mas sinto-me mais quente / Nos teus braços”. A música transmite a sensação de encontrar consolo num amor que, apesar das inseguranças, oferece conforto e estabilidade. A parte mais interessante é o contraste com a metáfora de “exosfera”, onde a artista revela que se sente segura e imune, e o desejo de calor humano, que serve como um reflexo do seu desejo e vulnerabilidade.

dandelion adota uma abordagem mais lúdica e sensual, utilizando a metáfora do dente- de-leão para ilustrar o desejo de entrega e honestidade: “Serei o teu dente-de-leão / Tu podes ter o que quiser / Não vês que eu floresço à noite?”. Já past life é uma faixa introspetiva que aborda a dificuldade de deixar para trás uma relação que já passou e traz a ideia de como o passado ainda assombra e molda o presente, misturando a sensação de arrependimento e libertação com a capacidade de seguir em frente.

A última faixa, Hampstead, traz uma reflexão final sobre a complexidade de ser fiel a si mesma num mundo repleto de expectativas externas, ao ilustrar a transição do final do seu casamento com Dalton Gomez e o início do relacionamento com Ethan Slater.

“Deixei o meu coração num pub em Hampstead” é a frase inicial que dá início a um conto de amor tumultuoso, onde a realidade é muitas vezes distorcida pela visão de outra pessoa — neste caso, os media. A artista questiona as suas escolhas e afirma que, apesar das falhas e da dor, prefere viver intensamente a sucumbir-se à conformidade, podendo confirmar que, mesmo que lhe fosse dada a escolha de submeter ao procedimento de eliminação de memórias que retrata visualmente ao longo do projeto, não o escolheria: “Eu preferiria sentir tudo do que nada”. A música captura a luta interna entre estar vulnerável e proteger o coração, ao mesmo tempo que faz referência a pov, uma dedicação de amor a Gomez, parte do álbum Positions (2020): “Eu prefiro ser vista e estar viva do que estar a morrer pela tua perspectiva”.

Em termos de números e vendas, a versão deluxe tornou-se a terceira maior estreia de um álbum deluxe editado por uma artista feminina no Spotify, com cerca de 37 milhões de reproduções no primeiro dia, ficando apenas atrás de LANA, de SZA, e Short ‘n Sweet, de Sabrina Carpenter. As projeções apontam ainda que o álbum deverá estrear na segunda posição da tabela de vendas americanas, ficando atrás de MUSIC, de Playboy Carti.

Fonte da Capa: Spotify

Artigo revisto por Beatriz Mendonça