Desporto

Futebol: da paixão ao negócio

O futebol, desde sempre, foi um desporto com grande enquadramento das massas. Adeptos que carregam consigo muito mais do que as simples cores do clube, carregam as ideologias que transmitem para os jogadores dentro de campo, porém, por vezes, mais alto do que o cântico dos adeptos soa o barulho do dinheiro nesta indústria tão apaixonante como é o futebol. Será o futebol, hoje, um negócio? Terão os jogadores perdido o “amor à camisola”? Se sim, de quem é a culpa: dirigentes, jogadores ou adeptos?

   O futebol é, nos dias correntes, um negócio. Assistimos a uma profissionalização do mundo futebolístico: contratos astronómicos negociados com jogadores, valores de transferências exorbitantes, marcas que investem em clubes e jogadores e patrocinam-nos, federações que organizam a vida desportiva, etc. O futebol deixou de ser, apenas, um jogo entre vinte e duas pessoas e passou a ser uma indústria.

   Tal como a moeda que o árbitro lança antes do apito inicial, também temos dois lados. Por um lado, a globalização e o investimento neste “mundo desportivo” torna-o mais profissional e aumenta a adesão de adeptos ao redor do globo, o que permite a muitos craques ajudarem as suas famílias financeiramente, por exemplo. Por outro, pode levar ao enriquecimento de empresários e dirigentes que se aproveitam de clubes e jogadores, federações que apenas olham para as questões monetárias em vez de salvaguardarem as “jóias do negócio” (jogadores de futebol) e até mesmo indivíduos que representam clubes sem qualquer tipo de paixão, lealdade, garra e ambição – o amor à camisola – que qualquer jogador de futebol deve ter quando representa um país, uma cidade ou até uma freguesia.

Fonte: FPF

Edinho, jogador do Clube Desportivo Cova da Piedade, antigo jogador do Vitória de Setúbal e internacional português, revelou-me que muitos jogadores profissionais passaram e ainda hoje passam por grandes dificuldades financeiras fruto das consequências da epidemia da Covid-19, não havendo sequer um apoio da Federação Portuguesa de Futebol, que apenas se preocupou em recomeçar o campeonato. O avançado português rematou: “A partir do momento em que o dinheiro está acima do valor humano, deixa de existir amor à camisola” e, apesar de “amar o futebol”, o internacional português acredita que, na generalidade, “o amor à camisola acabou”.

Fonte: Remate Digital

Já Nuno Pinto, jogador e um dos capitães do Vitória de Setúbal, acredita que o futebol ainda é apaixonante, visto que “continua a ser o desporto-rei”, porém, completou: “[o futebol] tornou-se numa indústria… num negócio…”. O jogador português, quando questionado sobre se ainda existe, nos dias correntes, “amor à camisola”, respondeu: “é quase nulo (…) ao analisar os contratos que são pagos pelo mundo fora, deixa de existir muito “o amor à camisola” (…) a nível profissional (…), porque, depois, a nível amador existe”. O defesa central sadino concluiu ainda que, na sua opinião, são os dirigentes e os empresários que têm “estragado o futebol”.

   O dinheiro chega até a originar conflitos dentro de clubes, como foi o caso d’Os Belenenses, que se dividiu em dois clubes diferentes, o Clube de Futebol Os Belenenses, que atua na divisão de honra, e o B SAD, que joga na Primeira Liga. Não há união nem o sentimento de pertença a um mesmo clube, consequência proveniente da industrialização do futebol e dos investimentos que apenas são feitos a pensar no retorno monetário e não na instituição e em tudo o que ela representa para adeptos e jogadores.

   O futebol tem evoluído bastante ao longo dos anos com a sua profissionalização. A adesão das massas potenciou a industrialização do desporto-rei, porém, esses negócios que entretêm o público têm vindo a destruir tudo aquilo que é a paixão futebolística. Já não se vive futebol, mas o que provém dele.

Um especial agradecimento ao Edinho e ao Nuno Pinto por terem disponibilizado o seu tempo para responder a algumas questões.

Artigo revisto por Ana Janeiro