Música

Married in a RUSH!- Måneskin

Por maior que seja o público da Eurovisão, é sabido que muitos dos vencedores não têm mais do que os ditos “15 minutos de fama”, acabando por ser quase esquecidos. O caso da banda italiana Måneskin foi diferente. Após a vitória em 2021, com Zitti E Buoni e uma performance completamente avassaladora, os quatro jovens levaram a sua música aos vários cantos do mundo. Dezenas de concertos esgotados, a oportunidade de fazer a abertura em espetáculos dos Rolling Stones, uma colaboração com Iggy Pop e a presença na soundtrack oficial do filme bibliográfico de Elvis Presley são algumas das conquistas mais recentes das estrelas de glam rock.

Após o sucesso mundial e inesperado dos seus trabalhos prévios, Måneskin lançam agora o seu terceiro álbum – RUSH!. Este lançamento foi pensado ao detalhe com a devida excentricidade a que a banda habituou o público. Damiano, Victoria, Thomas e Ethan chegaram ao Palazzo Brancaccio, em Roma, vestidos a preceito para o seu casamento a quatro. No palco, o designer de moda Alessandro Michele oficializou as promessas de lealdade eterna entre os membros da banda, enquanto várias celebridades assistiam na plateia. O evento foi promovido pelo Spotify e é possível ver um pequeno excerto dos acontecimentos aqui:

RUSH! conta com 52 minutos divididos em 17 temas (maioritariamente em inglês). Por ser um trabalho grande, transparece por vezes um tanto de falta de coerência entre os vários momentos do álbum. Vamos então dissecar a obra:

OWN MY MIND faz as honras e é considerada pela banda como “um ponto de encontro entre todos” e uma nova faceta sonora, dado o facto de ser mais “dançável” do que aquilo a que os ouvintes estão habituados.

Tom Morello, dos Rage Against The Machine, é o convidado de excelência para o segundo tema do álbum, o já conhecido single GOSSIP. As lyrics são uma clara crítica à superficialidade da sociedade, à cultura da perfeição e ao “American Dream”, algo com que a banda não se identifica. A intensidade do instrumental da música faz dela uma forte candidata a futuras excelentes atuações ao vivo.

Chega-nos uma power ballad TIMEZONE. O instrumental acompanha os versos de forma consistente ao longo da música e todos os elementos apresentam um crescente desespero aparente. As saudades que sentem da vida quotidiana que tinham antes de todo este entusiasmo frenético à sua volta acabam por desempenhar um papel fundamental na canção.

BLA BLA BLA podia ter sido apenas uma brincadeira de estúdio, mas a verdade é que faz mesmo parte do álbum. Sem grandes novidades nos elementos do instrumental, o tema transpira ironia, desde o primeiro ao último momento. Segundo a banda, o intuito desta peça é ridicularizar certas atitudes, de forma provocativa e irritante. Não será uma música para qualquer ouvinte, mas tem potencial para se tornar um chant ao vivo. 

Segue-se BABY SAID, com várias mudanças de ritmo e os característicos riffs de Thomas, que o tornam em mais um tema dançável. Também FEEL é um dos temas mais groovy do álbum e transmite um ambiente disco.

Os dois temas seguintes são, para mim, grandes pontos fortes de RUSH!.

A imponente bass line de GASOLINE prende qualquer ouvinte logo no primeiro segundo do tema, com uma atmosfera mais pesada face aos anteriores. É um hino antiguerra e a sua intensidade acaba por empoderar a mensagem que pretende transmitir. Embora seja a primeira vez que a versão estúdio é publicada, muitos fãs já conheciam a canção por ter sido tocada ao vivo em vários festivais ainda antes do lançamento do álbum. DON’T WANNA SLEEP tem um contraste óbvio entre as lyrics, que abordam  temas como a solidão, e o instrumental, em completo frenesim.

We’re not punk, we’re not pop, we’re just music freaks!” é aquilo que se ouve na voz de Damiano em KOOL KIDS, mas a verdade é que os Måneskin entraram por um ramo experimental que os levou a conseguir uma sonoridade post-punk que quase poderia ter sido original da scene do UK.

A dissonância ganha lugar na transição de KOOL KIDS para a balada IF NOT FOR YOU, que transportam o ouvinte para realidades completamente distintas. Certamente, uma das maiores qualidades do vocalista da banda é a emoção que consegue transmitir através de sua voz, daí as baladas serem, muitas vezes, as fan favourite dos seus álbuns, e esta não fica para trás. Tem um caráter muito íntimo e conta com uma secção de cordas para embelezar a melodia.  READ YOUR DIARY entrega riffs verdadeiramente característicos do glam rock, tornando o tema irresistível.

À medida que nos aproximamos do final da obra, podemos perceber que o mesmo foi dividido em dois grupos: as tão antecipadas músicas em italiano – língua nativa dos membros da banda – e os singles previamente lançados, que aparecem como que “empurrados” para as últimas três faixas do álbum.

Os temas em italiano são, de facto, grande parte da identidade da banda e aqueles que fizeram mais pessoas admirarem a sua arte. Tanto a crítica como os fãs ansiavam por mais composições neste idioma, mas, ainda assim, parecem bastante satisfeitos com os temas MARK CHAPMAN, LA FINE e IL DONO DELLA VITA. A essência destas três peças é notória a quilómetros.

Após MAMMAMIA e SUPERMODEL, o álbum termina com THE LONELIEST. Este último momento tem a fórmula ideal para ser um hit de rádio e está, mais uma vez, cheio da carga emocional e da vulnerabilidade que Damiano transporta na sua voz.

Chegados ao fim desta viagem, podemos ficar com a sensação de que RUSH! foi feito para chegar aos tops do mainstream e da música mais comercial, mantendo a banda no spotlight, mas sem trazer algo necessariamente inovador. Mesmo que assim seja, a verdade é que a energia é contagiante, e até mesmo as canções que são, num primeiro momento, menos cativantes podem vir a crescer dentro de alguns ouvintes que esperassem algo mais próximo dos trabalhos anteriores de Måneskin. É importante também ter em conta que este álbum dá mais espaço a cada um dos elementos da banda para mostrar aquilo que vale e não mantém o foco apenas no vocalista.

A banda conta com diversos concertos anunciados para 2023, mas até agora nenhum deles tem lugar em Portugal. Resta-nos continuar a aguardar pelo “dia D” e fazer a festa em casa, por enquanto.

Fonte da capa: Pinterest

Artigo revisto por Inês Gomes

AUTORIA

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A Joana encontra-se na junção do perfeccionismo e da ambição. Natural de Beja, sempre quis ter um papel ativo na indústria da música. Mudou-se para Lisboa para estudar Publicidade e Marketing, adaptando os conhecimentos adquiridos à sua área de interesse. Claramente não deixou para trás o seu amor pela escrita, fazendo convergir as duas paixões na secção de música da ESCS Magazine.