Editorias, Literatura

“Nem sabes o que aconteceu!”

Entrevista a Sofia Costa Lima
Fotografia: Pedro Miranda

Quando me encontrei com a Sofia no terceiro piso da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), a chuva não mostrava intenções de abrandar. No entanto, não precisei de rasgar a minha capa para chamar o Verão de São Martinho antes do tempo, uma entrevista bastou. Assim, quando nos levantámos, a Sofia foi para casa ver o jogo do Porto (a sua equipa) sem previsão de aguaceiros.

A Sofia Costa Lima é de Fiães, concelho de Trancoso, tem 20 anos, já publicou dois livros e está a fazer o terceiro ano de jornalismo na ESCS. Falámos sobre os seus primeiros passos na escrita, sobre o processo de publicação e sobre o futuro como escritora.

ESCS MAGAZINE: Escreves para vários sítios, como a ESCS MAGAZINE, um grupo de reanimação da escrita, manténs um blog, tens 2 livros publicados. A escrita é um vício incurável?

Sofia: É mesmo. Provavelmente, o mais saudável que tenho.

ESCS MAGAZINE: Que outros vícios tens?

Sofia: (Risos) Tu já devias saber que eu como Nutella às colheres. Acho que está no meu blog…

ESCS MAGAZINE: Qual é a primeira coisa que te lembras de ter escrito?

Sofia: A primeira coisa que eu escrevi de ficção foi no 7.º ano para uma aula de Estudo Acompanhado. O professor pediu que a gente escrevesse qualquer coisa, sem limite de páginas nem nada disso. Aquilo [que eu escrevi] era baseado na minha vida (risos). Ai… não posso contar. É uma vergonha. Sabes que depois nós tivemos de ler o texto alto e toda a gente percebeu de quem é que eu estava a falar (risos).

ESCS MAGAZINE: Havia um rapaz?

Sofia: Havia um rapaz, uma rapariga e um autocarro.

ESCS MAGAZINE: É daqueles textos nos quais mais tarde se perde o orgulho?
Sofia: Mais ou menos. Tendo em conta que eu nunca tinha escrito nada do género e o que eu percebia de escrita na altura, não é uma coisa que esteja péssima, mas claro que não é aquela coisa que eu queira andar a mostrar a toda a gente.

SONY DSC

ESCS MAGAZINE: Quando é que percebeste que estavas preparada para escrever um livro?

Sofia: O meu primeiro livro foi escrito quando eu tinha 15 anos, ou seja, até ser publicado passaram 3 anos. Devo ter escrito aquilo para aí em dois ou três meses. Ficou na gaveta. Três anos depois, eu reencontrei-o. Comecei a ler e sem programar, conforme ia lendo, comecei a editar coisas, a apontar outras coisas, a ganhar outras ideias e mandei-o para uma editora. Não foi nada muito pensado.

ESCS MAGAZINE: Como é que foi o processo de editar o primeiro livro?

Sofia: Foi mais difícil do que eu pensava. Acabei por aprender várias coisas, nem todas boas.

ESCS MAGAZINE: Ouviste muitos nãos?

Sofia: Nãos e não respostas. [As últimas] foram as piores. Acho que prefiro ouvir um não do que não ter resposta alguma.

ESCS MAGAZINE: Como é que foi ouvir o sim?

Sofia: (Risos) Foi no dia em que eu tirei a carta… Ainda estava muito eufórica e fui ver o mail. Só sei que comecei a rir e a chorar e depois, aos saltos, fui ter com a minha mãe “Ó mãe, ó mãe…”, mas não desenrolava dali. (…) Depois, fui ao chat do Facebook para contar a mais duas ou três pessoas. [Escrevi] com caps lock: “NEM SABES O QUE É QUE ACONTECEU! NEM VAIS ACREDITAR!”.

ESCS MAGAZINE: Na hora da publicação do teu primeiro livro, tiveste medo de que fosse apenas mais um livro?

Sofia: Eu ainda acho que foi mais um livro. Eu sei que isto soa auto depreciativo, mas tendo em conta que todos os dias saem livros… Todos os dias vês uma pessoa qualquer que provavelmente nem sabe escrever propriamente bem e publica livros. Eu acho que o meu primeiro livro foi mais um livro daqueles que veio.

ESCS MAGAZINE: Quais são as principais diferenças entre o primeiro e o segundo livro?

Sofia: O primeiro é totalmente ficção. É um romance no género tradicional. O segundo funciona por cartas e reúne textos que eu tinha publicado no meu blog. (…) Quando vim para a ESCS percebi que tenho falhas de escrita no meu primeiro livro e por isso há uma grande evolução do primeiro para o segundo [livro].

ESCS MAGAZINE: Falaste na ESCS. Estás a fazer o curso de jornalismo por cá. Esta escolha está ligada ao gosto pela escrita?

Sofia: Eu lembro-me de querer ser jornalista desde o sétimo ou oitavo ano, porque os meus professores sempre me disseram “Escreves muito bem, podes ir para jornalista” e eu “okay”. Não pensei mais nisso, mas em Portugal não se vive só de escrita. Então, eu pensei “jornalismo é aquilo que há de mais parecido”.

SONY DSC

ESCS MAGAZINE: Falas muitas vezes nessa tua vontade de dedicar mais tempo à escrita. No futuro vês-te a publicar outro(s) livro(s)?

Sofia: Eu espero que sim. (…) Eu tenho ideia do tipo de livro que quero publicar num futuro relativamente próximo, ou seja, no prazo máximo de cinco anos. Mas não quero fazer o tipo de publicação que tenho feito até agora. É um tipo de livro completamente diferente. Não é ficção, e também não é uma coisa biográfica. É só uma coisa diferente.

ESCS MAGAZINE: Os leitores da Magazine podem saber que coisa diferente é essa?
Sofia: (Risos) Estás a ver um daqueles livros que dão dicas sobre qualquer coisa? Mistura essa parte com o mundo dos blogs e o mundo da escrita propriamente dita, mas não posso dizer mais nada…