Literatura

Livraria Lello: 112 anos de História

Em 2018, a livraria conseguiu superar o seu recorde de vendas desde o dia em que abriu. O turismo e a crescente procura pela cultura são os principais fatores que justificam o aumento das visitas. Com 112 anos de existência, esta é considerada uma das mais belas livrarias da Europa.

A escadaria de madeira, a fachada neogótica que surpreende todos aqueles que por lá passam, o colorido teto de gesso pintado, as prateleiras com livros de A a Z, a longa fila de espera para conseguir entrar e a admiração na cara de todos aqueles que, pela primeira vez, a visitam. Hoje, a livraria Lello é um dos pontos de paragem obrigatórios na Rua das Camerlitas, situada na cidade do Porto.

Inaugurada em 1869, a Lello nasceu na Livraria Internacional de Ernesto Chardron, na Rua dos Clérigos. Em 1894, cerca de 25 anos depois e após uma série de vendas e revendas, a livraria chegou às mãos dos irmãos Lello. Neste mesmo ano, os donos decidiram mudar a localização e, a 13 de janeiro de 1906, foi inaugurada no local onde hoje a conhecemos. O projeto arquitetónico esteve nas mãos do engenheiro Xavier Esteves, bastante reconhecido pelo seu trabalho e com um gosto especial pela literatura.

Fonte: portoalities

O impacto da abertura da livraria Lello na cidade foi estrondoso, principalmente para a vida cultural portuguesa do século XX. Aquando da inauguração oficial, imensos jornalistas fizeram fila para fotografar e conhecer em primeira mão aquela que foi considerada uma das mais bonitas construções europeias do século XX. Para além disto, foram vários os escritores portugueses que estiveram presentes neste dia, dos quais se destacam Guerra Junqueiro (autor de, por exemplo, “Os Simples” e “Pátria”) e Júlio Brandão (autor da célebre obra “Contos Escolhidos”). Num período em que o livro assumia cada vez mais expressão na sociedade portuguesa, a construção da livraria contribuiu para a afirmação cultural de Portugal no espaço europeu.

A variedade literária foi aumentando ao longo do tempo. Contudo, a premissa de venda inicial mantem-se até aos dias de hoje: ter uma maior variedade de livros nacionais, mesmo que traduzidos para outra língua. Em 2018, segundo Aurora Pedro Pinto, presidente da administração da Lello, a livraria tem obras portuguesas que estão traduzidas para quatro ou seis línguas diferentes.

Atualmente, o espaço cultural recebe, em média, quatro mil pessoas por dia. O bilhete diário de entrada custa apenas 5 euros, que podem ser trocados por livros, permitindo, segundo o Diário de Notícias, que chegassem a ser vendidos 2100 exemplares de obras por dia no mês de julho. “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry, é atualmente o livro mais vendido sempre, com novos exemplares a chegar quase todas as semanas. No que diz respeito à literatura nacional vendida, “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, e “Mensagem”, de Fernando Pessoa, são duas das principais escolhas dos leitores.

Quem tem a sorte de viver no Porto e ser amante de literatura passa grande parte do tempo na livraria. Maria de Sousa tem 59 anos e é funcionária de uma pequena loja local, mas, sempre que tem tempo livre, visita a Lello. Os turistas e as intermináveis filas de acesso à livraria são “a parte mais aborrecida”, conta Maria. Para quem tem uma vida agitada, o tempo de espera é demasiado alto e, por isso, as pessoas acabam por desistir. A lojista já chegou a estar uma hora a aguardar a sua vez de entrar porque “a confusão era enorme e havia imensos turistas que irrompiam a fila para fotografar a fachada do edifício”. Quando se verifica os números, é inquestionável a forte presença estrangeira neste local: segundo a mesma publicação do DN, cerca de 27,7% das entradas correspondem a espanhóis, seguidos dos portugueses (10, 18%) e dos franceses, com uma percentagem de 9,18% de entradas.

A livraria Lello é histórica. Para além de homenagear os grandes escritores portugueses com os bustos que tem espalhados pela sala, este espaço é também um símbolo de afirmação de uma cultura extraordinariamente grande num país tão pequeno.

Artigo corrigido por: Ana Roquete