Cinema e Televisão

Love or duty? Young Royals está de volta com a 2.ª temporada

Aclamada tanto pela crítica como pela audiência como uma das séries coming-of-age mais realistas dos últimos tempos, Young Royals não só entrega representatividade LGBTQI+, como também se foca na importância da saúde mental e retrata a vida de adolescentes de 16 anos como ela realmente é. Isto comprova-se até mesmo na escolha dos atores em que, contrariamente a muitos outros trabalhos da Netflix,  a adolescência e a aparência física não são romantizadas de forma irrealista.

Após o inesperado sucesso internacional da primeira temporada da série sueca, o drama e o romance em Hillerska estão de volta. A vencedora dos prémios “Série do Ano” e “Melhor Drama Juvenil” na gala Kristallen não deixa ninguém indiferente à intensidade das emoções que causa.

Aviso: Este artigo contém spoilers de ambas as temporadas!

Ainda que a primeira temporada retrate o percurso frágil e vulnerável dos protagonistas Wilhelm (Edvin Ryding) e Simon (Omar Rudberg) a encontrar amor e conforto um no outro, os entraves à sua felicidade vêm do exterior e são muito maiores do que aquilo que os dois jovens conseguem controlar.

É bastante explícito que o problema do príncipe herdeiro não é a sua sexualidade, mas sim o facto de fazer parte da realeza. Wilhelm tentou de tudo para ter uma vida normal, mas após a morte do seu irmão, Erik (Ivar Forsling), o peso nos seus ombros aumentou, sendo o próximo na linhagem ao trono.

Como se a luta entre amor e dever não fosse suficiente, a temporada termina com o leak de uma sex tape do casal, expondo a sua privacidade e a sua relação secreta a todo o mundo. Contra a sua vontade, o príncipe Wilhelm negou ser ele no vídeo, fazendo com que Simon tivesse de lidar com o escândalo sozinho e decidisse deixar a relação.

Os fãs da série esperaram um ano e meio para conhecer as repercussões de tudo isto e o que viria a seguir à última cena da primeira temporada, uma das mais dolorosas.

Fonte: Netflix

Na nova temporada, todos os personagens estão em estados de espírito diferentes e o ambiente é muito mais pesado.

Wilhelm, completamente destroçado, tenta finalmente ter controlo sob a sua vida e está pronto para a vingança contra August (Malte Gårdinger), o responsável pela filmagem ilegal de um momento íntimo entre “Wilmon”. Vemos Wille muito mais centrado em si  e naquilo que quer, mesmo que tenha de passar por cima dos outros para o conseguir. O ator Edvin Ryding admite que foi complicado para ele digerir o guião da temporada e compreender as ações do seu personagem, mas que, no fim de contas, acabou por perceber que o príncipe herdeiro estava completamente destruído e sem qualquer rumo.  As ameaças à monarquia não ficam para trás, fazendo com que a Rainha (Pernilla August) considere August como um back-up, caso Wilhelm não suba ao trono depois dela.

Simon, por outro lado, tenta ignorar a sua mágoa envolvendo-se com Marcus (Tommy Wättring), um novo personagem que, por vezes, parece forçado e desnecessário na série.

August e Sara (Frida Argento) começam uma relação em segredo que vai causar ainda mais estragos e desilusões. Nesta temporada, a história de Felice (Nikita Uggla) não foi muito explorada a nível individual, focando-se mais na sua amizade com Wilhelm e Sara.

Fonte: Netflix

Há um contraste claro entre os três primeiros episódios e os três últimos, sendo que os primeiros se focam no estado individual das personagens e no seu desenvolvimento. Deixam a audiência com o coração na mão à espera da desejada reconciliação entre o casal protagonista, mas a verdade é que aquilo que vemos é um constante afastamento entre eles.

A partir do episódio 4 as coisas mudam: tanto Wilhelm como Simon começam a ver as coisas do ponto de vista do outro, tornando tudo menos complicado. Percebem que não conseguem estar um sem o outro e começam a jornada do processo revolucionário que será a sua reconciliação. Wilhelm confessa que está disposto a desistir da coroa para ficar com Simon, dando-lhe a prova de confiança que este precisava para se voltar a entregar. Simon chega à conclusão que aceita estar com Wille em segredo, se é isso que é preciso para que a relação funcione.

No final da temporada, o príncipe herdeiro é forçado a dar um discurso no Jubileu dos 120 anos de Hillerska (caso contrário quem o substitui é August, algo que Wilhelm não tolera), mas o conflito que sente dentro de si faz com que mude o rumo do discurso e assuma a sua relação com Simon em frente a todos, algo que nem o próprio Simon esperava. É a primeira vez que Wilhelm se sente livre.

Mais uma vez, Young Royals prova que não é uma série de drama igual a outros títulos mainstream. É uma série juvenil mais pesada do que o costume, carregada de angústia que trespassa para fora do ecrã. Na verdade, é fácil para a audiência sentir qualquer emoção que seja passada pelas personagens. Tal deve-se também à qualidade exímia dos atores, que foram sem dúvida a escolha certa para os respetivos papéis. Custa acreditar que sejam tão novos e tão bons naquilo que fazem, com especial menção para Omar Rudberg, cujo primeiro papel como ator é Simon. A química e a cumplicidade entre esta equipa são dois dos principais aspetos responsáveis pela qualidade deste trabalho.

A série dá também cartas ao outro lado artístico de Omar, a música. Uma das cenas mais tocantes é o solo de Simon na gala de S. Valentim, logo após a primeira cena amorosa do casal desta temporada, com uma música escrita por ele sobre Wille.

É importante também dar crédito a Lisa Ambjörn, a responsável pelo guião e pela escrita incrível dos personagens, que apresentam todos detalhes individuais dignos de serem explorados, e a Rojda Sekersöz, diretora cinematográfica. Todos os pormenores ajudam a criar a atmosfera que faz desta série aquilo que ela é.

No que toca a pontos menos positivos, destaca-se Marcus, que se revela uma personagem manipuladora, por conta da constante insistência numa relação com Simon (coisa para a qual ele não está de todo preparado). Além disso, August e Sara tiveram bastante screentime, fazendo com que o plot de “Wilmon” pareça mais apressado nos últimos episódios. Ainda assim, estes aspetos são necessários para o desenvolvimento da história, visto que há mais plots interessantes a explorar além do casal.

A temporada foi muito bem conseguida e a opinião parece ser consensual, visto que a série entrou para os tops da Netflix em 64 países logo no dia após o seu lançamento.

A pergunta que paira agora é: “Vai haver terceira temporada?” – Até agora não há resposta da Netflix nem de nenhum membro da equipa. Embora o final da segunda temporada seja bastante esclarecedor e impactante, ainda há espaço para mais uma temporada. Depois de tantos conflitos, mentiras e traições, uma terceira temporada seria uma boa aposta para testemunharmos a vida dos protagonistas finalmente a assentar e também para o desenvolvimento pessoal de alguns dos personagens problemáticos.

Fonte da capa: Netflix

Artigo revisto por Joana Gonçalves

AUTORIA

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A Joana encontra-se na junção do perfeccionismo e da ambição. Natural de Beja, sempre quis ter um papel ativo na indústria da música. Mudou-se para Lisboa para estudar Publicidade e Marketing, adaptando os conhecimentos adquiridos à sua área de interesse. Claramente não deixou para trás o seu amor pela escrita, fazendo convergir as duas paixões na secção de música da ESCS Magazine.