Editorias, Opinião

Ir ao cinema

O Marcos Melo escreve ao abrigo do Antigo Acordo Ortográfico.

O que nos faz ir ao cinema? é a pergunta que dá o mote a este artigo. Dito por outras palavras: o que nos faz sair do bem-bom do nosso lar rumo a um centro comercial ‘à pinha’, para ver um filme?

Ir ao cinema é, acima de tudo, um ritual social. Em casa, facilmente assistimos a um filme sozinhos (de pijama, com o laptop ao nosso colo, enquanto estamos confortavelmente recostados no sofá ou na cama). No cinema, o caso muda de figura – até porque parece mal entrarmos sem companhia (“aquele ali veio sozinho, coitado”, julga alguém, de sussurra). Por fim, não esqueçamos que uma ida ao cinema é, desde há muito, um dos principais argumentos para uma saída de adolescentes.

Perdoem-me mas não resisto a torcer o nariz quando ouço que o cinema é um dos produtos culturais mais consumidos em Portugal. Pergunto: o cinema é cultura ou puro entretenimento? Considerando o contexto português, tendo a arriscar a segunda opção. Não estou a dizer que os filmes comerciais têm menos valor, atenção. Os blockbusters existem e é necessário que assim seja – aliás, são estes que alimentam a indústria cinematográfica e que, de certa forma, financiam as produções independentes. Mas não misturemos alhos com bugalhos. Uma coisa é visualizar um filme enquanto obra de arte cinematográfica (acto cultural), outra é assistir ao típico filme de pipoca (puro entretenimento).

Hoje em dia, com a pirataria, mas também com as opções legais, uma pessoa pensa duas vezes antes de comprar um bilhete de cinema. Bem sabemos que nunca é só o bilhete: é o maldito balde de pipocas, é o refrigerante, é o parquímetro, etc. Para quê, então, ir ao cinema, ‘ter de levar com os outros’, se a opção caseira é mais cómoda e barata?

É de notar o fenómeno dos festivais de cinema, que têm nascido que nem cogumelos – e ainda bem – um pouco por todo o país. Por incrível que possa parecer, a maioria destes certames (pelo menos, os mais mediáticos) está frequentemente esgotada. Explicação? Para além do óbvio (uma programação temática que consegue captar um nicho de público), no meu entender, trata-se de uma questão de moda (dá sempre um ar cool partilharmos uma fotografia com os nossos amigo num festival – quanto mais alternativo for, melhor), e depois, lá está, tal como no caso dos adolescentes, trata-se de um acto de socialização.

Actualmente, impõe-se um desafio: os distribuidores e os programadores de cinema vão ser obrigados a procurar alternativas para levar o verdadeiro cineasta ao cinema (o consumidor comum não precisa de grandes estímulos, para além do rudimentar isco que é o blockbuster). A este propósito, lembro-me de, há uns meses, ter assistido, no UCI Cinemas (El Corte Inglés), ao filme-concerto “Biophilia”, de Björk. Tenho o DVD, pelo que o vejo em casa quando e as vezes que quero. No entanto, não dispensei a experiência de fazê-lo no grande ecrã – e o amante do cinema também não dispensará.

Não há dúvidas de que o cinema é um fenómeno de massas. Quer seja comercial ou de autor, como tudo nesta vida, há filmes para todos os gostos. As pessoas não vão deixar de frequentar as salas de cinema. No entanto, com a oferta disponível que há por aí aos pontapés (mais ou menos ilícita), a indústria cinematográfica tem de conseguir encontrar novas soluções para atrair o público às salas.

AUTORIA

+ artigos

Diz que é o cota da ESCS MAGAZINE. Testemunhou o nascimento do projeto, foi redator na Opinião e, hoje, imagine-se, é editor dessa mesma secção. Recuando no tempo... Diz que chegou à ESCS em 2002, para se licenciar, quatro anos mais tarde, em Audiovisual e Multimédia. Diz que trabalha há nove no Gabinete de Comunicação da ESCS – também é o cota lá do sítio. Diz que também por lá deu uma perninha como professor. Pelo caminho, colecionou duas pós-graduações: uma em Comunicação Audiovisual e Multimédia (2008) e outra em Relações Públicas Estratégicas (2012). Basicamente, vive (n)a ESCS. Por isso, assume-se orgulhosamente escsiano (até ser cota).